Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Karine Joulie Martins (UFSC)

Minicurrículo

    Bacharel em Cinema e Mestre em Educação pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Atua no desenvolvimento de projetos de formação de professores, mediação de cineclubes, além da realização de mostras de cinema voltados para infância, educação e direitos humanos. Atualmente é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Educação da UFSC na linha de Educação e Comunicação, com foco de pesquisa nas imagens produzidas por crianças em contextos de oficinas de cinema.

Ficha do Trabalho

Título

    Infância e cinema: outra perspectiva para o corpo na escola

Seminário

    Cinema e Educação

Resumo

    A dimensão do corpo na escola moderna – modelo que ainda prevalece na escola contemporânea – é fundamental para as discussões de reinvenção da educação. Partindo deste tema, o objetivo da comunicação é pensar as práticas de fruição/produção de cinema na escola como alternativa ao enrijecimento dos corpos na escola. Para tanto, analisaremos algumas imagens produzidas por crianças entre 2016 e 2018 em contextos de pesquisa e extensão em escolas públicas de Florianópolis/SC.

Resumo expandido

    Esta comunicação é uma reflexão inicial que parte de experiências de fruição/produção de cinema na escola pública com crianças em âmbito de pesquisa e extensão. Tem como objetivo nos aproximarmos de uma dimensão central nas discussões de reinvenção da educação na contemporaneidade: o corpo. Partimos do contexto da escola moderna, pautada por valores industriais, sobre a qual se pronuncia Foucault (2007), para chegar ao seguinte questionamento “como o cinema, dentro de uma perspectiva expandida, pode nos ajudar a diluir os enrijecimentos da escola moderna que perduram nos dias atuais?”.

    Conhecer o mundo, para as crianças, tem relação direta com o corpo – em torno do qual se promove o brincar através dos gestos da coleção, da subversão da ordem e da criação de funções para os objetos esquecidos pelos adultos. Como expõe Benjamin (2009), com o brincar as crianças produzem sua cultura e deixam suas marcas no mundo e na história. Sobre o corpo que brinca se dá a ação do adulto nos processos de socialização, imprimindo nele marcas, gestos e valores para transformar a criança em um ser social.

    A escola, um dos principais espaços de socialização, é vista por Masschelein e Simons (2014, p. 105) como uma “intervenção democrática no sentido que cria tempo livre para todos, independentemente de antecedentes ou origem, e por essas razões, instala a igualdade”. O tempo livre é condição necessária para colocar as crianças disponíveis para conhecerem o mundo velho a partir do conteúdo instituído. Porém, as ações pedagógicas pautadas numa dualidade cartesiana entre corpo e mente, impõem limitações e sanções ao tempo livre do corpo na escola. Movimento esse que se estreita especialmente a partir do Ensino Fundamental, quando a estrutura da escola, linear, seriada e fragmentada aproxima-se de parâmetros industriais, exigindo assim o exercício exaustivo da ordem e da disciplina, restringindo o tempo do brincar ao recreio e, eventualmente, às aulas de educação física.

    Numa perspectiva contrária a esse enrijecimento dos corpos das crianças surgem inúmeras propostas que inserem a experiência estética como uma forma de pôr em questão os ordenamentos sociais e estruturais na escola. Como as práticas com fruição/produção de imagens pautadas pela aproximação com cinema, que têm o potencial de resgatar o brincar à medida que dispõe o corpo a sentir a partir do filme, ressignificar o que é visto e propor outra realidade com a produção de uma nova imagem. Tais como o Projeto Inventar com a Diferença: Cinema e Direitos Humanos (MIGLIORIN, 2015), que propõe o encontro com outros sujeitos e espaços na escola e no território frente à câmera ou na própria mobilização em torno dela no pátio da escola, fazendo surgir corpos disponíveis a assumirem seu lugar de experiência.

    Ensaiando caminhos para nossa questão inicial nos aproximaremos de alguns filmes produzidos por crianças dos anos iniciais do Ensino Fundamental entre 2016 e 2018 em contextos de pesquisa e extensão em escolas públicas de Florianópolis/SC. Para além de experimentações audiovisuais, as imagens produzidas por estes corpos “ativados” pelo cinema carregam marcas da singularidade dos seus autores, seus pontos de vista, suas condições de existência, e especialmente um modo diferente de olhar o mundo a partir de uma nova disposição de corpo na escola. Ao mesmo tempo, essas imagens trazem em si o processo de aprendizagem, o seu tempo da apreensão da linguagem enquanto produto. Um processo aberto que convida – especialmente as crianças – a participarem da sua continuidade.

Bibliografia

    ARENDT, H. Entre o passado e o futuro. São Paulo: Perspectiva, 2014.

    BENJAMIN, Walter. Reflexões sobre a criança, o brinquedo e a educação. São Paulo: Livraria Duas Cidades, 2009.

    FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: história da violência nas prisões. 34 ed. Petrópolis: Rio de Janeiro, 2007.

    KOHAN, Walter. A escola, a disciplinarização dos corpos e as práticas pedagógicas. Escola, experiência e verdade. Salto para o Futuro: o corpo na escola, Brasília, DF, v. 18, n. 4, 2008.

    MACIEL, Katia. (Ors.) Transcinemas. Rio de Janeiro: Contra Capa Livraria, 2009.

    MASSCHELEIN, Jan; SIMONS, Maarten. Em defesa da escola: uma questão pública. Belo Horizonte: Autêntica, 2014. Coleção: Experiência e Sentido.

    MICHAUD, Philippe-Alain. Filme: por uma teoria expandida do cinema. Rio de Janeiro: Contraponto Editora, 2014.

    MIGLIORIN, Cezar. Inevitavelmente Cinema: educação, política e mafuá. Rio de Janeiro: Beco do Azougue, 2015.