Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Patricia Moran Fernandes (ECA/USP)

Minicurrículo

    Doutora em Comunicação e Semiótica, professora na ECA/USP. Pesquisa Performances Audiovisuais em tempo real tendo organizado livros e eventos sobre o tema. Dirigiu diversos curtas narrativos, não-narrativos, documentários e vídeos exibidos e premiados em diversos festivais. Entre 2014 e 2018 dirigiu o CINUSP Paulo Emílio coordenando a edição de onze entre eles Machinima (2011) e Harun Farocki. Programando o visível (2017) organizadora de ambos.

Ficha do Trabalho

Título

    Presença e mediação nas instalações Cinema Extrapolado e Demolição

Seminário

    Interseções Cinema e Arte

Resumo

    A presença além de associada ao sensível, ao não-sentido e à participação do corpo, reivindica a performatividade e a materialidade do meio. Nesta apresentação discutiremos a instalação do VJ Spetto Cinema Extrapolado e de Luiz Duva Demolição e Preto sobre Preto em sua existência partir de uma ativação corporal do espectador. Elas ativam materialidade de ordem distinta, se fazendo em presença na oscilação entre ritmos, cores e volumes de sons. Do sensível ao excesso de codificação como presença

Resumo expandido

    Gilberto Icle, um dos editores da Revista Estudos de Presença , entende a presença como um movimento, como a possibilidade de se minorar a relevância do significado em práticas performativas do ator (pg.10). Yvana Fechine em sua pesquisa sobre o jornalismo, sublinha o debate da semiótica e fenomenologia sobre a presença, ressaltando a prevalência da dimensão sensível da existência e em certa medida, a presença como “um primeiro modo de existência do sentido” (pg. 90). Para Philipe-Alain Michaud o cinema experimental ao se emancipar do cinema narrativo, coloca-se como arte da presença (pg. 25). Conforme Gumbrecht, “uma coisa presente deve ser tangível por mãos humanas — o que implica, inversamente, que pode ter impacto imediato em corpos humanos”.
    A presença além de associada ao sensível, ao não-sentido e à participação do corpo, reivindica a performatividade e a materialidade do meio. Ou seja, a performance se dá a partir de relações com o mundo, dotadas de forma e matéria. Nas artes do corpo como o teatro, em eventos jornalísticos supostamente calcados em dados insofismáveis e em filmes abstratos, como os mencionados por Michaud, prevalece a presença, a irradiação da matéria criando oscilações entre significação e afecção, uma imagem ou situação entre, da qual é difícil se afirmar ‘é’ isto, no geral pode ser, está em devir. Considerando a presença um dos poucos aspectos comuns à performance em ampla acepção, propomos analisa-la como um modo de ser da imagem, como um modo de ser do dispositivo audiovisual em instalações e performances.
    A instalação do VJ Spetto Cinema Extrapolado e de Luiz Duva Demolição e Preto sobre Preto existem apenas a partir de uma ativação corporal do espectador. Elas ativam materialidade de ordem distinta, se fazendo em presença na oscilação entre ritmos, cores e volumes de sons e informações tão codificados, que deixam de existir enquanto sentido, prevalecendo em seu aspecto formal, como o cineasta Glauber Rocha na instalação de Spetto. Estas obras definem um lugar ativo para o espectador, demandando outra relação com a obra. Não pensamos apenas na ativação rítmica e nos repertórios demandados, tampouco na exigência de fisicalidade de relação com a técnica para dela assim dela se ultrapassar e jogar com a fragilidade de um sentido estável e a riqueza de formas que ao se metamorfosear no tempo, foge da designação certeira almejada pela representação.
    Demolição e Cinema Extrapolado existem com o público, dividem com ele a autoria ao lhe propiciar a experimentação do lugar do VJ. Os realizadores à época exploravam as pistas de dança, desenvolviam um trabalho cujo sentido era de segunda ordem, prevalecia a performance levada a curso pelo público. A presença desloca, anula e/ou sobre-codifica lugares indicados e reconhecidos das imagens utilizadas pelos realizadores. Se conforme Gumbretch defende, há uma oscilação entre dados de presença e sentido em certas práticas artísticas, nestes trabalhos o significado, os sentidos expressos nas imagens são esgarçados pelas intensidades acionadas na execução das obras, pela valorização e consciência do valor do significante material explorados como materialidade e como representação por Duva e Spetto.

Bibliografia

    Auslander, Philip. Liveness. 2008. Performance in a mediatized culture. 2nd edition.
    Routledge. London and NewYork.

    Fechine, Yvana. 2008. Televisão e presença. Uma abordagem semiótica da transmissão direta. São Paulo, Estação das Letras e Cores.

    Icle, Gilberto. “Estudos da Presença: prolegômenos para a pesquisa das práticas performativas”
    Rev. Bras. Estud. Presença vol.1 no.1 Porto Alegre jan./jun. 2011

    Gumbretch, Hans Ulrich. 1998. Modernização dos Sentidos. São Paulo: Ed. 34.

    Gumbretch, Hans Ulrich. 2010. Produção de presença. O que o sentido não pode transmitir. RJ: Contraponto: Ed. PUC-Rio.

    Michaud, Philipe-Alain. 2014. Filme: por uma teoria expandida do cinema. RJ: contraponto.

    Nancy, Jean-Luc. 1994. The Birth to Presence. Stanford: Stanford University Press.

    Santaella, Lucia. 2003. Culturas e artes do pós-humano: da cultura das mídias à cibercultura. SP: Paulus.

    Spielmann, Yvonne. 2008. Vídeo. The reflexive médium. Cambridge/London, MIT Press.