Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Fernanda Bastos Braga Marques (ECO-UFRJ)

Minicurrículo

    Fernanda Bastos é editora de audiovisual desde 1999, tendo editado diversos produtos como programas de TV, comerciais, clipes e filmes – incluindo curta e longa metragens, bem como filmes de artistas. Atualmente trabalha na recuperação, organização e edições inéditas da filmografia da artista plástica Brígida Baltar.
    Jornalista e mestre pela ECO – UFRJ, cursa agora doutorado na mesma instituição, com a tese Tempo visível, que trata de imagens do tempo engendradas por aparelhos e dispositivos.

Ficha do Trabalho

Título

    Três narrativas mínimas de Brígida Baltar

Seminário

    Montagem Audiovisual: reflexões e experiências

Resumo

    Este artigo propõe analisar três fotofilmes da artista Brígida Baltar – Abrindo a janela, Os 16 tijolos que moldei, Os mergulhos de – com enfoque no processo de montagem audiovisual, que os constrói atribuindo características cinematográficas, como duração e lógica sequencial a imagens estáticas.
    São filmes estruturados em narrativas mínimas, constantemente presentes na obra da artista.

Resumo expandido

    Brígida Baltar é uma artista plástica brasileira totalmente inserida no conceito de artevida. Ela tem o próprio corpo e a própria casa/ateliê como campos de experimentação e fontes de criação de sua obra, que inclui desenho, pintura, escultura, bordado, fotografia, cinema e vídeo. O trabalho da artista está quase sempre ligado aos processos, às experiências e aos afetos. Sendo assim, alguns de seus filmes são registros de performances, como Abrigo e Torre (ambos de 1996); outros são performances encenadas para a câmera, como Maria Farinha Ghost Crab (2004) e Voar (2011).
    Este artigo propõe analisar três fotofilmes da artista, são eles: Abrindo a janela (1996), Os 16 tijolos que moldei (2008), Os mergulhos de (1999). Além da origem fotográfica de suas imagens, os três filmes tem em comum a curta duração e a narrativa mínima, construída pela montagem audiovisual que atribui duração e sequencialidade às imagens estáticas. Por outro lado, cada um tem uma característica técnica, o que, associado às possibilidades da montagem, gera resultados muito diferentes.
    Abrindo a janela e Os 16 tijolos que moldei fazem parte da longa pesquisa realizada por Baltar sobre tijolos e pó de tijolos, desde 1992, na qual realizou trabalhos como os já citados Torre e Abrigo, Paisagens Vermelhas (2009), Passagem Secreta (2007) etc. No primeiro, a artista e seu filho abrem um buraco na parede da casa/ateliê, inventando uma nova janela. No segundo, ela mistura o pó de tijolo retirado da casa/ateliê ao barro do sertão brasileiro para fazer tijolos artesanais em uma olaria. Em Os mergulhos de, Baltar homenageia alguns colegas de uma residência artística da qual participou na Bahia fotografando seus mergulhos no mar. Ou seja, além das características formais já citadas, que reúnem os três filmes, podemos observar a marca do afeto cotidiano constante na obra da artista.
    Os fotofilmes são um campo experimental por excelência, uma vez que têm como premissa a desconstrução de um modelo – o cinema clássico – e a investigação de suas possibilidades imagéticas e narrativas. Inicialmente, com o desenvolvimento dos campos fotográfico e cinematográfico, nas áreas técnica e comercial, os discursos e saberes construídos em seu entorno, principalmente a partir da segunda metade do século passado, trataram mais de opô-los e separá-los por suas diferenças e de olhar para suas especificidades como meios, deixando um pouco de lado as interseções e diálogos. São discursos e saberes ligados a uma visão de mundo moderna, na qual tudo é separado e categorizado, em busca da pureza essencial de cada objeto, por isso mesmo as fronteiras e áreas de interseção não são consideradas. (LATOUR, 1994) Mas sempre há o desvio e o “entre”, e os fotofilmes habitam justamente essa fronteira entre a fotografia e o cinema – imagem fixa e imagem em movimento; interrupção e fluxo; matéria e luz – com a liberdade formal, que o rótulo de “experimental” lhes permite, alcançando resultados bem diversos.

Bibliografia

    BALTAR, Brígida. Passagem secreta. Rio de Janeiro: Editora Circuito, 2012.
    FATORELLI, Antônio, CARVALHO, Victa e PIMENTEL, Leandro (orgs.). Fotografia contemporânea – desafios e tendências. Rio de Janeiro: Mauad X, 2016.
    FATORELLI, Antonio. Fotografia contemporânea: entre o cinema, o vídeo e as novas mídias. Rio de Janeiro: Senac Nacional, 2013.
    GONÇALVES, Osmar (org.). Narrativas sensoriais. Rio de Janeiro: Editora Circuito, 2014.
    LATOUR, Bruno. Jamais fomos modernos. Rio de Janiero: Editora 34, 1994.
    MACIEL, Katia (Org.). Cinema Sim: Narrativas e Projeções. São Paulo: Itaú Cultural, 2008. Catálogo.
    ________. Transcinemas. Rio de Janeiro: Contra Capa, 2009.
    PARENTE, André; CARVALHO, Victa de. Entre cinema e arte contemporânea. revista Galáxia, São Paulo, n. 17, 27 p. 27-40, jun. 2009.
    ________. Narrativa e Modernidade: os cinemas não-narrativos do pós-guerra. Campinas: Papirus, 2000.
    TARKOVSKI, Andrei. Esculpir o tempo. São Paulo: Martins Fontes, 2010.