Ficha do Proponente
Proponente
- Paulo Souza dos Santos Junior (UFPE)
Minicurrículo
- Doutorando em Comunicação no PPGCOM – UFPE. Mestre em Comunicação pelo PPGCOM – UFPE (2018). Especialista em Fotografia e Audiovisual pela UNICAP (2017) e graduado em Fotografia também pela UNICAP (2015). Professor em disciplinas na área de fotografia e audiovisual na Universidade Católica de Pernambuco – UNICAP e Centro Universitário Guararapes – UniFG. Tem interesse acadêmico nos estudos ligados aos efeitos do real no cinema, experiência estética, cinema de gênero e fotografia.
Ficha do Trabalho
Título
- Câmeras de vigilância e um novo regime de visualidades
Seminário
- Teorias e análises da direção de fotografia
Resumo
- O presente estudo se propõe a investigar a câmera de vigilância como dispositivo fotográfico. Buscamos lançar olhar sobre uma nova forma de experimentar a relação com a imagem, mediada pelas particularidades que a cinematografia de vigilância oferece. Estilo visual e rupturas narrativas serão discutidos a partir da presença desse dispositivo fotográfico. Analisaremos a presença dos dispositivos em duas obras onde a vigilância surge de forma bastante distinta, Caché e Atividade Paranormal 2.
Resumo expandido
- A ascensão dos meios digitais promoveu uma notável incorporação de aparatos tecnológicos a estrutura diegética: webcams, capturas de tela, celulares, câmeras de vigilância, entre outros dispositivos, passaram a ser reconhecidos e utilizados como dispositivos fotográficos. Os estatutos da invisibilidade e ubiquidade da câmera de cinema foram reformados a partir dessa nova experiência de fotografar, mediada por dispositivos internos à diegese, através de uma presença em cena que impõe restrições e soma novas possibilidades ao fazer fotográfico.
O presente estudo se propõe a investigar a câmera de vigilância como dispositivo fotográfico. Embora seja natural falar de seus usos e implicações, buscamos aqui, sobretudo, lançar olhar sobre uma nova forma de experimentar a relação com a imagem, mediada pelas particularidades que a cinematografia oriunda de tais aparelhos oferece. Analisaremos a presença dos dispositivos em duas obras onde a vigilância surge de forma bastante distinta, Caché (Michael Haneke, 2005) e Atividade Paranormal 2 (Tod Williams, 2010).
A cinematografia de vigilância nos oferece uma imagem predominantemente estática e de temporalidade contínua, ou seja, o dispositivo subverte a lógica de dois pilares cinematográficos: tempo e movimento. Diante de uma imagem de vigilância, resta ao espectador percorrer a tela em busca de um acontecimento, uma relação mediada pela natureza do dispositivo, que antecipa que, se há uma câmera de vigilância e se ela está ali exposta, algo pode ocorrer. Incerto saber se algo acontecerá em 5 segundos ou após 5 minutos, ou mesmo se algo acontecerá. A ansiedade pelo evento extraordinário, a surpresa e mesmo o tédio e frustração do não acontecimento, são sentimentos amplamente exploráveis em tal tipo de situação.
Como aponta Leyda (2016, p. 844) as imagens capturadas por uma câmera de segurança fixa nos obrigam a escanear o quadro continuamente pois, diante da impossibilidade de intervenção, a câmera não selecionará as ações ou detalhes em que o espectador deve focar sua atenção. Essa breve descrição ativa uma contemporânea discussão sobre abalos aos estatutos da montagem narrativa. O conceito de pós-continuidade, cunhado por Shaviro (2016, p. 57), descreve que, ao contrário do cinema clássico, as regras de continuidade passam a ser utilizadas de forma ocasional e oportuna, mais que estrutural e universalmente. O dispositivo vigilante se alia a busca pelo efeito estético, uma relação que passa a promover um novo regime de visualidades, calcado não apenas no sentido narrativo, mas na ativação da materialidade de uma “presença” (GUMBRECHT, 2010) por meio da criação de “atmosferas e ambiências” (GUMBRECHT, 2014). Para discutir esse regime, buscamos analisar a presença da vigilância em Caché, onde o efeito é explorado pela condição do dispositivo, não pela estilização da imagem, pois não há na obra uma preocupação em replicar as imagens de câmeras de vigilância, mas o estatuto da vigilância.
Cabe ainda discutir a direção de fotografia enquanto solução estilística para recriação da atmosfera e textura das imagens capturadas por dispositivos de vigilância. Lucas (2014, p. 141) utiliza a expressão “realismo de baixa resolução” ao descrever a técnica de intensificação do efeito realista a partir do uso de formatos não profissionais de captura de imagem. Nesse quesito, aderimos ao proposto por Carreiro (2017, p. 19), que qualifica a ideia de câmera diegética não como mero instrumento de captação audiovisual, mas como “princípio estilístico”, condicionado e atendente às restrições da criação cinematográfica. Para tanto, discutimos a vigilância doméstica utilizada em Atividade Paranormal 2, obra que incorpora não só a cinematografia em uma perspectiva vigilante, mas os recursos visuais e a temporalidade dos sistemas de monitoramento e câmeras de segurança.
Bibliografia
- CARREIRO, Rodrigo. A câmera diegética: legibilidade narrativa e verossimilhança documental em falsos found footage de horror. In: Revista Significação, v. 40, n. 40, 2013.
GUMBRECHT, Hans Ulrich. Atmosfera, ambiência, Stimmung: sobre um potencial oculto da literatura. Rio de Janeiro: Contraponto, 2014.
________. Produção de presença: o que o sentido não consegue transmitir. Rio de Janeiro: Contraponto, PUC-Rio, 2010.
LEYDA, Julia. The Post-Cinematic in PARANORMAL ACTIVITY and PARANORMAL ACTIVITY 2. In LEYDA, Julia; DENSON, Shane. Post-cinema: Theorizing 21st-century film. Reframe Books, 2016.
LUCAS, Christopher. “THE MODERN ENTERTAINMENT MARKETPLACE, 2000–present.” In Cinematography, edited by Patrick Keating, 132-58. New Brunswick, New Jersey: Rutgers University Press, 2014.
SHAVIRO, Steven. Post cinematic affect. John Hunt Publishing, 2010.
_______. Post-Cinematic Affect. In LEYDA, Julia; DENSON, Shane. Post-cinema: Theorizing 21st-century film. Reframe Books, 2016.