Ficha do Proponente
Proponente
- Renata Rogowski Pozzo (UDESC)
Minicurrículo
- Geógrafa, Doutora em Geografia (UFSC, 2015) com a tese “Uma Geografia do Cinema Brasileiro: bloqueios continentais, contradições internas”. É professora do curso de Arquitetura e Urbanismo e do Programa de Pós-graduação em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Socioambiental na UDESC, onde atua no laboratório ARTEMIS – Teorias, Memórias e Histórias. É vinculada ao Grupo de Estudos e Pesquisas Antonio Gramsci, na Universidade Federal de Santa Catarina.
Ficha do Trabalho
Título
- DESTINOS DA MEMÓRIA: SALAS DE CINEMA DE RUA DE SANTA CATARINA
Seminário
- Exibição cinematográfica, espectatorialidades e artes da projeção no Brasil
Resumo
- A proposta de comunicação apresenta os resultados do estudo desenvolvido por pesquisadores do Laboratório “ARTEMIS – Teorias, Memórias e Histórias da Udesc” intitulado “O corpo espacial do cinema” em diálogo com a temática do encontro: “Preservação e memória hoje”. Aprofundamos os questionamentos sobre os descaminhos da memória em relação às salas de cinema de rua de Santa Catarina e seus valores materiais e imateriais, apresentando as 164 salas identificadas, seu histórico e usos atuais.
Resumo expandido
- As projeções cinematográficas teceram uma verdadeira geografia das sociabilidades nos centros urbanos de Santa Catarina do século XX. A nova paisagem urbana na qual tem lugar a vida moderna começa a se formar nas cidades com maior relevância comercial (Florianópolis, Lages, Laguna, Blumenau) na passagem do século XIX para o XX e, nas demais, ao longo da primeira metade do século passado. Nesta nova paisagem, as salas de cinema são pontos focais, pois expressam uma combinação completa dos atributos da modernidade. Tendo o cinema chegado ao estado pelas mãos dos ambulantes, as primeiras salas fixas foram instaladas em 1900 em espaços não exlusivos ao cinema (clubes, sociedades recreativas etc.). As salas especialmente construídas para o cinema aparecem a partir da década de 1930. Seguindo as fontes que alimentaram nossa pesquisa (principalmente arquivos públicos e pessoais) encontramos registro de 164 salas de cinema de rua no estado. O surgimento temporal das salas se dá em paralelo ao desenvolvimento econômico das regiões. Inicialmente, há um investimento nas cidades litorâneas em que há maior densidade populacional e capital baseado no comércio. Mais tarde, os cinemas começam a aparecer em polos com base industrial, como Joinville, e, por último, a modernidade do cinema adentra o estado e populariza-se na economia agropecuária do planalto e do oeste catarinense. Este processo resultou na configuração atual das salas, em que as cidades polo de cada região possuem maior número e uma maior variedade arquitetônica dos espaços. A arquitetura dos ambientes foi uma ferramenta utilizada para demarcar com clareza o público-alvo desejado pelo cinema. Como efeito das maiores cidades possuírem um maior contingente populacional, era nelas também que apareceram as maiores salas, edificações imponentes que demarcavam a importância da sétima arte nestes núcleos urbanos. Neste aspecto, tem destaque o Art Déco, que existia tanto em sua forma mais autêntica, bem como expressa por meio de detalhes e estilemas. No cenário catarinense são poucas as salas de rua que resistiram ao tempo e continuam exercendo a função pela qual nasceram. Esses espaços, que antes eram um símbolo da modernidade nas cidades, começam a entrar em declínio a partir dos anos 1970. Desta forma, as salas de cinema de rua de Santa Catarina permanecem no meio do campo de disputas que se observa nas cidades. De um modo geral, o cenário em Santa Catarina é de uma descaracterização das salas em virtude de suas funções transfiguradas a novas exigências. Há uma predominância de adaptações com a finalidade comercial, além do institucional, como é o caso das igrejas. As que não sofreram este processo foram demolidas e relegadas ao esquecimento ou em situações excepcionais estão preservadas e protegidas como patrimônio histórico. Tem-se então uma contradição em relação a esses espaços: a importância destas salas na vida dos centros urbanos e na construção de uma arquitetura simbólica é sobreposta a um silêncio em relação a esse passado, suscitando a criação de lacunas na história urbana das cidades e uma perda de memórias individuais e coletivas. Frente a isso, dar um destino digno a essas memórias significa também preservar o patrimônio edificado atrelado a elas, assim como adequar os usos destas salas para funções que respeitem o espaço construído. Uma opção é reestabelecer o funcionamento da sala como um espaço de exibição de filmes ou programações culturais, como é o caso do Cine Teatro Mussi, de Laguna. Além disso, é necessário um olhar das esferas municipais, estaduais e federais sobre este patrimônio. O tombamento como patrimônio histórico possibilita uma maior preservação destes espaços. Exemplos disto são evidenciados em Joinville, em que o cinema Cine Palácio foi tombado como patrimônio histórico pelo município, e São Bento do Sul, em que o Cine Brasil foi tombado como patrimônio histórico pelo estado e atualmente funciona como centro cultural.
Bibliografia
- Arquivos Públicos e Pessoais
BERMAN, Marshall. Tudo que é sólido desmancha no ar. SP: Companhia das Letras, 2007.
CHARNEY, Leo; SCHWARTZ, Vanessa R. O cinema e a invenção da vida moderna. São Paulo: Cosac Naify, 2004.
PESAVENTO, Sandra Jatahy. Cidade, espaço e tempo: reflexões sobre a memória e o patrimônio urbano. Cadernos do Lepaarq (UFPEL), Pelotas, v.2, n. 4, pp.9-17, ago/dez 2005.
POZZO, Renata Rogowski. O cinema na cidade: uma cartografia das antigas salas de cinema de rua de Laguna – SC. Florianópolis: DIOESC, 2016.
ULPIANO, T. Bezerra de Meneses. A história, cativa da memória? Para um mapeamento da memória no campo das Ciências Sociais. Revista IEB, São Paulo, v.34, pp.9-24, 1992.
VIANA, Alice de Oliveira. A persistência dos rastros: manifestações do Art Déco na arquitetura de Florianópolis. Florianópolis: Editora da UDESC, 2008.