Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Pedro Peixoto Curi (ESPM)

Minicurrículo

    Doutor pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal Fluminense, onde desenvolveu a pesquisa “À margem da convergência: hábitos de consumo de fãs brasileiros de séries de TV estadunidenses”. Tem graduação em Comunicação Social (Jornalismo) pela UFRJ e mestrado em Comunicação pela UFF. Pesquisa temas relacionados a Televisão, cultura de fãs, cultura jovem e convergência midiática. Atualmente é professor da ESPM-Rio, onde coordena a graduação em Cinema e Audiovisual.

Coautor

    MARCELA DUTRA DE OLIVEIRA SOALHEIRO CRUZ (PUC-Rio)

Ficha do Trabalho

Título

    Não é feitiçaria, é sinergia: a eterna juventude de Sabrina

Resumo

    Protagonista de mais de cem HQs, três filmes e cinco séries em quase sessenta anos, Sabrina, a bruxa adolescente, é um exemplo de sinergia do mercado de entretenimento para o público jovem e, a cada nova aparição, atualiza e complexifica sua narrativa. A partir de “O mundo sombrio de Sabrina”, produzida pela Netflix, este trabalho lança um olhar sobre o universo da personagem, a relação entre suas múltiplas manifestações e o diálogo que estabelece com a cultura pop, seu público e a realidade.

Resumo expandido

    Nos início dos anos 1960, a Archie Comics apresentou Sabrina na edição 22 da revista Archie’s Mad House. A bruxinha que mora com as tias e descobre seus poderes aos 16 anos conquistou os leitores e continuou a aparecer nas páginas da publicação, até que, em 1971, ganhou sua própria série em HQ, Sabrina, a bruxa adolescente. Nas décadas seguintes, ela protagonizou três filmes, uma série de TV com sete temporadas e três séries de animação, até que, em 2014, voltou a aparecer nas revistinhas da Archie Comics. Mais uma vez, o público ficou encantado e o universo ganhou uma outra série de HQs, O mundo sombrio de Sabrina, que demonstrava um desejo de amadurecer e atualizar a narrativa da bruxinha adolescente. Em 2018, essa nova versão de Sabrina ganhou uma adaptação audiovisual, uma ficção seriada em streaming para o Netflix, com referências narrativas e estéticas particulares.
    Desde sua apresentação até os dias de hoje, a história de Sabrina e seu gato preto caminha por múltiplas versões, adaptações e apropriações, múltiplas linguagens e plataformas midiáticas, acumula referências, estabelece novos vínculos com diferentes gerações de fãs e ganha, a cada nova manifestação, outros contornos, complexificando debates e atualizando a bruxinha conhecida há quase 60 anos.
    A prática de veicular um produto de entretenimento através de múltiplas mídias, para explorar melhor diferentes mercados, destaca uma estratégia importante para a indústria cultural no fim do século XX: a sinergia. Nos anos 1990, os produtos voltados para o público jovem eram uma mistura complexa de diferentes mídias, incluindo filmes, programas de televisão e clipes musicais. Certamente, a cultura jovem já se caracterizava pela associação de diferentes textos, por números musicais de artistas consagrados que eram televisionados e depois integravam trilhas sonoras, e até por personalidades e ídolos juvenis que apareciam em diferentes produtos audiovisuais desde a década de 1950 (Davis e Dickinson, 2004).
    Sunaina Maira e Elisabeth Soep (2005) caracterizam os jovens como o principal alvo da indústria do entretenimento e colocam no centro da globalização. Baseando-se mais em uma posição social estruturada por poderes de consumo, criatividade e cidadania do que na idade biológica, apresentam a juventude como um lugar de conflito ideológico que evoca questões relacionadas ao poder em contextos locais, nacionais e globais.
    Mesmo quando os jovens não tinham participação nos rumos da sociedade, a juventude já possuía um caráter de espírito do tempo, que aos poucos se converteu em novos hábitos e comportamentos. De um grupo marcado pelos papéis sociais que eram esperados dele por um mundo adulto, os jovens passaram também a difundir gostos, ideias e formas de conduta para indivíduos de outras idades. O papel da cultura massiva foi fundamental nesse processo (Enne, 2010).
    A longevidade deste universo midiático é sintomático das relações entre os produtos da cultura massiva e o anseios do público jovem. Sabrina mantém-se alicerçada no repertório narrativo do texto fonte enquanto constrói interlocuções com as referências do contexto adaptativo através de dinâmicas que se desenham em um movimento espiralado de manutenções, trocas e atualizações (Soalheiro, 2014).
    O texto fonte, que tinha certas linhas narrativas e certas questões estéticas, através do processo apropriativo na geração de uma nova obra midiática, é repensado para o novo contexto histórico social, se integrando a debates que são, agora, caros. Desta forma, como processo mercadológico, aliando dinâmicas de produção e recepção, estes novos textos se inserem em debates contemporâneos que interessam seu público alvo, atualizando-os.
    Neste artigo, tomamos o universo da personagem Sabrina e suas múltiplas manifestações ao longo de quase seis décadas, como ponto de partida para pensar diferentes adaptações e apropriações em contextos sócio-políticos diversos, assim como a sobreposição e acúmulo de referências na Cultura Pop.

Bibliografia

    DAVIS, G.; DICKINSON, K. (orgs.). Teen TV: Genre, Consumption, Identity. London: BFI, 2004.
    ENNE, A. L.. “Juventude como espírito do tempo, faixa etária e estilo de vida: processos constitutivos de uma categoria-chave da modernidade”. Comunicação, Mídia e Consumo. Revista do PPDCOM-ESPM. Vol. 7, n° 20, p. 13-35. São Paulo: ESPM, 2010.
    MAINGUENEAU, D.. O contexto da obra literária: enunciação, escritor sociedade. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
    MAIRA, S. e SOEP, E. (orgs.). Youthscapes: the popular, the national, the global. Philadelphia: University of Pennsylvania Press, 2005.
    MITTEL, J.. Television and American Culture. Nova York: Oxford University Press, 2010.
    ROSS, S. M.; STEIN L. E. (orgs.). Teen Television: Essays on Programming and Fandom. Jefferson, Mc Farland & Company, 2008.
    SANDERS, J.. Adaptation and Appropriation. Nova Iorque: Routhledge, 2006
    SOALHEIRO,M.. Jane Austen é pop: o papel do leitor e do espectador na AustenMania. Dissertação de mestrado. PPGCOM-UFF, 2014.