Ficha do Proponente
Proponente
- Tetê Mattos (Maria Teresa Mattos de Moraes) (UFF)
Minicurrículo
- Niteroiense, doutora em Comunicação pela UERJ. Mestre em Ciência da Arte pela Universidade Federal Fluminense. É professora do Departamento de Arte da UFF desde 1997. Dirigiu os documentários “Era Araribóia um Astronauta?” (1998), “A Maldita” (2007), “Fantasias de Papel” (2015), “Maldita FM” (2019) e “O Mambo da Cantareira” (em pré-produção). Publica artigos em revistas e livros de cinema. Exerce atividades de curadoria em diversos festivais. Dirigiu o Festival Araribóia Cine (2002 a 2013).
Ficha do Trabalho
Título
- FESTIVAIS DE CINEMA E CONTINGÊNCIA: O CASO DO FESTIVAL DO RIO
Seminário
- Exibição cinematográfica, espectatorialidades e artes da projeção no Brasil
Resumo
- Partiremos da análise teórica que aborda a relação dos festivais de cinema e sua temporalidade a partir da noção de contingência desenvolvida por Janet Harbord. Se, por um lado, um festival de cinema é uma temporalidade estruturada, por outro, ele aproveita o tempo de contingência de um evento ao vivo, introduzindo a singularidade da experiência que não pode ser reproduzida/vivida em data ou local posterior. Tomaremos como análise o Festival do Rio para compreender os mecanismos de “atração”.
Resumo expandido
- Dando continuidade às pesquisas desenvolvidas no campo dos festivais audiovisuais, nesta comunicação propomos uma análise teórica que aborda a relação destes eventos e sua temporalidade a partir da noção de contingência desenvolvida pela pesquisadora Janet Harbord. Buscaremos compreender os mecanismos de “atração” que estes eventos exercem na contemporaneidade.
Harbord, em “Contingency, time, and event: an archaeological approach to the film festival” (Contingência, tempo e evento: uma abordagem arqueológica do festival de cinema), argumenta que os festivais de cinema na atualidade operam numa temporalidade que contraria o ambiente desregulamentado do qual ele faz parte.. A cultura de visualização do filme na contemporaneidade, devido ao surgimento das novas tecnologias, atende às necessidades temporais do espectador. O filme pode ser “baixado” da internet, visualizado em mídias portáteis, visto de forma fragmentada. O festival de cinema (re)institucionaliza a atenção coletiva à exibição do filme e (re)centraliza o tempo de projeção como um evento ao vivo (Harbord, 2016).
Se, por um lado, um festival de cinema é uma temporalidade estruturada (tempo de exibição de um filme, agenda de programação divulgada antecipadamente, integram um calendário anual), por outro lado, ele aproveita o tempo de contingência de um evento ao vivo, introduzindo a singularidade de uma experiência que não pode ser reproduzida/vivida em data ou local posterior. O festival corre o risco de um evento ao vivo. Para Harbord “os eventos ao vivo de um festival incidem em algum lugar como um espectro que em uma extremidade tem o acaso e em outro uma maior consciência da motivação do interesse da performance e do próprio espetáculo” (HARBORD, 2016, p.75-76).
Desta forma as ocorrências acidentais fixam o tempo do festival como um evento que não se repete. E para que ele se mantenha como um evento único – com uma experiência compartilhada/coletiva de estar num lugar e ao mesmo tempo –, ele necessita de momentos de perturbação, de disrupção de sua estrutura ordenada. Assim, os desfiles no tapete vermelho, os discursos nas cerimônias de premiação e encerramento, os debates e as entrevistas possuem um elemento de efeito surpresa que evidenciam os festivais como portadores de singularidades que não podem ser repetidas. A contingência, então, atesta o evento como uma experiência compartilhada, uma experiência coletiva de estar num local e num determinado tempo.
Seguindo esta linha de pensamento, tomaremos como objeto de estudo o Festival do Rio, evento de grande repercussão midiática, realizado na cidade do Rio de Janeiro desde 1999. Elegeremos algumas situações de contingência ocorridas ao longo de duas décadas de realização do Festival para buscar compreender a natureza efêmera destes eventos, e sua forte atração na contemporaneidade.
Terá destaque em nossa análise o ano de 2014, quando o Festival do Rio foi palco de uma manifestação de realizadores e produtores cariocas que protestavam contra as políticas do audiovisual municipal e estadual. O movimento chamado de “Rio: Mais cinema, menos cenário!” criticava a ausência de investimentos da Prefeitura e do Estado no cinema independente e o não lançamento de um prometido edital de apoio não reembolsável para a produção de cinema, TV e novas mídias. A forte repercussão do protesto ocorrido inicialmente durante o ritual do tapete vermelho da sessão de gala de abertura do Festival é revelador de uma estratégia que reconhece o poder de atração destes eventos.
Será que poderíamos atribuir à noção de contingência como uma explicação ao forte interesse pela experiência cinematográfica nos festivais de cinema?
Bibliografia
- DE VALCK, Marijke, KREDELL, Brendan & LOIST, Skadi. Film Festival – History, theory, method, practice. London and New York: Routledge, 2016.
ELSAESSER, Thomas. Cinema como arqueologia das mídias. São Paulo: Edições Sesc SP, 2018.
HARBORD, Janet. “Contingency, time, and event: an archaeological approach to the film festival”. In: DE VALCK, Marikje; KREDELL, Brendan e LOIST, Skadi (orgs). Film Festivals – History, theory, method, practice. London and New York: Routledge, 2016.
______. “Film Festivals – Time-Event”. In: IORDANOVA, Dina [org.]. The Flm Festival Reader. St Andrews, Escócia: St Andrews Film Studies, 2013.
MORAES, Maria Teresa Mattos de. O Festival do Rio e as configurações da cidade do Rio de Janeiro. 2018. f. Tese (Doutorado em Comunicação) Programa de Pós Graduação em Comunicação, Faculdade de Comunicação Social, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2018.