Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    MARIA PAULA PINTO DOS SANTOS BELCAVELLO (UFJF)

Minicurrículo

    Graduada em Pedagogia (UFJF), mestra em Educação (UFJF) e doutoranda em Educação (UFJF). Atualmente, está Vice-Diretora Pedagógica do Colégio Tiradentes da Polícia Militar (PMMG) e Professora da UAB (FACED-UFJF). Pesquisadora associada ao Travessia Grupo de Pesquisa (NEC-UFJF). Desenvolve pesquisas no campo da Filosofia da Diferença. Áreas de interesse: educação-cinema-filosofia: experimentação-linguagem-formação. mariapaulaufjf@gmail.com.

Coautor

    Wescley Dinali (UFJF)

Ficha do Trabalho

Título

    O que pode o cinema? O que pode a educação?: rastros de um CineDebate

Resumo

    A proposta de trabalho à SOCINE é apresentar rastros de um exercício de experimentação com o cinema, que se deu em um CineDebate – filme Rabbit-Proof Fence (2002); junto à Faculdade de Educação da UFJF. Problematizações como: O que pode o cinema? O que pode a educação? O podem o cinema e a educação em tempos de ataques e retrocessos? O que pode o corpo como resistência? O que pode a micropolítica como campo revolucionário?, moveram as discussões relacionadas à tríade “Cinema-Educação-Filosofia”.

Resumo expandido

    Este trabalho é movido por um exercício de experimentação que se deu junto à Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), na III Semana de Acolhimento da Faculdade de Educação (FACED), na qual propomos um CineDebate com o filme Rabbit-Proof Fence (2002), de Phillip Noyce. Tal filme se passa na Austrália (1930) e narra a história de três meninas aborígenes que são retiradas de suas famílias, por um oficial, e levadas para um Centro Educacional, a fim de serem educadas e inseridas na sociedade ocidentalizada. Uma ação realizada por ordem da política oficial colonizadora de branqueamento do governo australiano, que tinha como um dos seus projetos a extinção dos povos aborígenes. No Centro Educacional, as meninas são sujeitadas a se enquadrarem aos costumes ocidentais cristãos, sendo “adestradas” por meio de violência e privações, para se tornarem, futuramente, empregadas e servirem aos brancos “civilizados” em todos os aspectos, inclusive sexual. Contudo, mesmo com o constante controle e vigilância, elas conseguem fugir e caminham, por quase 3 mil km, à procura da cerca à prova de coelho que as levaria de voltar para casa. Essa história é baseada em fatos que nos levam a imaginar o que se passou com essas crianças que se arriscaram e enfrentaram, por 9 semanas, os perigos que um deserto pode oferecer. De acordo com Michel Foucault (2019), mesmo o corpo sofrendo as ações micropolíticas do controle ele, constantemente, resiste, pois onde há poder sempre existirá resistência. O filme dá a ver corpos sequestrados lutando contra forças de controle. Diante disso, problematiza-se: O que pode o cinema? O que pode a educação? O que podem o cinema e a educação em tempos de ataques e retrocessos? O que pode o corpo como resistência? O que pode a micropolítica como campo revolucionário? Essas, e outras problematizações, relacionadas à tríade “Cinema-Educação-Filosofia”, surgiram nesse espaço de formação da Universidade como desejo de um debate. O modo como as três meninas movimentam a narrativa do filme, lançam-nos para múltiplas reflexões, dando-nos a pensar, sobretudo, a potência do cinema (que não se reduz ao filme) e da educação no processo formativo. Um convite para saída dos clichês, das verdades cinematográficas e pensar com o cinema, problematizar com o tempo, com as imagens (DELEUZE, 2013). Um cinema que desconfia do próprio cinema, de “um aparelho ideológico produtor de imagens que circulam na sociedade” (RANCIÈRE, 2012, p. 14). É também uma proposta de construção de um novo olhar, que não pretende dar conta do visível, do molar, mas que penetra no mundo, na sua molecularidade, em uma experimentação, antes de ser uma consideração ou contemplação, como sugere o filósofo Jean-Luc Nancy. Nesse sentido, pensamos como Giovana Scareli e Priscila Fernandes quando ressaltam que “o cinema, os filmes, os diretores de cinema e seus métodos de fazer cinema nos ajudam a compreender, não somente os seus filmes, mas também o mundo à nossa volta” (2016, p. 16). Assim sendo, nossa proposta foi a de acionar a sétima arte como potência do pensar, que envolve e produz “um choque no pensamento, comunicar vibrações ao córtex, tocar diretamente o sistema nervoso e cerebral”, convertendo em potência o que ainda só era possibilidade (DELEUZE, 2007, p. 189). Deleuze destaca três relações que operam no entre, nessa distância cinema-pensamento: “a supressão de um todo ou de uma totalidade das imagens, em favor de um fora que se insere entre elas; a supressão do monólogo interior como todo do filme em favor de um discurso e de uma visão indiretos livre e a supressão da unidade do homem e do mundo, em favor de uma ruptura que nada mais nos deixa que uma crença neste mundo. Uma relação que faz devir o pensamento, problematizando a vida contemporânea” (2013, p. 226). Trata-se, portanto, de pensar a potência do cinema como abertura a outros modos de produção de subjetividade e de experimentação com a educação e com a vida.

Bibliografia

    DELEUZE, Gilles. A imagem-tempo. São Paulo: Brasiliense, 2013.

    FOUCAULT, Michel. História da sexualidade I: A vontade do Saber. 19.ª ed. Rio de Janeiro: Edições Graal, 2019.

    NANCY, Jean-Luc. La evidencia del filme: El Cine Deabbas Kiarostami. 2.ª ed. Espanha: Errata Naturae, 2008.

    RANCIÈRE, Jacques. As distâncias do cinema. Rio de Janeiro: Contraponto, 2012.

    SCARELI, Giovana; FERNANDES, Priscila Correia. Cinema e cotidianos e pesquisa em educação. Quaestio, Sorocaba, SP, v. 18, n. 1, p. 15-33, maio 2016.