Ficha do Proponente
Proponente
- Marco Túlio de Sousa Ulhôa (UFF)
Minicurrículo
- Doutorando do Programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade Federal Fluminense, na linha de pesquisa de Estudos de Cinema e Audiovisual.
Ficha do Trabalho
Título
- Rasgar os olhos ao meio como Buñuel: Glauber Rocha e a política do NCL
Seminário
- Audiovisual e América Latina: estudos estético-historiográficos comparados
Resumo
- Ao propor que o cinema latino-americano deveria ser inventado, a partir da síntese dos elementos do neorrealismo italiano e do cinema soviético, Glauber Rocha propõe o “neo-sur-realismo”, como o resultado dessa equação. Estilo a ser produzido pelo ato transgressor de “rasgar o olho ao meio como Buñuel”. Logo, é a influência de Buñuel e de Franz Fanon na obra de Glauber, os objetos dessa pesquisa que investiga a produção do cineasta brasileiro e a política do Nuevo Cine Latinoamericano.
Resumo expandido
- Encruzilhada das experiências artísticas que definiram os caminhos do cinema latino-americano na primeira metade do século XX, o México, desde a visita de Sergei Eisenstein em 1930, a chegada de Luis Buñuel em 1946 e as passagens de Cesare Zavattini no início da década de 1950, abrigou alguns dos principais acontecimentos que resultaram na formação do Nuevo Cine Latinoamericano, no fim da década 1960. Em um texto datado de 1958, escolhido para abrir a coletânea Revolução do Cinema Novo, Glauber Rocha atribui à experiência de assistir ao filme Raíces (1954), do diretor mexicano Benito Alazraki, o encontro de uma síntese de duas propostas antagônicas aos olhos europeus, através da qual o cinema latino-americano poderia ser inventado. O neorrealismo de Zavattini e a montagem de Eisenstein seriam, de acordo com Glauber, o duplo referencial de um cinema que encontraria a sua síntese na obra de Buñuel. Eis a proposta, de certa forma, encarnada pela própria obra de Glauber Rocha e por seus manifestos Eztetyka da fome (1965) e Eztetyka do sonho (1971). Textos nos quais se pode observar uma confluência entre o pensamento de Franz Fanon e a linguagem de Luis Buñuel na conformação de um ideário político e estético alinhado à realidade social e às origens culturais dos países latino-americanos. Desse modo, Glauber não só transpõe a consciência despertada pela crítica de Fanon ao contexto cinematográfico, mas extravasa os limites do cinema surrealista em busca das concepções autóctones que o aproxima da história, mitologias e cosmogonias ameríndias.
O objetivo do presente estudo é analisar a relação que tanto o pensamento de Fanon quanto o cinema de Buñuel exercem na obra de Glauber Rocha, tendo em vista a importância de sua produção artística e intelectual na consolidação do movimento denominado Nuevo Cine Latinoamericano. Pois, a partir da inversão do processo de estetização da política, observado por Benjamin como a marca dos regimes totalitários surgidos na Europa durante a década de 1930, Glauber e outros realizadores latino-americanos propõe uma espécie de politização da estética, onde a arte cinematográfica almeja oferecer uma resistência cultural e um instrumento de mobilização social, aptos a colaborem na luta de libertação dos povos da América Latina. Logo, é a metáfora visual existente no filme Um cão andaluz (1928), o emblema de um corte dialético, mas, sobretudo, de uma ruptura com a máquina antropológica ocidental representada pelo projeto ontológico-fenomenológico que tem no olho, o signo de sua função cognitiva e de sua constituição fundamental. Nesse sentido, a proposta de Glauber em rasgar os olhos ao meio como fizera Buñuel, se define como um processo de politização da estética pautado pela luta descolonização do pensamento e pela libertação do inconsciente contra os domínios da razão. Dimensões evidentes na obra do diretor e no seu projeto para um novo cinema latino-americano.
Bibliografia
- AVELLAR, José Carlos. A ponte clandestina: Birri, Glauber, Solanas, Getino, García, Espinosa, Sanjinés, Alea – Teorias de cinema na América Latina. Rio de Janeiro / São Paulo: Ed. 34 / Edusp, 1995.
BENTES, Ivana. Cartas ao mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.
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FANON, Franz. Os condenados da terra. Tradução Enilce Albergaria Rocha e Lucy Magalhães. Juiz de Fora: Editora UFJF, 2015.
ROCHA, Glauber. O século do cinema. São Paulo: Cosac & Naify, 2006.
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_____________. Revolução do Cinema Novo. São Paulo: Cosac & Naify, 2004.
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