Ficha do Proponente
Proponente
- Maria Teresa Ferreira Bastos (UFRJ)
Minicurrículo
- Professora da Escola de Comunicação da UFRJ, onde leciona na graduação, é Coordenadora e integra o corpo docente da pós-graduação em Artes da Cena. É também professora do Programa de Pós-graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes da UFRJ. Doutora em Letras/Estudos de Literatura pela Puc-Rio, com estágio de doutorado na área de fotografia na ECHESS de Paris. Pós-doutorado em Comunicação e Cultura pela ECO/UFRJ. Pesquisadora de Fotografia e tem publicações abordando principalmente os tem
Ficha do Trabalho
Título
- Pausa, espaço e encenação na construção da imagem de dança
Seminário
- Interseções Cinema e Arte
Resumo
- O objetivo desta comunicação é refletir sobre questões caras à fotografia contemporânea, a partir do trabalho de produção de imagens – fixas, em movimento, amadoras e profissionais – do grupo de dança paulista Pausa, que desde 2014 vem desenvolvendo o projeto “O que vemos quando olhamos dança?” e que conta com a liderança da bailarina Beth Bastos em parceria com a americana Lisa Nelson. Intenciona-se refletir sobre a imagem no diálogo em que se projeta o olhar do espectador e sua imaginação
Resumo expandido
- Diante do “empobrecimento da experiência e da visão” descrito por Jonathan Crary (2016) em 24/7, iniciativas artísticas que instiguem a percepção dos sentidos, da imaginação e do corpo tornam-se objetos importantes de afirmação não só de uma escolha artística, mas de uma posição política. O objetivo desta comunicação é refletir sobre questões caras à fotografia contemporânea, a partir do trabalho de produção de imagens – fixas, em movimento, amadoras e profissionais – do grupo de dança paulista “Pausa”, que desde 2014 vem desenvolvendo o projeto “O que vemos quando olhamos dança?” e que conta com a liderança da bailarina Beth Bastos em parceria com a americana Lisa Nelson. Em tempos de aceleração e excessos, ditados pelas pressões econômicas e sociais cada vez mais agudas, a pesquisa se propõe à escuta do corpo, antes de qualquer movimento virtuoso. Aposta-se na pausa, na lentidão, na delicadeza e no silêncio para produzir atritos insuspeitos, deslocar olhares e sensações, que abranjam, inclusive o espectador. O processo de trabalho do grupo se reflete nas imagens apreendidas tanto pelo fotógrafo, ligado ao coletivo, quanto pelo espectador que tem participado ativamente da iniciativa. Torna-se importante observar no trabalho do grupo, como que o lançar-se para fora do palco italiano expressa na história recente das artes cênicas o desejo por uma arte que vá além da representação, da mímesis, e passa a ser também afetação de corpos, risco, provocação, atravessamento, encontro, imagem. A americana Lisa Nelson faz parte da geração de pensadores de improvisação dos anos 70 nos Estados Unidos que criaram o movimento na Judson church. Reinventar o corpo e criar uma nova sintaxe para o movimento era a proposta destes artistas. Considerada uma provocadora da percepção, instiga a imaginação e os sentidos a compor e a construir gestos, ações, relações, pausas e imagens. Sua pesquisa transita entre a dança, o vídeo e a performance, numa investigação delicada das relações entre percepção sensorial, movimento e espaço, tendo desenvolvido, a partir da intersecção entre o vídeo e a dança, um material próprio para construir improvisos e performances, a que chamou “tuning scores” – “partituras de sintonização” – que produzem “composições espontâneas” em dança, na fronteira com a performance.Trata-se de uma série de estímulos sensoriais, de ações e de interações, inspiradas na edição de vídeo e executadas tanto de olhos abertos como fechados, nas quais a criação acontece durante a própria execução das partituras, num improviso sujeito ao que ela chama de “edição em tempo real”, onde o condutor da cena pode sugerir aos improvisadores ações como “pausa”, “reverso”, “repete”, “realocar” e “continua”. Essa modulação da composição em tempo real, a partir de intervenções elementares na relação tempo-espaço, permitem dar a ver como nossa sensibilidade física se transforma em movimento, o diálogo interno que ocorre entre o improvisador e seus sentidos na criação dos gestos. Espaço de diálogo em que se projeta o olhar do espectador e sua imaginação. Intenciona-se refletir e perceber ainda, a partir da ideia de cena expandida em que as artes se relacionam, interagem e vivem umas nas outras ( Ranciere, 2015), o quanto do domínio da visualidade é apreendido pela dança e como o resultado desta composição pode ser percebido e apontado nas imagens localizadas no cenário contemporâneo da encenação e ficção.
Bibliografia
- BOURRIAUD, Nicolas. Estética relacional. Tradução: Denise Batman. São Paulo: Martins, 2009.
CRARY, Jonathan. 24/7: capitalismo tardio e os fins do sono. São Paulo: UBU, 2016.
DELEUZE, Gilles. Conversações. Rio de Janeiro: Editora 34, 1992.
____. A Imagem Tempo. São Paulo: Brasiliense, 2009.
GUMBRECHT, Hans Ulrich. Produção de Presença. Rio de Janeiro: Contraponto : Ed. PUCRio, 2010.
LISSOVSKY, Mauricio. A Máquina de Esperar. Rio de Janeiro: Mauad X, 2008.
MACIEL, Kátia. “Narrativas Interativas: o sujeito participador”. In: Katia Maciel (org.), Transcinemas. Rio de Janeiro: Editora Contra Capa, 2009.