Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Breno Mota Alvarenga (UFPE)

Minicurrículo

    Graduado em Comunicação pela UFMG (2014) e mestrando em Comunicação pela UFPE. É ainda realizador audiovisual, trabalhando como roteirista e diretor de curtas metragens. Apresentou em 2018 na SOCINE o trabalho “A Música e a Narrativa Fílmica: o Papel da Canção Popular em Aquarius”, primeiras reflexões sobre a futura dissertação.

Ficha do Trabalho

Título

    Sons do passado: relatos nostálgicos em paisagens sonoras fílmicas

Seminário

    Estilo e som no audiovisual

Resumo

    O trabalho tem como intenção investigar a possibilidade de paisagens sonoras fílmicas de instaurarem atmosferas específicas, em especial atmosferas nostálgicas. Para tal, propõe-se a análise da sonoridade de três filmes: Nostalgia (1983), Memórias do Subdesenvolvimento (1967) e Aquarius (2016). Por meio de uma reflexão sobre o uso de ruídos, silêncios, músicas e vozes nos três filmes, almeja-se questionar se o som do cinema faz comparecer a nostalgia de seus personagens.

Resumo expandido

    O objetivo do trabalho é explorar a capacidade do som do cinema de criar atmosferas nostálgicas nos filmes, investigando o uso de ruídos, voz, música e silêncio como possíveis elementos construtores de paisagens sonoras fílmicas de nostalgia.

    Para tal, propõe-se a revisão do conceito de nostalgia. A partir das investigações de Linda Hutcheon (2000), busca-se rever a origem da palavra e o percurso histórico das investigações acerca de tal sensação, abarcando desde o século XVIII (quando era considerada uma enfermidade) até atualmente, momento indicado pela pesquisadora como sendo de uma crise coletiva de nostalgia. Ainda, propõe-se uma reflexão sobre os estudos de Svetlana Boym (2001), especialmente sobre a distinção feita por ela entre nostalgia restaurativa e nostalgia reflexiva.

    A partir disso, uma análise do termo paisagem sonora seria instaurada, partindo em especial dos estudos de R. Murray Schafer. Segundo o autor, a paisagem sonora seria todos os elementos sonoros que fazem parte de um “ambiente acústico” (SCHAFER, 2001). Ou seja, qualquer tipo de evento sonoro circunscrito em um espaço e tempo, onde “o espaço acústico de um objeto sonoro é o volume de espaço no qual o som pode ser ouvido. O máximo espaço acústico habitado pelo homem será a área dentro da qual se pode ouvir a sua voz” (SCHAFER, 2001, p.299). Partindo para a aplicação deste conceito no cinema, busca-se refletir sobre as investigações de Fernando Morais da Costa (2010) sobre a paisagem sonora fílmica, em especial sobre os diferentes elementos sonoros que a compõem (ruídos, diálogos, silêncios e músicas, por exemplo).

    No que tange a parte analítica, almeja-se a reunião de um corpus fílmico que seja capaz de fornecer reflexões sobre os diferentes elementos sonoros pertencentes a uma paisagem sonora fílmica. Por exemplo, ao investigar a capacidade do silêncio e ruídos de instaurarem nostalgia, o filme Nostalgia (1983) será convocado para uma reflexão sobre a ausência de som e uso de ruídos minimalistas como uma estratégia de criação de uma atmosfera melancólica e saudosista do personagem em relação à sua infância. Já para investigar a voz, Memórias do Subdesenvolvimento (1967), por meio da relação do personagem com fitas antigas de um gravador, permite notar a capacidade da voz e do diálogo em rememorar tempos de outrora. Por fim, em relação ao uso da música, intenciona-se analisar o filme Aquarius (2016) a partir do uso de canções populares como pontes entre o presente e o passado da personagem Clara. Em especial nesta parte, as proposições de Tia DeNora (2004) sobre música e memória afetiva se farão enriquecedoras.

    Quanto à metodologia empregada, o estudo se valerá principalmente da análise de conteúdo. Ainda que os filmes sejam de países e anos distintos, procura-se encontrar os pontos de conexão entre eles, numa espécie de constelação reunida a partir de um som nostálgico. Por meio da reunião deste corpus fílmico e do referencial teórico necessário, o investigador se propõe a analisar a materialidade fílmica em seus pormenores (planos, montagem, fotografia e outros aspectos estéticos), além da narrativa do filme (que se deixa transparecer por meio de elementos como roteiro, direção e atuação), tendo sempre como ponto de referência a relação destes com o som. Uma importante metodologia para tal é a análise dos pontos de escuta, proposta por Michel Chion. O autor divide o som de um filme sob dois aspectos: o ponto de escuta espacial e o ponto de escuta subjetivo (CHION, 2011). Neste segundo, por exemplo, o pesquisador ocuparia um lugar em que toma como referencial o “personagem na ação, [onde ele] vê aquilo que eu vejo” (p. 74).

    Dessa forma, o seguinte estudo parte da hipótese de que os diferentes elementos sonoros fílmicos podem ser capazes de criar certas atmosferas em suas paisagens sonoras, em especial atmosferas nostálgicas. Para a comprovação ou refutação de tal hipótese, escolher-se-á um ou mais filmes para cada elemento sonoro.

Bibliografia

    BOYM, Svetlana. The Future of Nostalgia​. New York: Basic Books. 2001

    CARRASCO, Ney. Trilha musical: música e articulação fílmica​. Dissertação (Mestrado) – Universidade de São Paulo, USP, São Paulo, 1993.

    CHION, Michel. Audio-vision: sound on screen​. New York: Columbia University Press, 1994.

    COSTA, Fernando Morais da. Pode o cinema contemporâneo representar o ambiente sonoro em que vivemos? Rio de Janeiro: Logos: Comunicação e Audiovisual. Ano 17, nº01, 2010.

    DENORA, Tia. Music In Everyday Life. Cambridge. Cambridge University Press. 2004

    HUTCHEON, Linda; VALDÉS, Mario J. Irony, Nostalgia, and the Postmodern: A Dialogue​. Poligrafías. Revista de Literatura Comparada, División de Estudios de Posgrado, Facultad de Filosofía y Letras, Universidad Nacional Autónoma de México, Ciudad Universitaria, México, 2000.

    SHAFER, R. Murray. A afinação do Mundo​. São Paulo: Editora UNESP, 2001.