Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Sheila Schvarzman (UAM)

Minicurrículo

    Sheila Schvarzman é Pós-Doutora em Multimeios e doutora em História Social- UNICAMP. Professora do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Anhembi Morumbi – SP. Organizou com Fernão Ramos a “Nova História do Cinema Brasileiro” em 2 volumes. São Paulo, Editora Sesc, 2018, na qual escreveu 3 capítulos, dentre eles O Cinema Brasileiro Contemporâneo de Grande Bilheteria. entre outros artigos e livros sobre a História do Cinema e o Cinema na História. É membro do Conselho da SOCINE.

Ficha do Trabalho

Título

    O que resta do Cinema Brasileiro Contemporâneo de Grande Bilheteria

Resumo

    Refletimos sobre os caminhos atuais do cinema brasileiro de grande bilheteria marcado por forte perda de público, diminuição de produções, mudança nas temáticas e gêneros e a crise nas formas de sustentação. O que resta de uma produção – talvez errática, talvez já por se firmar – que políticas públicas haviam permitido se desenvolver? Por onde caminha esse cinema durante os últimos três anos? A quem se dirige e o que procura dizer? Que país é possível entrever a partir dessas ficções?

Resumo expandido

    O cinema brasileiro contemporâneo de grande bilheteria veio se afirmando desde 2002-3, ano de sucessos e repercussão pública. A partir de 2006 a comédia se firma como o gênero de maior público e a partir de 2009 é sensível no aumento do público e nas temáticas a participação do público popular, a então chamada Classe C, camada que estava ascendendo de níveis de pobreza para uma maior possibilidade de consumo, educação e valorização pelo trabalho. Apesar dessa mesma classe ser ainda alvo do riso e de preconceitos arraigados que se exprimiam em muitas dessas comédias, e do consumo através de enriquecimento súbito, viagens de cruzeiro ou compras em Miami ou visitas à Disneyworld ser um dos seus temas mais frequentes, ao longo da década seguinte filmes mais voltados para essa camada, ou mais sensíveis aos seus interesses e características também despontam com grandes resposta de público que passava a frequentar os multiplexes dos Shoppings Centers, outra das aspirações significativas do período. Título exemplar nesse sentido é Vai que Cola, onde atributos, signos e lugares cultuados pela classe média tradicional são subvertidos e convertidos em alvo do riso. Ao longo desse período, apesar do caráter errático dos temas e gêneros (ora apoiados em sucessos da TV e depois da TV paga, ora adaptando sucessos literários, ou do teatro e apostando até mesmo em adolescentes da TV e da internet), o cinema brasileiro foi capaz de criar franquias de sucesso na comédia e na comédia romântica, revelar seus cômicos de sucesso (todos da TV paga), e abria brechas em direção a comédias francamente populares, como nos filmes cearenses de Helder Gomes. Ou seja, temáticas, recriações e reapropriações a partir da TV e da TV paga, comediantes de prestígio e até mesmo incursões por novos gêneros como o filme religioso em suas vertentes católica, espírita e evangélica, recheados de melodrama e até mistério. Com a crise política e econômica que começa a se fazer sentir mais fortemente a partir de 2015 no cinema e sobretudo, 2016, as produções ganham novas inflexões. O ano de 2016 tem ainda apostas num público francamente popular, mas esses filmes diminuem muito em 2017 quando são substituídos por tios e mães simpáticas ou histéricas, crianças e adolescentes em direção à formatação de ‘filmes familiares’ não mais centrados no consumo e ascensão social como na franquia Até que a Sorte nos Separe, por exemplo. Trata-se agora da convivência entre jovens e adultos, as diferenças geracionais, ou o bulling entre os jovens, resolvidos por fadas!
    Há apostas em filmes de caráter político sob o manto do filme de ação, tornando heróis agentes da Polícia Federal, aproveitando-se do clima de conflito político, chegando até a um super-herói vingador: O Doutrinador (2018). Importante lembrar que a maioria expressiva dessas produções conta com a co-produção de Majors norte-americanas que garantem inclusive o investimento tecnológico, como é perceptível nesse ‘primeiro super-herói brasileiro’, conforme saudado pelo entusiasmo de um crítico jornalístico. No entanto, o público popular desapareceu das salas. As grandes bilheterias que entre 2003 até ao menos 2016 chegavam à dezena, restringem-se já em 2018 a um ou dois filmes, com bilheterias que não alcançam mais os milhões que outros anos conheceram. Em 2019 volta-se a apostar em comédias e franquias aparentemente seguras. Voltam as apostas nos filmes religiosos, mas os problemas com a Ancine e o corte drástico dos patrocínios a cultura e, antes de tudo a relação negativa com o país e o alto custo dos ingressos impactam o interesse do público pelos filmes brasileiros. Sendo assim, do que ainda falam esses filmes? A que realidade estão conectados? A que espectador se dirigem? Que país constroem em suas imagens?
    É a esse período crítico política, social, econômica e culturalmente que lançamos nosso olhar a partir dos filmes realizados e por realizar. E às políticas em vigor ou, até mesmo aquelas que deixarão de existir.

Bibliografia

    CAETANO, Maria Rosario – Em busca de circuito exibidor. Entrevista com Bruno Wainer. Revista de Cinema. 18.3.2019 http://revistadecinema.com.br/2019/03/em-busca-de-circuito-exibidor/ Acesso em 17.4.2019
    FAILACHE, Maurício José Vera – Cinema Brasileiro e Mercado: estudo de caso sobre o filme Dois Filhos de Francisco. Tese de Doutoramento. UFSCAR, 2019
    OBSERVATÓRIO BRASILEIRO DO CINEMA E DO AUDIOVISUAL https://oca.ancine.gov.br/cinema Acesso em 17 e 18/4/2019
    SCHVARZMAN, Sheila – O cinema contemporâneo brasileiro de grande público e a crise brasileira, Revista Olho da História 23, novembro de 2016
    SCHVARZMAN, Sheila – O Cinema Contemporâneo Brasileiro de Grande Público IN RAMOS, Fernão P. e SCHVARZMAN, Sheila (org.) Nova História do Cinema Brasileiro vol II. São Paulo: EDSESC, 2018.