Ficha do Proponente
Proponente
- Fernando Arenas (UMich)
Minicurrículo
- Fernando Arenas é professor de Estudos Culturais Lusófonos nos departamentos de Estudos Afro-Americanos e Africanos e Línguas e Literaturas Românicas na University of Michigan. É o autor de Lusophone África: Beyond Independence (University of Minnesota Press, 2011), [a ser publicado em breve em tradução pela Edusp].
Ficha do Trabalho
Título
- Filmografia de Licínio Azevedo: estórias de Moçambique do pós-guerra
Resumo
- A minha comunicação oferece um breve panorama crítico da filmografia do cineasta gaúcho-moçambicano Licínio Azevedo a residir há mais de 30 anos naquele país lusófono da África austral. A sua produção fílmica centra-se nos anos de transição da era colonial à pós-independência sob a sombra da guerra civil e as consequências devastadoras sobre as vidas humanas retratadas, constituindo um arquivo fundamental para entender a formação de Moçambique enquanto nação. A minha comunicação também destaca e
Resumo expandido
- Licínio Azevedo —cineasta, jornalista e escritor— nasceu no Rio Grande do Sul, mas vive em Moçambique desde a independência. Trabalhou no Instituto Nacional de Cinema durante os primeiros anos do cinema moçambicano, colaborando com Jean Rouch e Jean-Luc Godard. Azevedo também trabalhou para a televisão de Moçambique e hoje é um cineasta independente e diretor da produtora de filmes e multimídia Ébano Multimedia, com sede em Maputo. A sua produção fílmica centra-se nos anos de transição da era colonial à pós-independência sob a sombra da guerra civil e as consequências devastadoras sobre as vidas humanas retratadas, constituindo um arquivo fundamental para entender a formação de Moçambique enquanto nação. Azevedo tem realizado um número considerável de documentários e longa-metragens abordando um amplo leque de questões importantes ao entendimento da experiência pós-colonial e pós-guerra de Moçambique, do retorno emocional dos refugiados de guerra à sua terra natal (A árvore dos antepassados); à ameaça mortal das minas terrestres espalhadas pelo interior de Moçambique (O acam¬pamento da desminagem); às perdas humanas e ambientais causadas por quinze anos de guerra civil (A guerra da água); às injustiças decorrentes do dogmatismo ideológico do governo na pós-independência (Virgem Margarida); às trágicas consequências da epidemia da AIDS (Night Stop) e a vitimização dos civis inocentes em estado de guerra (O comboio do sal e do açúcar).
Vários de seus filmes foram exibidos em festivais internacionais e ganharam prêmios. Porém, a obra de Licínio Azevedo ainda não recebeu a atenção crítica que merece apesar de ser o cineasta mais importante de Moçambique e um dos cineastas mais prolíficos na África lusófona.
Azevedo permanece fiel ao imperativo ético de representar o povo de Moçambique e proporcionar agenciamento histórico aos pobres das zonas rurais, evidenciado por esse capítulo extraordinário na história do cinema africano que ocorreu em Moçambique durante os primeiros anos de independência. Acontecimentos cataclísmicos levaram à destruição da utopia de uma sociedade igualitária, sob a liderança de um governo de partido único nacionalista e marxista-leninista, causando uma ruptura no paradigma socioeconômico e político hegemônico, enquanto que o cinema se adaptou aos tempos em mudança. Licínio Azevedo tem dedicado sua arte cinematográfica a documentar as consequências do fracasso violento da utopia; em especial, o preço cobrado dos sobreviventes que hoje em dia constroem um futuro incerto num país que se encontra, grande parte, reconciliado.
Bibliografia
- ARENAS, Fernando. Lusophone Africa: Beyond Independence. Minneapolis, University of Minnesota Press, 2011.
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