Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Marcia T Medeiros (PPGCINE-UFF)

Minicurrículo

    Dirigiu séries, como “O Bom Jeitinho Brasileiro – Canal Futura, Globo Ciência – Rede Globo e Capoeira – TV Brasil. Montou o curta “Família Ilustre”, de Beth Formaggini, vencedor de 8 prêmios em festivais internacionais. “Pastor Claudio” de Beth Formaggini, vencedor Festival de Vitória e “Madame” de André da Costa Pinto (Globo Filmes). Editou séries como Liberdade de Gênero – GNT, Desde Junho – TV Brasil, The Voice Kids – Rede Globo. É professora de edição do projeto “Revelando os Brasis”.

Ficha do Trabalho

Título

    REVELANDO E INVENTANDO BRASIS: O cinema como dispositivo de invenção

Seminário

    Cinema e Educação

Resumo

    Projetos de cinema em conexão com a educação, tem contribuído para a produção de filmes em locais distantes dos grandes centros. Esse trabalho se baseia em duas experiências de realização de curtas em comunidades quilombolas, parte do projeto Revelando os Brasis. Experiências que nos fazem pensar o cinema como dispositivo que produz resultados que vão além do produto final – o filme – que se constituem no processo, que envolve diferentes etapas e diversos atores humanos e não-humanos.

Resumo expandido

    Projetos de inclusão social que têm como foco o cinema em conexão com a educação, tem contribuído para a produção de filmes em locais distantes dos grandes centros de produção de imagens. Esse trabalho se baseia em duas experiências de realização de curtas em comunidades quilombolas, que fazem parte da última edição do projeto Revelando os Brasis: A Sússia, em Lagoa da Pedra, no Tocantins e A Viagem do Seu Arlindo, em Pedra Branca, no Espírito Santo. Essas experiências nos dão pistas para pensar a potência do cinema como dispositivo que produz resultados que vão além do produto final – o filme – e que se constituem ao longo de um processo que envolve diferentes etapas e diversos atores humanos e não-humanos.
    Uma das principais premissas do projeto é que os alunos/diretores se articulem em suas comunidades para a produção dos filmes. Essa construção coletiva, condição primordial do fazer cinema, tem gerado experiências muito potentes de sociabilidade e produção de conhecimento. A utilização de dispositivos de criação audiovisual é tanto mais eficiente quando ela abre possibilidades de encontros entre corpos e objetos, criando efeitos que não podem ser sequer imaginados antes do dispositivo entrar em ação.(MIGLIORIN, 2005).
    Em Pedra Branca, a gravação do filme do Seu Arlindo foi uma oportunidade para o registro do Caxambu, que não era dançado na comunidade há mais de 40 anos. Dançarinas de comunidades vizinhas ensinaram a dança e emprestaram saias. Essa troca de saberes acabou resultando na criação de um grupo de Caxambu em Pedra Branca, que passou a representar a comunidade em festas regionais. Em seguida, a diretora do filme, Sheila Altoé, foi convidada para coordenar a Comissão de Estudos Afrobrasileiros (CEAFRO), de Vargem Alta. Em Lagoa da Pedra, a diretora Lucrécia precisou lidar com a resistência dos moradores em participar do filme. Desde o reconhecimento da comunidade como território quilombola, diversos pesquisadores escreveram trabalhos sobre a comunidade, nos quais os moradores não se reconhecem. A produção do filme acabou tocando nesse e em outros conflitos gerados pelo próprio reconhecimento da comunidade. O fato de Lucrécia ser nascida e criada em Lagoa da Pedra, mudou a perspectiva de participação dos moradores nas entrevistas, que agora se viam no papel co-autores de uma história coletiva. Este trabalho pretende apresentar parte do que já pude observar na pesquisa-intervenção que venho fazendo junto às alunas/diretoras Lucrécia Dias e Sheila Altoé desde as oficinas de audiovisual, passando pela edição dos filmes e pelo circuito de exibição nas comunidades e em mostras e festivais de cinema.

Bibliografia

    AGAMBEN, Giorgio. O que é um dispositivo?. Outra Travessia 5. Ilha de Santa Catarina. segundo semestre de 2005
    GUATTARI, F. Caosmose. Rio de Janeiro: Ed.34, 1992
    MIGLIORIN, Cezar. O Dispositivo como estratégia narrativa . Em: Revista acadêmica de cinema – Digitagrama – número 3 – primeiro semestre de 2005
    MIGLIORIN, Cezar. Inevitavelmente cinema: educação, política e mafuá, Rio de Janeiro: Beco do Azougue, 2015.
    PASSOS, KASTRUP e ESCÓSSIA, Pistas do Método da Cartografia: pesquisa-intervenção e produção de subjetividade. Porto Alegre, Sulina, 2009.