Ficha do Proponente
Proponente
- Luiz Felipe Rocha Baute (UNICAMP)
Minicurrículo
- Luiz Felipe Baute é mestrando em Multimeios na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Atualmente, desenvolve pesquisa sobre os gêneros cinematográficos e suas relações sócio-culturais.
Ficha do Trabalho
Título
- Localizando o western contemporâneo
Resumo
- Serão exploradas as intersecções entre o cinema western e as formações sociopolíticas contemporâneas. Com o objetivo de explorar a fundo as categorias do gênero, utilizarei dos conceitos de “tradição seletiva”, de Raymond Williams e de “campo de produção cultural”, de Pierre Bourdieu. A partir de um recorte da cinematografia recente do western, analisarei os modos de articulação de questões atuais materializadas em obras do gênero, bem como seus desdobramentos no cinema e para além dele.
Resumo expandido
- O western é um dos gêneros mais preponderantes do cinema e audiovisual. Organizado em torno de uma proposta estética e progressão narrativa bem delimitadas, costumeiramente o enredo do gênero girou em torno da figura de um herói aliado a uma ambientação visual rica. Ao longo de sua história, o western foi, sucessivas vezes, associado à cultura e a política dos Estados Unidos da América (ALTMAN, p. 38, 1999; ANDERSEN, p. 21, 1979; PIPPIN, p. 4, 2010). Tendo em vista suas diversas materializações, defendo que o gênero no cinema pode ser melhor analisado a partir de uma ótica interdisciplinar, considerando a confluência formal de sua origem, iniciada nas histórias populares acerca da expansão para o Oeste e consolidada entre folhetins e narrativas curtas conduzidas por revistas Pulp e performances como os Wild West Shows, como partes constituintes de uma longa tradição cultural.
Para localizar as formações do cinema western no contemporâneo, utilizarei do conceito de “tradição seletiva”, de Raymond Williams e de “campo de produção cultural”, de Pierre Bourdieu. Para Williams, uma tradição seletiva é formulada através de recortes intencionais de um passado (tradição) com o objetivo de orientar um processo social e cultural específico, cuja principal função é a de identificar e definir formas, a fim de incluí-las ou excluí-las de uma determinada classificação, no presente (WILLIAMS, p. 115, 1977). Para Bourdieu, o campo de produção cultural atua em conjunto com o campo do poder, orientando os “processos de hierarquização” dos campos “heterônomo” (mais favorável ao dominante econômico e político) e “autônomo” (menos favorável ao dominante econômico e político), que atuam como formas alternativas para conferir valor à uma determinada obra artística, influenciando a sua produção (BOURDIEU, pp. 37-40, 1993) — e, no caso do cinema hollywoodiano, de maneira determinante para a continuidade, ou não, de um gênero.
A partir de um breve debate em torno de ambos os conceitos como complementares à uma abordagem comparatista do gênero, apontarei subversões formais nas narrativas de western contemporâneos em paralelo a discussão de valores morais, culturais e sociais nos EUA nos dias de hoje. O western, contudo, não se limitou ao território estadunidense e, assim como outros gêneros, continua sujeito as transformações produzidas pelas tensões entre as diferentes esferas da produção, exibição e recepção do cinema. A sua ressignificação enquanto texto genérico possibilitou um diálogo mais abrangente com outros textos, resultando em uma maior hibridização de sua forma. Defendo essa visão ao considerar o gênero não como um conjunto de categorias inertes, mas como uma forma cultural em constante transformação.
Neste contexto, analisarei obras que apresentam subversões à forma clássica do gênero e representam suas convenções sob outras perspectivas, como O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford (2007), Onde Os Fracos Não Tem Vez (2007), Bravura Indômita (2010), Westworld (2016 – atual), Logan (2017) e A Balada de Buster Scruggs (2018).
Investigarei as influências culturais e políticas contemporâneas dos EUA em cotejo a esse recorte da cinematografia recente do gênero, com o objetivo de explorar a fundo as categorias dessa prática audiovisual. Em meio a esse processo, distintas vozes articulam suas posições e disputam espaço, gerando contradições que são materializadas na composição formal de obras artísticas. Argumento que o western pode ser melhor compreendido exatamente nessa configuração, como um tipo de narrativa de competição.
Viso analisar o momento atual, cujos limites e pressões do período “clássico” do gênero — em seu estágio de maior sucesso econômico e de crítica — ainda persistem, de uma maneira ou de outra, subsistindo como pastiche, farsa ou tragédia, em obras no cinema, na televisão e em outras formas, bem como na cultura e na política contemporâneas.
Bibliografia
- ALTMAN, Rick. Film Genre. Londres: BFI Publishing. 1999.
ANDERSEN, R. The Role of the Western Film Genre in Industry Competition, 1907– 1911’, Journal of the University Film Association 31, 2:19–27. 1979.
BOURDIEU, Pierre. The Field of Cultural Production: Essays on Art and Literature. Nova Iorque: Columbia University Press. 1993.
DENNING, Michael. Mechanic Accents: Dime Novels and Working-class Culture in America. Londres: Verso. 1987.
NEALE, Steve. Genre and Hollywood. Nova Iorque: Routledge. 2000.
PIPPIN, Robert B. Hollywood Westerns and American Myth: The importance of Howard Hawks and John Ford for political philosophy. New Haven: Yale University Press. 2010.
WILLIAMS, Raymond. Marxism and Literature. Oxford: Oxford University Press, 1977.
XAVIER, Ismail. “A alegoria histórica” In RAMOS, Fernão org. Teoria Contemporânea do Cinema, Vol. I. São Paulo: Editora Senac. 2005.