Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Isadora Meneses Rodrigues (UFPE)

Minicurrículo

    Jornalista, doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFPE e mestra pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFC.

Ficha do Trabalho

Título

    Nem nouvelle, nem nouveau: Alain Resnais em defesa do realismo mental

Seminário

    Teoria dos Cineastas

Resumo

    A partir da análise de um conjunto de entrevistas que o cineasta francês Alain Resnais deu para a Cahiers du Cinema e para a Positif entre as décadas de 1960 e 1980, o objetivo desta comunicação é identificar traços de um pensamento conceitual do diretor que atravessam reflexões estéticas propostas pelos seus filmes desse mesmo período. Defendemos que, em conjunto, esses textos e obras fazem emergir uma teoria do realismo mental cinematográfico.

Resumo expandido

    Silencioso, Alain Resnais não escreveu sobre os seus filmes e nem elaborou qualquer tipo de teoria da arte cinematográfica como fizeram a maioria dos seus contemporâneos da nouvelle vague e do nouveau cinéma. Apesar de não se encaixar na categoria de cineasta-teórico ou cineasta-crítico como Godard, Truffaut, Marguerite Duras e Alain Robbe-Grillet, para citar apenas alguns, Resnais deu uma série de entrevistas para as revistas francesas Positif e Cahiers du Cinema entre as décadas de 1960 e 1980 onde comentou seus filmes e apresentou, de maneira fragmentada, reflexões que defendiam um cinema que se debruçasse “sobre o sistema nervoso central” (RESNAIS, 2002). Nessas falas, o realizador prefere se referir a sua obra a partir de categorias como consciência e imaginário, protestando constantemente contra o título de “cineasta da memória” (BOUNOURE, 1962; WARD, 1969).

    Se a Cahiers du Cinema dos anos de 1960 definiu Resnais como “o primeiro pintor cubista do cinema falado, o que rompe com o real” (DE BAEQUE, 2010, p.368), nas entrevistas para a mesma revista Resnais reivindicava que seus filmes apresentavam um vínculo fundamental com a realidade, pois entendia que o cinema não era um instrumento de representação do mundo objetivo, mas um modo de aproximação do que chamou de realismo mental. Para ele, “o realismo não consiste em filmar apenas, por exemplo, as nossas conversas, mas também em mostrar as imagens que neste momento perpassam o nosso espírito” (RESNAIS, 1969, p.36). O realizador considerava os seus filmes “uma tentativa, ainda muito grosseira e primitiva, de aproximação da complexidade do pensamento, do seu mecanismo”, insistindo no fato de que as suas experiências não passavam “de um pequeno avanço em relação ao que se deveria fazer um dia” (RESNAIS, 1969, p.88).

    Tendo isso em vista, o objetivo deste trabalho é identificar traços de um pensamento conceitual nessas entrevistas, buscando estabelecer pontos de contato e de tensão entre essas reflexões e as proposições estéticas dos seus filmes do mesmo período, principalmente Je t’aime, Je t’aime (1968), Meu tio na América (1977) e Providence (1980). Defendemos que, em conjunto, esses textos e obras fazem emergir uma teoria do realismo mental cinematográfico. Trabalhamos ainda com a hipótese de que essa vontade de Resnais de retratar a fisicalidade da mente em ação o conecta aos debates literários sobre fluxo de consciência da primeira metade do século XX muito mais do que à nouvelle vague francesa, cinema da física dos corpos (DELEUZE, 2005), ou aos romancistas-cineastas do nouveau cinema, que renovaram a ideia de literariedade a partir da negação da construção psicológica tradicional do personagem (ROBBE-GRILLET, 1969).

    Se a literatura moderna da primeira metade do século XX empregou uma sintaxe contorcida na tentativa de conectar a literatura à vida por meio do “registro dos átomos que caem na mente na ordem em que eles caem” (WOOLF, 2014, p.110), para construir uma espécie de neurocinema Resnais defendeu o rompimento da noção tradicional de tempo e espaço fílmico por meio da relação de concorrência entre som e imagem, da duração dilatada dos planos e da repetição.

Bibliografia

    BAECQUE, Antoine de. Cinefilia: invenção de um olhar, história de uma cultura. São Paulo: Cosac Naify, 2010.

    BOUNOURE, Gaston. Alain Resnais. Paris: Éditions Seghers, 1962.

    DELEUZE, Gilles. A Imagem-Tempo: cinema II. São Paulo: Brasiliense, 2005.

    POSITIF, REVUE DE CINÉMA (2002): Alain Resnais. Anthologie établie par Stéphane Goudet.França: Ed. Gallimard.

    RESNAIS, A. et all. Cadernos de Cinema 5. Trad. António Landeira, Lisboa: Dom Quixote, 1969.

    ROBBE-GRILLET, Alain. Por um Novo Romance. São Paulo: Documentos LTDA, 1969.

    WARD, John. Alain Resnais, or the theme of time. London: Martin Secker & Warburg, 1968.

    WOOLF, Virginia. Ficção Moderna. In: O valor do riso e outros ensaios. São Paulo: Cosac Naify, 2014.