Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Silvia Helena Cardoso (UNIFESSPA)

Minicurrículo

    Silvia Helena Cardoso, artista, antropóloga e professora universitária; Doutora em Artes e Mestre em Multimeios, IA/UNICAMP; Bacharel em Ciências Sociais/Antropologia, FFLCH/USP; Fotógrafa e Filmmaker; Ministra as disciplinas de Linguagem Fotográfica, Linguagem Audiovisual e Pesquisa em Poética Visual; É docente no curso de Licenciatura em Artes Visuais da Faculdade de Artes na Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará; De São Paulo Capital para Marabá, Sudeste Paraense.

Ficha do Trabalho

Título

    Tão Perto, Tão Longe – Filmes Inocentes em Serra Pelada, Brasil.

Resumo

    Dois curtas-metragens produzidos por estudantes de Licenciatura em Artes Visuais na disciplina de Linguagem Audiovisual sobre o universo da Vila de Serra Pelada. A experiência do cinema trouxe ao debate a história social viva presente na maioria das famílias do sudeste do Pará. A tríade – ouro, sonho, garimpo – foi o fio condutor dos filmes. A experiência do cinema – o fazer propriamente – marcou a produção como lugar do conhecimento, do diálogo constante entre diferentes áreas do saber.

Resumo expandido

    A Vila de Serra Pelada, Município de Curionópolis, está localizada a 154 km da Cidade de Marabá no Sudeste do Estado do Pará. Serra Pelada tem uma história nacional dramática: o garimpo movimentou centenas de pessoas de todas as partes do país; a extração manual do ouro foi a atividade que dinamizou a economia local, bem como impulsionou o desejo e o sonho individual de riqueza, mesmo que colocando a própria vida em risco (1980/1992). Não é difícil encontrar uma família na região sem uma história com o garimpo: “meu pai trabalhou na cava”, “minha mãe ficou sozinha, enquanto meu pai garimpava”; “meu pai tinha o sonho de ficar rico, mas não ficou, tudo ilusão”, “minha sogra espera até hoje o dinheiro retido pelo banco”, “ele bamburrou”, dentre outras afirmações. Portanto, essa é uma das realidades encontradas no sudeste paraense. Simultaneamente, o Bico do Papagaio, área histórica da Guerrilha do Araguaia (1972/1975), uma espécie de vista panorâmica entre os estados do Pará, Tocantins e Maranhão, também está presente no imaginário coletivo, contudo de forma menos contundente do que Serra Pelada, uma vez que existe uma vaga memória da passagem dos “guerrilheiros pela região”. Desta forma, duas narrativas relativamente recentes se entrelaçam: de um lado, o garimpo, de outro, a guerrilha. Neste contexto social e emocional, o que fazer? Fotografar, Filmar, Entrevistar, Viajar? Tudo era muito novo, não só para a docente, como também para os discentes, mesmo morando por toda a vida em Marabá e cidades vizinhas, a maioria dos estudantes nunca tinham viajado para a Serra Pelada, enquanto outros ignoravam totalmente a Guerrilha do Araguaia. O projeto foi lançado: duas viagens para fotografar, filmar e conversar com os moradores da Vila de Serra Pelada. O primeiro deslocamento entre a UNIFESSPA e a Vila foi marcadamente para conhecer o trajeto, a cava, o túnel, os moradores e ex-garimpeiros; o segundo para filmar, isto é, produzir vários planos e sequências, com a intenção de fazer curtas-metragens. Além dos alunos, convidamos um poeta cordelista e um ex-armador de minas de minérios para nos acompanhar. Portanto, professora, alunos e convidados rumaram para a Serra Pelada… A disciplina de Linguagem Audiovisual ofereceu suporte teórico – os gêneros documentário e experimental foram os mais trabalhados, uma vez que contávamos com estudantes de Licenciatura em Artes Visuais, portanto futuros professores dos ensinos fundamental e médio, além de alguns aspirantes ao universo cinematográfico. O fazer audiovisual e/ou cinema, preferimos audiovisual, uma vez que os recursos técnicos são pequenos ou quase inexistentes (contamos com alguns equipamentos emprestados de uma pró-reitoria, com celulares e câmeras fotográficas para captação de imagem estática e em movimento, além de som), sempre esteve presente no conteúdo da disciplina, bem como refletir sobre a dimensão da imagem em movimento aliada ao registro da história social viva, especialmente no sudeste paraense. Da experiência, dois filmes de curtas-metragens foram finalizados: Ferida Amazônica (estética experimental) e Artistas da Serra (documentário), ambos de 2018; enquanto dois outros audiovisuais permanecem em etapa de edição. Considerando a área “Cinema e Educação”, especificamente a Lei 13.006/14, além do assistir filmes, apreciar um produto audiovisual brasileiro disponível em diferentes plataformas e posterior discussão acerca da temática, da linguagem, das personagens, entre outros assuntos de possível debate, com o intuito de “formar o olhar”, faz-se necessário o FAZER filmes, porque tal empreendimento necessita de: pesquisa, relações interpessoais (considerando o caráter coletivo do audiovisual), das alternativas para solucionar os problemas enfrentados, das questões técnicas e de linguagens eleitas, ou melhor, tirar o filme da dimensão do fascínio, do estado de pura contemplação e transportá-lo para o nível da confecção, pois o cinema é o lugar do conhecimento.

Bibliografia

    BERNARDET, Jean-Claude. Cinema Brasileiro: propostas para uma história. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
    BRASIL, J. O Garimpeiro: Do Sul e Sudeste Paraense. Marabá: Edição Autônoma, 2004.
    FRESNET, A. (org). Cinema e Educação: A lei 13.006/2014 – Reflexões, Perspectivas e Propostas. Belo Horizonte: Ed. Universo Produção:, s/d.
    JESUS, E. Walter Zanini: vanguardas, desmaterialização, tecnologias na arte. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2018.
    MARTIN, M. A linguagem cinematográfica. Trad. Paulo Neves. São Paulo: Brasiliense, 2013.
    MELLO, C. Extremidades do Vídeo. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2008.
    OHATA, M. (org). Eduardo Coutinho. São Paulo: Cosac Naify, 2013.
    RANCIÈRE, J. O espectador emancipado. Trad. Ivone C. Benedetti. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2014.
    TARKOVSKI, A. Esculpir o Tempo. Trad. Jefferson Luiz Camargo. 3. Ed. – São Paulo: Martins Martins Fontes, 2010.
    XAVIER, I. (org). O Cinema no Século. Rio de Janeiro: Imago Ed., 1996.