Ficha do Proponente
Proponente
- Vilma carla martins silva (UFBA)
Minicurrículo
- Mestranda no Programa de pós-graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas da UFBA na linha de Análise fílmica, membro do grupo de pesquisa Nanook da mesma linha. Jornalista formada pela UFBA em 2017, com intercâmbio na Université paris Ouest Nanterre la Défense 2014. Foi Bolsista PIBIEX 2013/14, do projeto de Formação de Roteiristas de Narrativas Seriadas (ESTAÇÃO DO DRAMA), atividade de extensão promovida pelo Grupo de Pesquisa A-tevê. Atua como produtora e realizadora cinematográfica.
Ficha do Trabalho
Título
- O DRAMA DE VERGÈS E BARBET SCHROEDER: A MÚSICA EM O ADVOGADO DO TERROR
Resumo
- Analisar a música nos documentários e seus efeitos elenca debates estéticos, como a problemática histórica entre “real” e ficção, e éticos, como a criação de sentimento de empatia por um personagem. No presente trabalho, destaca-se o uso da música de concerto na construção narrativa do documentário O Advogado do Terror (2007) de Barbet Schroeder, buscando, certificar como está corrobora com a dramatização da biografia de um protagonista controverso, e como esse efeito complexifica relações ética
Resumo expandido
- Em 2007 o diretor Barbet Schroeder estreou o filme O Advogado do Terror, documentário biográfico sobre o advogado francês Jacques Vergès, conhecido por defender personalidades marcantes que incluem criminosos de guerra, terroristas e tiranos, como Klaus Barbie, ex oficial da SS nazista, “o açougueiro de Lyon”, e Carlos, o Chacal, venezuelano terrorista dos mais procurados do mundo nas décadas de 1970. No filme de 2007, o diretor narra a vida de Jacques Vergès através dos depoimentos do próprio protagonista e de pessoas próximas a ele, assim como lança mão de materiais de arquivo para a representação de momentos históricos. Barbet Schroeder é mais conhecido por seus filmes de ficção, como Single White Female (1992) e Reversal of Fortune (1990), e tem como um de seus traços temáticos objetos polêmicos. O Advogado do Terror (2007), aqui analisado, é o segundo filme da sua denominada “trilogia do terror”, constituída ainda por outros dois documentários biográficos: Général Idi Amin Dada: Autoportrait (1974) e Le Vénérable W. (2017).
O estudo apresentado faz parte de uma pesquisa mais ampla, dedicada à análise dos documentários que compõem a trilogia do terror. Nela, interessa, examinar as relações entre a ética e a mise-en-scène nestes filmes. O foco da análise neste artigo é na escritura musical no segundo filme da trilogia, que chama a atenção por trazer à tona o debate sobre uso da música de concerto nos documentários e suas implicações éticas no “filmar o inimigo”.
Esse termo foi proferido pelo cineasta e teórico francês Jean-Louis Comolli, em um artigo de 1995, que despertou o olhar para regime cinematográfico de falar do outro, sendo ele ou eles, uma figura controversa, cuja relação com o sujeito que fala é de discordância, inimizade, de oposição. Segundo o autor, quando se filma e se constrói uma representação de alguém, estamos estabelecendo nossas posições políticas.
Muitos pesquisadores têm se debruçado sobre esse assunto, um deles é o cineasta brasileiro Marcelo Pedroso. Pedroso em sua pesquisa, afirma que o documentarista é movido por duas inclinações na hora de representar o outro: conformidade e adversidade. Para ele, não se trata de gostar ou não gostar da pessoa, e sim, de um sentimento de convergência ou divergência que envolveria a subjetividade das pessoas ligadas pela realização do filme. Esse sentimento estaria presente na construção narrativa, a partir dos elementos cinematográficos, que vão desde a fotografia (como enquadrar, movimentos de câmera, etc.), a montagem (como a escolha da trilha sonora). Portanto, essas escolhas, dizem, possivelmente, sobre o tipo de inclinação do diretor para com o personagem, ou que tipo de sentimento/ emoção o diretor quer que seu público sinta para com este.
A música de O advogado do Terror é assinada pelo compositor Jorge Arriagada, músico chileno que trabalhou com Barbet em dois outros filmes de ficção, e em 2017 voltam a trabalhar juntos no documentário Le vénérable W. Arriagada é um compositor eclético, que transita com desenvoltura tanto no universo popular folclórico e massivo, quanto no da música de concerto e no jazz.
A música de Arriagada no filme é definida como de concerto, para analisá-la, então, dentro do documentário, vai se utilizar, principalmente, abordagens como as da pesquisadora Claudia Gorbman, que argumenta que, ao privilegiar os elementos narrativos do filme, a música típica do cinema clássico permanece a maior parte do tempo imperceptível para o espectador.
O objetivo desse artigo é entender como o uso dessa música típica do cinema clássico convoca um efeito comum a ficção- a dramatização- no documentário biográfico deste polêmico advogado francês, e quais relações éticas essas escolhas suscitam. Em outras palavras, como esse drama biográfico cria uma sensação de empatia pelo personagem, e como isso também reflete sobre a relação diretor x pessoa filmada.
Bibliografia
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CARVALHO, M. A trilha sonora do cinema: proposta para um “ouvir” analítico. Caligrama, São Paulo, 2007
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PEDROSO, Marcelo. Três suposições sobre a adversidade no documentário, Devires, jul-dez. 2013
VIDIGAL, Leonardo. Algumas considerações sobre a música nos filmes de Jean Rouch. Devires. Belo Horizonte, V. 6, N. 2, 2009