Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Carla Daniela Rabelo Rodrigues (UNIPAMPA)

Minicurrículo

    Professora Adjunta do bacharelado em Produção e Política Cultural da Universidade Federal do Pampa. Doutora e Mestra em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Desenvolve na UNIPAMPA os seguintes projetos: Cinema Peruano (projeto de pesquisa), CINECULT (projeto de ensino – cineclubismo no campus Jaguarão/RS) e Cinecultinho (projeto de extensão – cinema de animação não-blockbuster para crianças da periferia de Jaguarão/RS).

Ficha do Trabalho

Título

    Palito Ortega Matute e as representações do trauma em La Casa Rosada

Resumo

    O trabalho tensiona as representações do conflito armado interno vivido no Peru na década de 80 por meio de La Casa Rosada (2017), última obra do cineasta ayacuchano Palito Ortega Matute, falecido em fevereiro de 2018. O filme é uma tentativa de questionamento e reparação sobre demarcações estéticas e uma memória audiovisual estereotipada sobre um período histórico traumático no país.

Resumo expandido

    O trabalho discute memória e as representações do conflito armado interno vivido no Peru na década de 80 por meio de La Casa Rosada (2017), último filme do antropólogo e cineasta ayacuchano Palito Ortega Matute, falecido em fevereiro de 2018. Parte-se do diagnóstico dos “esquecimentos” e silenciamentos cinematográficos sobre o papel do Estado peruano nos governos de Alan Garcia e Alberto Fujimori, por meio das Forças Armadas, enquanto agente de violações aos direitos humanos (torturas, assassinatos e omissões) quando comparado ao estereótipo de terrorismo atribuído somente ao grupo de esquerda Sendero Luminoso.

    Diante dessa demarcação estética, o cineasta Palito Ortega Matute destaca-se como a principal referência em questionar tal memória audiovisual por meio de seus filmes: Dios tarda pero no olvida (1997), Dios tarda pero no olvida 2 (1998), Sangre inocente (2000), El rincón de los inocentes (2007) e La casa rosada (2017). Também produziu filmes de horror como Incesto en los Andes: La maldición de los jarjachas (2002), La maldición de los jarjachas 2 (2003), e El demonio de los Andes (2014), e em El Pecado (2007) tratou da discriminação à população LGBT nos Andes peruanos. O diretor e roteirista é o mais conhecido do Cine Regional, movimento cinematográfico iniciado por ele e outros cineastas na década de 90 e que já produziu aproximadamente 200 longas-metragens e vários curtas-metragens, transformando o que se entendia como cinema peruano em geral (BUSTAMANTE, 2018).

    La Casa Rosada é um filme cujo nome faz referência ao centro de torturas em Huamanga no qual o próprio realizador foi preso durante trinta dias injustamente aos 17 anos confundido como “terrorista”. Com base melodramática, ele convida, ou melhor, convoca o espectador a não sair ileso da narrativa intensa que sem retirar responsabilidades, apresenta novos elementos desde a ótica de quem viu e viveu o conflito armado no estado de Ayacucho. A fotografia e a direção de arte do filme são resultados dessa experiência quando contrastam uma cidade permeada por uma paisagem natural da serra (montanhas, céu azul, construções antigas) e essa mesma cidade arrasada, manchada de sangue, com casas reviradas, objetos quebrados, roupas rasgadas, entre tantos outros detalhes expressos nos objetos cênicos e nos closes e planos detalhe. O desenho sonoro evoca uma dramaturgia do horror ocupada por gritos, gemidos, falas e súplicas em espanhol e quechua, ruídos angustiantes de objetos e músicas que reforçam o melodrama. O roteiro, embora sem grandes pretensões estilístico-narrativas, se arrisca em recuperar vorazmente elementos sombrios presentes na história peruana. Por isso, o filme gerou reações diversas como a associação do diretor como especialista em filmes de terrorismo, ou classificações do filme como “pro-terruco” (pró-terrorista). Neste trabalho, observa-se também que o filme reavivou as recentes discussões sobre os diferentes projetos de Ley de Cine onde um deles (Proyecto de Ley sobre Cine Peruano N°2987/2017-CR), apresentado pela congressista fujimorista María Cristina Melgarejo Paucar, defende no artigo 9 do capítulo III que nos editais do Ministério de Cultura del Perú (MINCUL) seja vedada a participação de produções audiovisuais que recorram a “apología del terrorismo”, uma evidente medida conservadora e censora.

Bibliografia

    BARROW, Sarah. Contemporary Peruvian cinema: history, identity and violence on screen. Bloomsbury Publishing, 2018.
    BEDOYA, Ricardo. El cine sonoro en el Perú. Universidad de Lima, Fondo Editorial, 2009.
    BUSTAMANTE, Emilio; VICTORIA, Jaime Luna. Las miradas múltiples: el cine regional peruano. Fondo editorial Universidad de Lima, 2018.
    BUSTAMANTE, Emilio. El nuevo cine peruano: un panorama. MLN, v. 133, n. 2, p. 435-451, 2018.
    BUSTAMANTE, Emilio. El cine regional en el último lustro. Ventana Indiscreta, n. 013, p. 36-41, 2015.
    FRÍAS, Isaac León. El nuevo cine latinoamericano de los años sesenta: entre el mito político y la modernidad fílmica. Universidad de Lima, Fondo editorial, 2013.
    MIDDENTS, Jeffrey. Writing National Cinema: Film Journals and Film Culture in Peru. UPNE, 2009.
    RODRIGUES, Carla Daniela Rabelo. El Cine Regional en el Perú – Entrevista a Emilio Bustamante. Imagofagia, n. 19, 2019 (no prelo). http://www.asaeca.org/imagofagia