Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Ivana Bentes (UFRJ)

Minicurrículo

    Ivana Bentes é Professora Titular da Escola de Comunicação da UFRJ, doutora em Comunicação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. É professora e pesquisadora do Programa da Pós Graduação em Comunicação da UFRJ e Diretora da Escola de Comunicação da UFRJ. Autora de Mídia-Multidão. Estéticas da Comunicação e Biopoder. Mauad. 2015

Ficha do Trabalho

Título

    As Imagens Gore. Narrativas alternativas e memética na política

Mesa

    Políticas da Imagem e Imagens da Política no Neoconservadorismo.BR

Resumo

    Como caracterizar o regime de imagens e seus efeitos de verdade, efeitos de crença e “narrativas alternativas” que emergiram durante as eleições de 2018? Estamos vendo a emergência de novos regimes de visualidade e de verdade? Que tipo de retórica se produziu nos vídeos que ajudaram a eleger o candidato da extrema-direita Jair Bolsonaro? Análise de vídeos que circularam nas redes a partir de padrões de anonimato, autoralidade genérica, “imagem pobre” remix de arquivos, streamingns e virais.

Resumo expandido

    A eleição do presidente Jair Bolsonaro em 2018 é o primeiro resultado de um experimento político baseado em um novo modelo de negócio e governança: as fake news e a memética impulsionadas artificialmente em escala industrial. Também faz emergir um novo regime de imagens low tech, amadoras, memes audiovisuais, streamings, vídeo-colagens, que utilizam uma série de figuras de linguagem remixadas do cinema, do campo expandido do audiovisual e das redes sociais para a construção de uma narrativa política.

    Bolsonaro é o representante de um estado de exceção político e informacional no “capitalismo gore” (VALENCIA. 2010) que emerge na passagem fulminante de democracias representativas para uma governança em tempo real. Seu uso das mídias e o uso das imagens por seus eleitores nas redes sociais apontam para um novo regime de visualização e de visualidades?

    A desilusão dos “revoltados on line” com o sistema político e a corrupção endêmica e a polarização como estratégia midiática que nutriu a desinformação e o ódio produziu efeitos de discurso, “efeitos de verdade”, que se utilizam das retóricas e figuras de linguagem do documentário, dos filmes de família, dos vídeos diários e todo uma série de referências no banco de visualidades contemporâneas.

    As mídias digitais como o WhatsApp e a produção de efeitos de verdade de forma simultaneamente artificial e orgânica, podem ser a nova base de sustentação de uma governança digital de tipo autoritária? A base de Bolsonaro é esse exército de eleitores, trolls, bots e pessoas comuns que acharam na velocidade e viralidade da memética um vetor de propagação de crenças e consensos provisórios.

    As milícias digitais produzidas nesse contexto da hiperpolarização e da pós-verdade são o avesso da cultura digital celebratória e utópica das primeiras décadas da internet, da inteligência coletiva e de uma democracia em rede gestada por uma multidão direcionada para o bem comum.

    A revolução digital desceu aos infernos (NAGLE 2017) e o que emergiu é um cenário de pesadelo com toques de Black Mirror, Mad Max, Terra em Transe e Zorra Total. (BENTES.21018). Uma memética que remixa a cultura de massas e seus personagens (os memes já clássicos com Inês Brasil, Carreta Furacão, Xuxa Meneghel, Gretchen, Renata Sorrah/Nazaré), as bonecas Barbie e Susi, tornadas avatares e personagens de uma cena em que Jair Bolsonaro também significa o triunfo dos memes na política.

    Bolsonaro se tornou no Presidente Meme, o Bozo, o Palhaço, o troll, em que a fala tosca e o ideário retrógrado e totalitário é relativizado por parte dos seus seguidores como piada, escracho, deboche, o “Mito”; mas também levada ao pé da letra por outro contingente de eleitores que se apega às verdades e truísmos maniqueístas e simplórios que se identificam com um ideário ultraconservador.

    A proposta é apresentar e analisar alguns vídeos que circularam durante a campanha eleitoral de 2018 a partir de padrões de anonimato, autoralidade genérica, a imagem amadora, a “imagem pobre” (STEYERL. 2012), vídeos remix de arquivos, streamingns e virais. Como caracterizar esse regime de imagens e seus efeitos de verdade na políticas das imagens e nas imagens da política? Efeitos de crença e efeitos de verdade, as “narrativas alternativas” na política das imagens.

    Estamos vendo a emergência de novos regimes de visualidade e de verdade? Que tipo de retórica se produziu nos vídeos que ajudaram a eleger o candidato da extrema-direita Jair Bolsonaro?

Bibliografia

    BENTES. Ivana. As milícias digitais de Bolsonaro e o colapso da democracia in Revista Cult. 24/10/2018.

    BENTES, Ivana. Mídia-Multidão. Estéticas da comunicação e biopolíticas. Rio de Janeiro, Editora Mauad X, 2015.

    BLACKMORE, Suzan. The meme machine. Oxford and New York, Oxford University Press, 1999.

    NAGLE, Angela. Kill all Normies: Online Culture Wars from 4Chan and Tumblr to Trump and the Alt-Right. Winchester: Zero Books, 2017.

    STEYERL. Hito. The Wretched of the Screen. Sternberg Press/E-Flux Journal. Sternberg Press. Berlin. 2012

    VALENCIA, Sayak. Capitalismo Gore. Editorial Melusina. 2010