Ficha do Proponente
Proponente
- Elizabeth Motta Jacob (UFRJ)
Minicurrículo
- Elizabeth Jacob é doutora em Teatro, UNIRIO, Mestre em Comunicação Social, UFF, possui Diploma de Estudos Aprofundados, Universidade de Paris I, Sorbonne. Coordena o programa de Pós-Graduação em Artes da Cena, ECO/UFRJ e é Professora Adjunta do Curso de Comunicação Visual Design EBA/UFRJ. Cenógrafa e diretora de arte trabalha com questões relativas à cena expandida, direção de arte e a construção de visualidades hápticas no cinema contemporâneo.
Ficha do Trabalho
Título
- A direção de arte na construção da visualidade háptica de Naomi Kawase
Mesa
- Sensorialidade e alegorias na direção de arte
Resumo
- Este artigo tem como foco a obra de Naomi Kawase, O Sabor da Vida (2015), que aborda a questão da perda e da reconstrução da identidade através de procedimentos de recodificação da memória.
Entendendo a direção de arte como o campo da mise-en-scène cinematográfica que estrutura o espaço cênico e a caracterização das personagens, analisaremos de que modo seus meios expressivos trabalham no sentido de tornar háptica a visualidade cinematográfica capturando sinestesicamente o espectador.
Resumo expandido
- O presente artigo trata do papel da direção de arte na construção de uma visualidade háptica no cinema de Naomi Kawase, em especial, no que concerne ao filme O Sabor da Vida (2015).
Kawase trabalha de forma intimista e pessoal e aborda, nos filmes ficcionais e nos documentários, a questão da perda e busca da identidade. Para tanto, a realizadora traz à tona em sua obra a subjetividade de seus personagens através de um mergulho interior e de sua conexão com os objetos, imagens, sons o que implica na “tentativa de traduzir para um meio audiovisual os conhecimentos do corpo, incluindo as memórias não registradas dos sentidos.”(MARKS, 2000, p.5).
Neste cinema a câmera assume o lugar do olhar do espectador e possui fisicalidade intensa criando uma relação de proximidade participativa com o que é filmado. Assim sendo, podemos dizer que Kawase explora sensorialidades multilineares enquanto dimensão basilar para a construção da experiência estética que pretende promover em seus espectadores. Servindo-se de poucas ações e falas ela valoriza a dimensão háptica da visualidade construída tornando-a elemento potente na construção de uma experiência afetiva em suas dimensões cotidianas.
Em narrativas emocionalmente densas, Kawase constrói uma imagem radicalmente subjetiva que tece, por entre índices de presenças e ausências uma dimensão de afeto calcada no passado afetivo.
Existe, no entanto, uma particularidade nas narrativas desenvolvidas por Kawase no que tange a dor e perda. Seus personagens, ao entrarem em contato com o mundo sensível e tangível, ou seja, a partir da vivificação da memória vão se transformar, realizando um luto efetivo e partindo para um novo presente.
Para que a memória seja potencializada no cinema, nos diz Marks (1999), é necessário que ela seja decodificada e que o espectador por ela seja contaminado. A mudança entre a visão háptica e a óptica descreve o movimento entre a relação de toque e de visão. A experiência do olhar assim constituída leva o espectador a refletir sobre o fato da memória ser mais fortemente codificada em termos de toque, som, cheiro, do que pela visão. E, o cinema, enquanto a conjunção entre o visual e o sonoro cria a consciência da ausência do toque sendo forçado a buscar meios de expressar o inexpressável. Para que o cinema tenha esse ganho ele vai lançar mão, diz Marks, da consciência de que a memória está codificada em objetos.
Os enquadramentos utilizados, o esgarçamento do tempo, o olhar atento aos ruídos, a densa malha sonora, entre outros modos de despertar a aproximação sensorial com os objetos, são artifícios deste cinema. Neste sentido o trabalho da direção de arte – parte da mise-en-scène cinematográfica que estrutura o espaço cênico e a caracterização das personagens – será crucial. As materialidades plásticas por este departamento engendradas suportam a construção de uma visualidade que desliza entre o óptico e o háptico explorando os materiais manipulados, as texturas, a natureza dos objetos dando voz aos significados intradiegéticos que carregam.
Neste processo de criação de uma materialidade carregada de conteúdos afetivos funda-se um engajamento essencial entre o corpo do espectador, atiçado por estímulos sensórios variados, e a narrativa deste modo construída.
Em O Sabor da Vida (2015) tais efeitos são potencializados. O filme aborda o encontro de um confeiteiro e uma senhora idosa que vem a auxiliá-lo. A partir do aroma desprendido pelos feijões doces, do som do vento, da água que escorre, se estabelece um relacionamento sensível entre que vai permitir também que as feridas causadas pela vida também se manifestem. Elas estão registradas nas lesões deformadoras das mãos da senhora e nas perdas sofridas pelo confeiteiro.
A construção delicada das materialidades através dos materiais, texturas e cores, matéria prima do trabalho de direção de arte, vão ser potentes na conexão com o sensível através da construção de uma visualidade háptica que captura sensorialmente o espe
Bibliografia
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