Ficha do Proponente
Proponente
- Adriano Del Duca (PPGCINE/UFF)
Minicurrículo
- Graduado em Ciências Sociais pela UNESP/FCLAr (2007) e em Cinema e Vídeo pela UNESPAR/FAP (2019).
Mestrando em Cinema pelo PPGCINE/UFF.
Professor de Sociologia no C. E. Almirante Álvaro Alberto, em Paraty-RJ desde 2015.
É também roteirista, diretor e produtor audiovisual tendo realizado curta-metragens digitais e em bitola super-8 (Destaco: Digito ergo sum – 2009; Não Importa, 2012; Golpe no Iguaçu, 2015).
Educador audiovisual em oficinas realizadas pelo SESC Paraty na região costeira em 2017.
Ficha do Trabalho
Título
- O “espaço alegórico” em filmes brasileiros do momento tropicalista.
Seminário
- Cinema comparado
Resumo
- A partir da comparação dos “espaços alegóricos” em quatro filmes brasileiros realizados no ‘momento tropicalista’ (1967-1972) – “Terra em Transe” (Glauber Rocha, 1967), “Brasil Ano 2000” (Walter Lima Jr. 1969), “Pindorama” (Arnaldo Jabor, 1970) e “Prata Palomares” (André Faria, 1971) – pretende-se refletir sobre a construção de “contra-narrativas” (STAN, 2006) que representam ‘Brasis’ alegóricos como elaboração de formas de ruptura com o regime de representação do cinema eurocêntrico.
Resumo expandido
- Na virada da década de 1960 para 1970, período marcado pelo “momento tropicalista”, a produção artística brasileira valeu-se de diversos expedientes no uso de linguagens que permitissem a elaboração de um discurso político que driblasse o controle ideológico e estabelecesse uma reflexão crítica da situação política autoritária que desenvolvia-se em inúmeros países latino americanos. Assumimos aqui a perspectiva de um ‘momento tropicalista’ desenvolvida por Flora Süssekind, contrapondo o termo ‘momento’ à ideia de um ‘movimento tropicalista’. Entendemos que essa acepção permite ampliar o alcance da análise da postura estética da tropicália e seus ecos na produção artística brasileira na década de 1970. Segundo Süssekind, a noção de ‘movimento’ estaria associada a um caráter programático e organizativo, enquanto a noção de ‘momento’ refere-se a um estado mais amplo e profundo expresso em uma arena de agitação política comum. Flora Süssekind pontua ainda que “as formas de criação de convergência e de intensa contaminação mútua no âmbito da produção cultural brasileira de fins dos anos 60 e início da década de 1970” compõem um ‘momento tropicalista’ ampliando a definição mais restritiva do ‘movimento da tropicália’ que estaria associada às artes plásticas e à música popular brasileira no biênio 1967 e 1968 (SÜSSEKIND, 2007, p.31).
No cinema brasileiro constituíram-se algumas vertentes criativas nas quais o dispositivo alegórico foi utilizado à exaustão. Em diversas obras, a narrativa se desdobra em espaços fictícios que, em sua composição simbólica, remetem a experiências históricas e políticas concretas da América Latina. A representação do ‘lugar Brasil’ através de uma representação do espaço ficcional composto por referências históricas, políticas ou culturais do colonialismo é uma característica de inúmeras obras do cinema brasileiro deste período. O presente artigo pretende debruçar-se sobre alguns filmes que lançam-se ao procedimento alegórico e fabulam locais e situações nacionais remetendo suas representações à herança colonial e também às lutas por liberação engendradas pelos povos latino americanos. As metáforas e alegorias de regimes estéticos como a tropicália enunciam representações do lugar que ora refletem criticamente a perspectiva concreta que o ispiram (Brasil e América Latina) e ora o imaginam em perspectivas simbólicas, positivas, quando da superação da condição do colonialismo, ou pessimistas, em seu aprofundamento em barbárie social.
A abordagem de Fernando Ainsa quanto às ‘representações simbólicas’ de lugar permitem ampliar o sentido da compreensão sociológica que estabelecemos com os lugares e sublinha a complexidade que envolve a construção dos sentidos que atribuímos ao espaço. A delimitação de que “o espaço se configura como lugar significado e esse processo de significação lhe brinda com uma projeção simbólica” (MALDINEY, 1996 apud AINSA, 2006:p. 18) compreende a noção de lugar para além da materialidade geográfica, toma-o como algo humanamente significado. Essa definição amplia a percepção das dimensões narrativas, ideológicas e simbólicas que conformam as espacialidades.
Tomaremos como objeto os filmes “Terra em Transe” (Glauber Rocha, 1967), “Brasil Ano 2000” (Walter Lima Jr. 1969),“Pindorama” (Arnaldo Jabor, 1970) e “Prata Palomares” (André Faria, 1971) e suas respectivas alegorias do espaço – Eldorado, Me esqueci, Pindorama e Porto Seguro/Maracangalha – para refletir os procedimentos alegóricos de representação de um espaço latino americano realizados por uma “contra-narrativa” característica da postura tropicalista. Em uma perspectiva comparativa entre as representações do espaço alegórico nessas obras, almeja-se uma reflexão sobre os usos de alegorias que representam indiretamente o Brasil, como um meio de driblar a censura, bem como a elaboração de um discurso fílmico de ruptura com o regime de representação do cinema dominante e as formas do cinema clássico narrativo.
Bibliografia
- OITICICA, Hélio. Esquema geral da nova objetividade. Originalmente publicado no catálogo da mostra “Nova Objetividade Brasileira” (Rio de janeiro, MAM, 1967);
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SHOHAT, E. & STAN, R. Crítica da Imagem Eurocêntrica. Ed. Cosac&Naif, São Paulo, 2006.
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