Ficha do Proponente
Proponente
- Wanderley de Mattos Teixeira Neto (UFBA)
Minicurrículo
- Mestre e doutorando em Comunicação e Cultura Contemporâneas pela UFBA na linha Análise de Produtos e Linguagens da Cultura Mediática com pesquisa na área de recepção cinematográfica. Integrante do Grupo de Pesquisa Recepção e Crítica da Imagem (Grim). Graduado em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo e Direito.
Ficha do Trabalho
Título
- Audiovisualidades críticas: Discursos sobre o cinema no YouTube Brasil
Resumo
- O intuito da comunicação é discutir o atual estágio da produção de críticas de cinema audiovisual no Brasil a partir dos canais de vídeo Isabela Boscov e Entre Planos, ambos presentes no YouTube. A partir de três demandas (de linguagem, da plataforma e de sociabilidade) pretendemos compreender da maneira como a retórica audiovisual da crítica online tem sido exercitada.
Resumo expandido
- Por força de uma cultura do audiovisual contemporânea facilitada pelo barateamento e maleabilidade da tecnologia que democratiza em parte os processos de realização e distribuição de vídeos, conforme Suzana Kilpp (2010), cada vez mais se produz conteúdos audiovisuais na internet. A produção de críticas de cinema é um desses nichos de realização de conteúdos que, tradicionalmente exercitado como texto, viu crescer um volume diversificado de discursos audiovisuais serem publicados em plataformas de vídeos como o YouTube, o Vimeo e o Dailymotion.
O intuito da apresentação é compreender como um tipo de conteúdo tradicionalmente concebido na forma de texto, com expedientes e estrutura difundida socialmente conforme David Bordwell (1991) e José Luiz Braga (2006), como a crítica tem sido formulado como possibilidade audiovisual. A partir de dois tipos de produção crítica de cinema brasileira correntes no YouTube, a crítica jornalística (modelo majoritário) a partir do canal Isabela Boscov e a crítica ensaísta (exceção em ascensão) por intermédio do canal Entre Planos, procuramos compreender uma espécie de retórica audiovisual dos vídeos em circulação na rede.
Para isso, em um primeiro momento, nos alicerçamos em demandas de linguagem que surgem, afinal trata-se de um discurso não declamado ou escrito, mas que se materializa como imagem e som. Percebemos como elementos do audiovisual, como a edição (Amiel, 2007) e uma performance (Goffman, 2002), perceptível seja quando o crítico se direciona para a câmera, narra um texto ou faz escolhas de figurino e cenário, se articulam em conjunto com as palavras. Notamos também como a produção audiovisual em questão realiza o que Kilpp (2010) entende como atualização, ou seja, incorpora uma tradição vinda de referências variadas como a crítica escrita, programas de televisão, vlogs e cinema em prol da construção da sua própria gramática audiovisual.
Há também demandas da plataforma, importando saber que a escolha desses produtores de conteúdo pelo YouTube, um site que, com o tempo, deixou de ser um espaço para dar vazão a anseios de expressão pessoal e se tornou altamente mercadológico (Carlón, 2013), com diversas possibilidades de monetização em curso, interfere na maneira como esses vídeos serão concebidos. Nesse sentido, é comum notar a produção de conteúdos por demandas de um patrocinador que sugere obras a serem comentadas ou a adequação dessas produções ao critério de atualidade típico do jornalismo cultural, produzindo críticas a partir da agenda de estreias do circuito cinematográfico ou lançamentos em canais de streaming como a Netflix. Mesmo quando a crítica em questão é ensaísta, a compreensão desse tipo de conteúdo como uma ramificação importante da indústria é bastante presente.
Por fim, há demandas de sociabilidade já que a relação da crítica na internet estreita as relações do produtor de conteúdo com o seu público, deixando-o mais vulnerável a contestações da sua fala, e demanda ações como inscrições, likes, compartilhamentos etc. (Jenkins, 2014), trazendo para o crítico a necessidade de construir-se como o líder de uma comunidade através da autoridade discursiva, mas evitando perder a “simpatia” do seu espectador com uma abordagem marcada pela distância social característica de um modelo de relação crítico-público do passado. Assim, além de convocar os espectadores a realizarem essas ações durante o conteúdo e sugerir links para textos e outros vídeos, há vídeos produzidos exclusivamente para responder a perguntas de inscritos e interação na barra de comentários do site, estendendo a relação crítico-público para além do player da plataforma.
Bibliografia
- AMIEL, Vincent. Estética da montagem. Lisboa: Edições Texto e Grafia, 2007.
BORDWELL, David. Making Meaning: Inferences and rhetoric in the interpretation of cinema. Harvard University Press, 1991.
BRAGA, José Luiz. A sociedade enfrenta sua mídia: Dispositivos sociais de crítica midiática. São Paulo: Paulus, 2006.
CARLÓN, Mario. Contrato de fundação, poder e midiatização. Matrizes, jan. jun 2013. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/matrizes/article/viewFile/56648/59667 Acesso em 03 mar. 2017.
GOFFMAN, Erving. A representação do eu na vida cotidiana. Petrópolis: Editora Vozes, 2002.
JENKINS, Henry. Cultura da Conexão: Criando valor e significado por meio da mídia propagável. São Paulo: Aleph, 2014.
KILPP, Suzana. Imagens conectivas da cultura. In: KILPP, Suzana; SILVA, Alexandre Rocha da; ROSÁRIO, Nísia Martins do. Audiovisualidades da cultura. Porto Alegre: Entremeios, 2010.