Ficha do Proponente
Proponente
- Laís Serra (UFRJ)
Minicurrículo
- Mestranda em Artes da Cena, graduada em Design de Moda, PUC-RJ (2012), e master em Marketing e comunicação de Moda, IED Barcelona – Espanha, (2014). Estuda atualmente a Poética do Espaço (BACHELARD) dos filmes As Virgens Suicidas (1999) e Maria Antonieta (2006), ambos de Sofia Coppola. Busca com esta pesquisa, estudar o imaginário intertextual na obra desta cineasta através do cunho estético, primordialmente vinculado a Direção de Arte.
Ficha do Trabalho
Título
- Interseções entre Cinema e Pintura em Maria Antonieta de Sofia Coppola
Resumo
- A cena fílmica de Maria Antonieta de Sofia Coppola se faz em dialética com obras pictóricas, ocorrendo primordialmente em três formas: a pintura clássica dentro do espaço diegético enquanto elemento da cenografia; a pintura enquanto cena, quando o quadro fílmico incorpora a estética pictórica de uma obra canônica; e a reapropriação de uma pintura canônica conforme os moldes estéticos do universo fictício do filme em questão, este disposto, enquanto objeto cênico.
Resumo expandido
- No filme Maria Antonieta (2006) de Sofia Coppola identificamos práticas de interseção com outras linguagens artísticas, como a música, o videoclipe, e especialmente a pintura, a qual daremos enfoque neste trabalho. A cena de Maria Antonieta se faz em dialética com obras pictóricas, ocorrendo primordialmente em três formas: a pintura clássica dentro do espaço diegético enquanto elemento da cenografia; a pintura enquanto cena, quando o quadro fílmico incorpora a estética pictórica de uma obra canônica; e a reapropriação de uma pintura canônica conforme os moldes estéticos do universo fictício do filme em questão, este disposto, enquanto objeto cênico.
Uma vez que o filme visa reiterar a figura da rainha francesa em um contexto contemporâneo, estas apropriações estéticas constituem uma forte estratégia de visualidade. Embora haja múltiplos artifícios que irão executar este anacronismo entre o século XVIII e a atualidade – como por exemplo a palheta cromática e o famoso “tênis all-star” no chão do palácio -, neste artigo, nos voltaremos para a relação entre o “quadro fílmico” e “quadro pictórico”. Podemos perceber que pintura, uma imagem estética que auxiliou a conformar o imaginário da corte francesa e de Maria Antonieta, se transforma perante à reapropriação da mídia cinema, e conforma uma nova imagem e estética. Nesta interlocução entre as pinturas e a cena filmica, o próprio imaginário hibrido da cena artística comtemporânea se faz presente, e disponibiliza materiais para analises reflexivas de cunho teórico.
Logo, bem como apontado por Edgar Morin, podemos dizer que “num certo sentido tudo gira em torno da imagem, porque a imagem não é apenas o entroncamento entre o real e o imaginário, é o ato constitutivo e simultâneo do real e do imaginário.” (MORIN, 2014: 14). Pois entendemos então que nesta dinâmica entre essas “telas”, as pinturas clássicas enquanto elemento da cenográfia corroboram para construir a atmosfera da cena e a subjetividade dos personagens diegéticos; as pinturas enquanto própria cena, tem a sua aura (BENJAMIN) impressa neste quadro cinematografico, hibridizando-se com o filme, e formulando uma nova esfera de sensibilidade para esta imagem; e, as pinturas que foram reapropriadas e exibem esta “nova imagem” da rainha Maria Antonieta – conforme a estética da ficção e com rosto da atriz Kirsten Dunst – representam justamente a relação do espaço nos quais estes quadros hibridos se introduzem.
Ademais, nestas interseções os artíficos destes campos artísticos se vinculam e se misturam, como o uso da cor, a impressão de movimento, o estilo, os figurinos, a composição do quadro, dentre outros, possibilitando tensionamentos reflexivos sobre os novos modos de produção de uma imagem e seus efeitos. Michel Maffesoli diz: “Não é a imagem que produz o imaginário, mas o contrário. A existência de um imaginário determina a existência de conjuntos de imagens. A imagem não é o suporte, mas o resultado.” (MAFFESOLI, 2001: 76). Deste modo, confiamos que a cena cinematográfica de Sofia Coppola exprime esta “aura” do imaginário da cena artística contemporânea. Seus filmes, embora presentes em circuitos comerciais, contém uma poética de extrema sensibilidade e constantes interlocuções das artes enquanto própria base constitutiva do filme. Ademais, seu enfoque de criação recai sobre o quesito visual, em “contar histórias visualmente”, o que disponilibiza obras um olhar de desdobramentos relativos as artes visuais enquanto dispositivo cinematográfico.
Bibliografia
- AUMONT, Jacques. O olho interminável; Cinema e Pintura. 2o Edição. São Paulo: Cosac Naify, 2011.
AUMONT, Jacques. et. al. A Estética do Filme. 9o Edição. São Paulo: Papirus Editora, 2017.
MAFFESOLI, Michel. O imaginário é uma realidade. Revista FAMECOS, Porto Alegre, no 15, pág. 74-86, agosto 2001. Entrevista concedida a Juremir Machado da Silva, em Paris, 20/03/2001.
MORIN, Edgar. O Cinema ou o Homem Imaginário; ensaio de Antropologia Sociológica. São Paulo: É Realizações, 2014.
STAM, Robert. Introdução à teoria do cinema. 5a Edição. São Paulo: Papirus Editora, 2014.
MARIA Antonieta. Direção de Sofia Coppola. EUA, França: Pricel, Tohokushinsha Film Corporation, American Zoetrope, Pathé, 2006. (123 min.), son., color.