Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Houldine Nascimento e Silva (UFPE)

Minicurrículo

    Houldine Nascimento e Silva (Recife, 1992) é graduado em Comunicação Social – Jornalismo pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE, 2015) e mestrando do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFPE (PPGCOM/UFPE). Desde 2011, atua em veículos de imprensa elaborando matérias e análises voltadas ao audiovisual. Em 2015, co-dirigiu o curta O Imperador da Pedra do Reino, que aborda de forma pouco usual a trajetória do artista paraibano Ariano Suassuna.

Ficha do Trabalho

Título

    Os limites documentais: ética e montagem em Santiago e Um Lugar ao Sol

Resumo

    Além do potencial, os documentários Santiago (2007), de João Moreira Salles, e Um Lugar ao Sol (2009), de Gabriel Mascaro, também chamam atenção pela abordagem adotada no processo de feitura, o que proporciona uma reflexão acerca dos limites do documentarista. A partir dos dois projetos, este trabalho pretender analisar questões essenciais para o gênero audiovisual documentário, levando em conta aspectos éticos e de que forma a montagem atua e interfere neste sentido.

Resumo expandido

    A realização de um documentário pode dar margem a questionamentos sobre até onde o cineasta pode ou não ir sem ferir os limites da ética. Uma das estratégias adotadas por diretores para evitar algum questionamento a esse respeito é apresentar, de maneira clara ao espectador, a escolha dos entrevistados e a proposta dos filmes. No entanto, durante a produção, armadilhas podem ser criadas para que os entrevistados caiam diante da estrutura concebida. Na pós-produção, especialmente no que se refere à montagem, também é possível elaborar ciladas. Diante disso, este trabalho busca analisar, de forma comparativa, dois documentários brasileiros, Santiago (2007) e Um Lugar ao Sol (2009), que abrem espaço para discussão de pontos como ética e limites da montagem.

    De Gabriel Mascaro, Um Lugar ao Sol despertou polêmica por onde passou. O filme é responsável por um grande feito: desnudar o pensamento de integrantes da elite econômica brasileira. Mas o maior questionamento está em como Mascaro conseguiu isso. As únicas informações fornecidas são estas: a partir de um livro que cataloga pessoas que fazem parte da classe média alta, o diretor selecionou 125 famílias que moram em luxuosas coberturas distribuídas entre Recife, Rio de Janeiro e São Paulo, mas apenas nove delas se prontificaram a participar do filme, contando como chegaram até ali e como é viver da forma como vivem.

    Há claramente uma divergência sobre a ideia que essas pessoas tinham do que seria o filme e o que ele de fato representa. O ponto de vista do documentarista sobre o universo dos sujeitos filmados não é revelado para eles, embora seja exposto aos espectadores através das estratégias narrativas de que o realizador se vale, como alegorias ao captar imagens dos prédios de diversos ângulos e no recorte do filme.

    Um momento chave que desperta maiores críticas é quando uma das entrevistadas pede para que a câmera seja desligada e que, assim, a equipe pare de filmá-la por acreditar que há um direcionamento no que ela estava dizendo até aquela altura. Contudo, o diretor opta por seguir com o som ligado e passar para quem acompanha o documentário o teor do que se fala após o pedido da entrevistada. Este ponto também está associado à montagem, na medida em que a ideia global de montagem perpassa diversos momentos do filme, como a decupagem, não ficando restrita à junção de fragmentos de imagem (AMIEL, 2007).

    Santiago é um filme reflexivo sobre o papel do documentário. O diretor João Moreira Salles decide ter novo contato com imagens rodadas em 1992, quando tinha a intenção de realizar um documentário sobre o antigo mordomo, um argentino que conviveu com sua família por três décadas. O cineasta abandonou o projeto porque, na sua visão, não conseguiu montar um material interessante.

    Mais de uma década depois (2005), Salles dá novo sentido às imagens ao avançar em aspectos importantes para o próprio cinema, quando passa a indagar questões fundamentais para a feitura de um documentário. Para isso, chama o montador Eduardo Escorel e a sua então assistente Lívia Serpa, a qual posteriormente se torna co-montadora. Assim, a obra é tecida a partir da mesa de edição. Simultaneamente, uma narração em off é construída (SANTIAGO, 2007).

    Aos poucos, vemos que, durante as filmagens, havia uma preocupação excessiva pela forma, que se revela na escolha por uma bela fotografia em preto e branco e na excelência dos enquadramentos, além de uma busca por falas impactantes e da provocação de situações. Assim tudo estaria distante do que envolve o documental. Em dado momento, através da narração, Salles indaga diante do cair de algumas folhas num mesmo ponto da piscina em sequência se isso foi provocado intencionalmente ou simples coincidência, assim como no balanço das águas. “Nesse dia ventava realmente ou a água da piscina foi agitada por uma mão fora do quadro?”, questiona. “Hoje, 13 anos depois, é difícil saber até onde íamos em busca do quadro perfeito, da fala perfeita”, reconhece.

Bibliografia

    AMIEL, Vincent. Estética da Montagem. Lisboa: Edições Texto e Grafia, 2007.

    GARDIES, René. Compreender o cinema e as imagens. Lisboa: Edições Texto e Grafia, 2006.

    LINS, Consuelo e MESQUITA, Cláudia. Filmar o real: sobre o documentário brasileiro contemporâneo. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.

    RAMOS, Fernão Pessoa. A Encenação documentária. In: Estudos de Cinema e Audiovisual Socine; v. 11. São Paulo: Socine, 2010.

    SANTIAGO. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2019. Disponível em: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra67307/santiago. Acesso em: 19 de Abr. 2019. Verbete da Enciclopédia.

    UM LUGAR AO SOL. In: CINEMA PERNAMBUCANO. Recife, 2019. Disponível em: http://www.cinemapernambucano.com.br/index.php/component/k2/item/3707-um-lugar-ao-sol. Acesso em: 19 de Abr. 2019.