Ficha do Proponente
Proponente
- James Zortéa Gomes (UNISINOS)
Minicurrículo
- Doutorando em Poéticas Visuais pelo Programa de Pós Graduação em Artes Visuais do Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFRGS; Mestre pelo mesmo programa. Atualmente é professor dos Cursos de Realização Audiovisual (CRAV), Design e Jogos Digitais na Universidade do Vale dos Sinos – UNISINOS, também atua nos cursos de Comunicação da ULBRA-RS. Diretor e sócio-fundador da Osso filmes.
Ficha do Trabalho
Título
- O movimento por camadas: animetismos de Miyazaki e Wesley Rodrigues
Resumo
- As articulações gráficas entre camadas no tempo determinam uma estreita relação com a visualidade fílmica que observamos em animações tradicionais. O célebre Hayao Miyazaki e o animador brasileiro Wesley Rodrigues apresentam filmes onde as visualidades que operam a partir de um animestismo (LAMARRE, 2009) entre camadas gráficas. Thomas Lamarre propõe que esses movimentos gráficos entre as camadas, presentes em animes, criam uma sensação de movimento distinto do cinematismo de EISENSTEIN (1990)
Resumo expandido
- O cultivo de um campo parte de ações que transformam uma superfície, tal qual um desenho sobre uma folha de papel. As articulações gráficas entre camadas no tempo determinam uma estreita relação com a visualidade fílmica que observamos em animações tradicionais. O célebre Miyazaki e o animador brasileiro Wesley Rodrigues apresentam em seus filmes visualidades que operam a partir de um requintado movimento entre camadas gráficas.
Logo, cabe apontar que Thomas Lamarre propõe que esses movimentos gráficos entre as camadas, tão recorrentes nas animações tradicionais, criam uma sensação de movimento distinto da câmera cinematográfica, que o autor caracteriza de animestismo (LAMARRE, 2009). Se o cinematismo de EISENSTEIN (1990) parte da potencialidade de explorar o movimento em profundidade perspectiva, para LAMARRE (2009, p. 7) “o animetismo não se trata de movimento em profundidade, mas de movimento sobre e entre superfícies.”
Nesse sentido, cabe uma reflexão sobre o termo camada, estreitando relações com as plasticidades das realizações artísticas de Miyazaki e Wesley Rodrigues. No intuito de aproximar questões sobre como as camadas constituem campos gráficos de movimento, nos quais as animações evidenciam um pensamento que parte do desenho para organizar a edição dos filmes.
“A própria ideia da animação incorporando o cinema, ou da animação tornando-se a lógica dominante da imagem em movimento, vem dessa aparente fusão da animação com informação, por meio das tecnologias digitais e redes de comunicação” (LAMARRE, 2009, p. 314, apud LONGO, 2017)
A organização por empilhamento é interface comumente empregada em softwares que trabalham com camadas digitais, também conhecidas como layers. Essa organização tem relação direta com uso do acetato no início da industrialização animação, que permitiam um recurso econômico do processo ao separar a ação do personagem do cenário. Para Alberto Lucena Júnior a técnica desenvolvida pelo animador Earl Hurd “foi a maior contribuição técnica para a animação tradicional até o advento da computação gráfica: o desenho sobre folhas de celulóide transparente” (BARBOSA JÚNIOR, 2005, p. 66).
Para reconhecer uma camada é preciso determinar que alguma coisa está disposta sobre outra, o quê impõe uma ordem entre as coisas. O empilhamento sempre é adição, visto que, cada nova inserção de informação transforma o aglomerado e cria um novo sentido entre as camadas. Deste modo, o desenho compõe um campo de depósito, no qual, cada camada inscrita configura um novo panorama. Entre uma e outra camada, existem desgastes, perfurações, vazios, borrões que permitem relações dinâmicas, sendo que uma camada mais recente pode ser permeada por uma mais antiga. No curta “Viagem na Chuva” (2014) de Wesley Rodrigues, podemos observar que o intervalo animético (LAMARRE, 2009, p. 48) explora o movimento dos personagens com o ritmo dos borrões de pintura. As relações dinâmicas que atuam nas camadas entre desenho e pintura são os agentes da aglomeração de informações e sentidos da narrativa visual.
A translucidez de parte das camadas é uma propriedade fundamental para as animações, uma vez que revelam ou ocultam as informações sobrepostas, na medida em que se compõe a visão geral da imagem. Miyazaki em “Ponyo – Uma Amizade que Veio do Mar” (2008), cria plasticidades de representação de fluídos explorando os diferentes ritmos sobrepostos entre camadas de movimento. Em PONYO (2008), o mar revolve-se no encadeamento de camadas panorâmicas junto de intervalos de linhas fluídos, onde “Miyazaki transmite o sentido de uma natureza mais dinâmica e menos controlável, mas insiste em um quadro absoluto de referência: a natureza.”(LAMARRE, 2009, p. 306).
Nossa experiência é regida pela gravidade, com ela aprendemos a lidar com o plano horizontal, o chão. Nas obras de Miyazaki e Wesley Rodrigues a horizontalidade é intrínseca a maneira como realizam os desenhos, onde cada autor cria sua própria dinâmica de movimentação entre camadas.
Bibliografia
- BARBOSA JÚNIOR, Alberto Lucena. Arte da animação: técnica e estética através da história. São Paulo: Senac, 2005.
EISENSTEIN, Serguei. A forma do filme. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 1990.
LAMARRE, Thomas. The Anime Machine: a media theory of animation. Minneapolis: University of Minnesota Press, 2009.
LONGO, A. . Animetismo e Cinematismo: tendências de composição e operacionalidade plasmática no anime. In: 6 Seminário Nacional Cinema em Perspectiva, 2017, Curitiba. Anais do 6º Seminário Nacional Cinema em Perspectiva e X Semana Acadêmica de Cinema. Curitiba: UNESPAR, 2017. v. 6. p. 173-185.
MIYAZAKI, Hayao. Turning Point: 1997-2008. Viz Media, 2014.
PONYO: uma amizade que veio do mar. Direção: Hayao MIYAZAKI. Produção: Studio Ghibli, Japão. Animação (103 min), 2008.
VIAGEM na Chuva. Direção: Wesley Rodrigues. Goiânia: Armoria Studio. Animação (12 min), 2014.
VIOLEIRO Fantasma, O. Direção: Wesley Rodrigues. Goiânia: Armoria Studio. Animação (7 min), 2017.