Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Flavio Kactuz (Flávio C. P. de Brito) (PUC.Rio)

Minicurrículo

    Historiador, professor, ator e diretor de teatro e cinema. Doutorando em Estudos de Cinema / Arte (Universidade de Coimbra, em curso). Mestre em Cinema / Comunicação Social (PUC-RIO, 2010); Graduado em História (PUC-RIO, 2001). Graduado em teatro (CAL, 1984). Desde 2010 é docente do Curso de Extensão da PUC-Rio para moradores de favelas do Rio de Janeiro e do Curso Regular de Cinema, responsável pelas disciplinas de Direção, História do Cinema Mundial II e III, e Introdução ao Cinema.

Ficha do Trabalho

Título

    Do Teatro ao Cinema de Poesia – Segundo Movimento

Seminário

    Teoria dos Cineastas

Resumo

    Este trabalho se propõe a dar continuidade a uma provável genealogia do conceito de Cinema de Poesia, observando o quanto este conceito esteve de uma certa forma conectado com teorias e práticas teatrais, desde suas origens nas primeiras décadas do século XX, sobretudo na crítica a uma encenação naturalista e na busca por outra noção daquilo que até então se compreendia como interpretação, instigando notáveis desdobramentos na cena instaurada no Teatro e no Cinema entre as décadas de 1940 e 1970

Resumo expandido

    Assim como ocorreu na aurora do século XX, quando entrava em cena o encenador e o cinegrafista dava lugar ao cineasta, quando a cena passou a se organizar noutra ordem, num perceptível entrecruzamento de teorias e práticas desenvolvidas no Teatro e no Cinema, sobretudo na crítica a uma encenação naturalista e na busca por outra noção daquilo que até então se compreendia como interpretação, outro movimento de interseção e contestação se fez igualmente relevante a partir da década de 1940 até meados dos anos 1970, quando encenadores e cineastas se fizeram presentes na elaboração de uma cena poética, assinalando um evidente contraponto, reelaborando conceitos e, num certo sentido, dando continuidade ao que havia sido interrompido na década anterior, marcada pela ascensão e consagração dos regimes totalitaristas bem como o apogeu do cinema clássico norte-americano. Esta abrupta interrupção, gerada através de perseguições, censuras, prisões e até fuzilamentos ocasionou um considerável e contínuo deslocamento dos países europeus para os Estados Unidos, apesar de lá ainda viverem sob a tutela do Código Hays. Mas foi pra lá que se transferiu Maya Deren (1917–1961), nascida na Ucrânia, cujas obras pioneiras instigaram jovens cineastas como Kenneth Anger (1927), Stan Brakhage (1933–2003), Gregory J. Markopoulos (1928–1992), Marie Menken (1909–1970), Shirley Clarke (1919–1997) e Jonas Mekas (1922–2019), inaugurando o New American Cinema, cujo manifesto propunha um cinema “cor de sangue” em consonância às Novas Ondas que floresciam na velha Europa, na América Latina e Ásia. Uma geração marcada pelas ideias de Antonin Artaud (1896-1948) e Bertold Brecht (1898-1956), elaboradas ao longo de toda efervescência criadora das vanguardas anteriores, mas que encontraram maior repercussão e ressonância no pós-guerra, contaminando sensivelmente o teatro de Julian Beck (1925-1985) e Judith Malina (1926-2015) tanto quanto o de Joseph Chaikin (1935-2003), Peter Brook (1925), Jerzy Grotowski (1933-1999), Ariane Mnouchkine (1939), José Celso Martinez Correa (1937), Augusto Boal (1931-2009) e Eugenio Barba (1936), protagonistas das novas práticas teatrais dos anos 1960, assim como também deixou sua marca nos filmes de Jean-Luc Godard (1930), Pier Paolo Pasolini (1922-1975), Rainer Werner Fassbinder (1945–1982), Jean-Marie Straub (1933), Glauber Rocha (1939-1981) entre outros expoentes das Novas Cinematografias que floresceram nesse mesmo recorte temporal. Como se tudo isso fosse ainda pouco, o mesmo território norte-americano presenciou o enorme vigor, a contundência e a desmesurada amplitude do conceito de “performance”, embaralhando definitivamente as interdisciplinaridades artísticas e abrangendo os campos da linguística, da sociologia e antropologia, numa ainda mais ousada redefinição sobre o significado de atuação, muito mais vertiginoso e radical do que no movimento anterior, seja no teatro, no cinema, nas artes plásticas e até mesmo na vida comportamental.

Bibliografia

    ARTAUD, Antonin. O Teatro e seu duplo. São Paulo: Max Limonad, 1984. BRECHT, Bertolt – Estudos sobre Teatro Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1978. CARLSON, Marvin. Performance. Uma introdução crítica. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2009. MARINIS, Marco El Nuevo Teatro, 1947-1970. Barcelona: Paidós, 1987. PAVIS, Patrice. Dicionário da Performance e do Teatro Contemporâneo. São Paulo: Perspectiva, 2017. Pier Paolo Pasolini: Per il cinema. Milano: Arnoldo Mondadori, 2001. SITNEY, P. Adams. Visionary film: The American Avant-Garde, 1943-2000. New York: Oxford University Press, 2002______________ The Cinema of Poetry. New York: Oxford University Press, 2015. TRIVELLI, Anita. Sulle trace di Maya Deren: Il cinema come progetto e aventura. Torino: Lindau, 2003. XAVIER, I. (Org.). A experiência do cinema. Rio de Janeiro: Graal, 1983.