Ficha do Proponente
Proponente
- Cristina Teixeira Vieira de Melo (UFPE)
Minicurrículo
- Professora do curso de Cinema e do Programa de Pós-graduação em Comunicação da UFPE. Mestre em Linguística pelo Programa de Pós-graduação em Letras e Linguística da UFPE. Doutora em Linguística pelo IEL/Unicamp.
Ficha do Trabalho
Título
- A figura do inimigo na produção audiovisual do Ocupe Estelita
Seminário
- Cinema brasileiro contemporâneo: política, estética, invenção
Resumo
- A ideia é voltar à produção audiovisual do Movimento Ocupe Estelita a fim de investigar como foi ali construída a figura do inimigo político. De que forma foi tratada essa alteridade? Como o discurso adversário foi inscrito no interior dos registros audiovisuais? Esses registros foram capazes de criar um espaço de diálogo com o discurso opositor ou serviram apenas ao seu aniquilamento? Enfim, em contextos de confronto político dessa natureza é possível resguardar ao inimigo um tratamento ético?
Resumo expandido
- No domingo 31 de março de 2019 foi derrubada a última parede dos armazéns do Cais José Estelita, no Centro do Recife. A área é foco de disputa desde 2012, quando um consórcio de empreiteiras lançou o Projeto Novo Recife prevendo a construção de 13 torres de até 38 andares no local. Desde essa época, o terreno é alvo de inúmeras ações jurídicas, manifestações e ocupações que ganharam projeção local, nacional e internacional.
Em disputa, duas concepções de cidade: de um lado, a cidade neoliberal da especulação imobiliária e dos condomínios privados de luxo; do outro, um desejo de cidade com moradia para os que não têm, praças, parques equipamentos culturais e comércio voltado para a população.
No meio dessa disputa, o audiovisual cumpriu (e ainda cumpre) papel importante. Uma evidência disso é o levantamento feito em 2015 pelo Movimento Ocupe Estelita que conseguiu mapear mais de 90 produções audiovisuais relacionadas à luta pelo direito à cidade.
Além disso, o Movimento Ocupe Estelita tem sido foi alvo de inúmeras pesquisas no campo das ciências sociais, incluindo o audiovisual. Uma pesquisa no Google Acadêmico aponta mais de 500 trabalhos sobre o Movimento. Eu mesma apresentei na Socine de 2015 um texto a respeito (“Cinema militante, a experiência do #OcupeEstelita).
A ideia do presente trabalho é voltar à produção audiovisual do Ocupe Estelita a fim de averiguar como na materialidade mesma da linguagem, ou seja, na sua dimensão estética, se construiu a figura do inimigo político. De que forma foi tratada essa alteridade? Como o discurso adversário foi inscrito no interior dos registros audiovisuais produzidos pelo Movimento? As imagens foram capazes de criar um espaço de diálogo com o discurso opositor ou serviram apenas ao aniquilamento desse outro? Foi possível criar um espaço de diálogo com o discurso oponente sem trapacear, sem rebaixá-lo a uma caricatura? Foi possível fugir ao discurso dogmático e panfletário que rebaixa não só o adversário, mas também o lugar do espectador? Enfim, busca-se investigar se em contextos de confronto político em que o sujeito opositor atua a partir de princípios anti-democráticos, é possível resguardar ao inimigo um tratamento ético?
Para fazer essa análise nos apoiamos em estudos clássicos e contemporâneos sobre cinema militante bem como em pesquisas que discutem a ideia da representação do inimigo/adversário no campo da política.
Bibliografia
- BRENEZ, Nicole. & MARIONE, Isabel. Cinémas libertaires: au service des forces de transgression et de révolte. Paris: Septentrion, 2015.
CESAR, Amaranta. Que lugar para a militância no cinema brasileiro contemporâneo? Interpretação, visibilidade e reconhecimento. Revista Ecoi Pós v.20, n.2, 2017.
COMOLLI, Jean-Louis. Filmar o inimigo é fazê-lo entrar em um filme junto comigo (entrevista). In: Catálogo do 17. Festival do Filme Documentário e Etnográfico. Fórum de Antropologia, Cinema e Vídeo (Forumdoc.BH), pp. 277 a 287, 2013.
MOUFFE, Chantal. Sobre o político. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2015.
PEDROSO, Marcelo. Antagonismos na imagem documental: os modos securitário e agonístico. (Tese). Programa em Pós-graduação em Comunicação Social da UFPE, 2019.
SEVERIEN, Pedro. Cinema de ocupação: uma cartografia da produção audiovisual engajada na luta pelo direito à cidade no Recife. (Dissertação). Programa em Pós-graduação em Comunicação Social da UFPE, 2018.