Ficha do Proponente
Proponente
- Leonardo Cesar Alves Moreira (UFRJ)
Minicurrículo
- Pedagogo (UFRJ) e mestrando em Educação pelo PPGE/UFRJ. É membro do Programa de Ensino, Pesquisa e Extensão CINEAD/UFRJ – Cinema para Aprender e Desaprender, onde atua em suas escolas de cinema desde 2015. Atualmente é professor substituto da Escola de Educação Infantil da UFRJ.
Ficha do Trabalho
Título
- Experiências de iniciação ao cinema numa escola de favela carioca
Seminário
- Cinema e Educação
Resumo
- O ensaio apresenta alguns do movimentos para a experiência de iniciação ao cinema com estudantes de uma escola pública municipal de favela, da cidade do Rio de Janeiro. Tratam-se de 6 aulas que foram sendo inventadas e experimentadas ao longo do próprio percurso. E que centradas nos gestos de assistir, fazer e exibir as produções fílmicas, produziram uma experiência criada junto aos estudantes. Pretendemos nesse texto, algumas reflexões em torno desses movimentos.
Resumo expandido
- Esse ensaio surge em conjunto a experiências de iniciação ao cinema do CINEAD (FE/PPGE/UFRJ). Onde nos debruçamos no campo educacional, dentro e fora da escola, desenvolvendo os gestos de assistir, fazer e exibir as produções fílmicas com, e para o diversificado público que participa dos cineclubes e da prática de exercícios de “fazer” cinema.
Partimos de uma concepção que enxerga os filmes como obras de arte e cultura (BERGALA, 2008) e de uma Pedagogia da Criação (Ibidem, 2008), como capacidade de ampliação da imaginação através da valorização dos processos criativos. Partilhamos, também, da noção de igualdade de inteligências (RANCIÈRE, 2002) entre os sujeitos envolvidos, como ponto de partida para assistirmos criativamente às obras.
Nesta escrita, procuramos partilhar de reflexões sobre os gestos cinematográficos supracitados com estudantes da rede pública de ensino. Onde refletimos sobre experiências de criação e realização de aulas de iniciação ao cinema com estudantes entre 9 e 14 anos, do segundo segmento da educação básica de uma escola municipal de uma favela da zona sul da cidade do Rio de Janeiro.
Nossos esforços se concentram em algumas apostas, que nos caminhos com cinema e educação, reverberam reflexões sobre os campos do currículo, da docência e da linguagem.
A primeira aposta está na criação de aulas de iniciação ao cinema. Essas aulas emergem como um conjunto de inspirações, que implicam na escolhas dos filmes/ fragmentos exibidos. Além de exercícios de iniciação ao cinema (BERGALA, 2008; FRESQUET, 2014), que junto a algumas regras do jogo e de motivos visuais do cinema (BALLÓ et. BERGALA, 2016) manifestam possíveis gestos de criação.
A segunda, está na forma como o processo foi sendo realizado. À medida como experimentávamos cada aula, e esta prática levava a diferentes desafios. Gerando uma composição de aulas desenhadas semanalmente.
A terceira, é de que as apostas acima só são válidas se inventarmos e experimentarmos essas aulas com o público. O público em questão, são os estudantes, que compartilharam conosco dos movimentos de assistir, fazer e exibir aos filmes.
Essa relação entre inventar e experimentar se dá no percurso de pesquisa realizado, uma vez que é indissociável das ações arquitetadas e realizadas na escola. Durante o período de aproximadamente 3 meses numa pequena sala com projetor, um computador, uma caixa de som e algumas cadeiras enfileiradas, procurávamos inventar um outro espaço-tempo na escola através das relações que se davam entre nós. Semanalmente, pela manhã, dispúnhamos de um curto tempo para exibir filmes e realizar algumas experiências práticas de “fazimento” de cinema. Foi nesse contexto que inventamos e experimentamos um conjunto de 6 aulas, que se manifestam em possíveis linhas de fuga dentro da concepção de ensino vigente.
Nessa experiência, à cada aula, procuramos nos concentrar em três movimentos com os/as estudantes: o primeiro, voltado a assistirmos aos fragmentos de filmes e/ou curta-metragens coletivamente. Neste momento, procurando exercitar nossos pontos de vista e de escuta através da análise criativa de planos e cenas (BERGALA, 2008). Em geral, assistíamos aos fragmentos/filmes procurando perceber novos e diferentes elementos a cada exibição; no segundo, focamos na realização de exercícios práticos de iniciação ao cinema (BERGALA, 2008; FRESQUET, 2014). Sendo acrescido do desafio de filmar a partir de regras do jogo acordadas com o grupo. Através desses gestos, presumem-se a passagem ao ato (BERGALA, 2008), envolvendo a realização de filmes; e por fim, a terceira, onde acontece a exibição dos filmes criados pelos/as estudantes para o próprio grupo, seguido da observação/ escuta criativa, refletindo coletivamente sobre os gestos de eleição, disposição e ataque (BERGALA, 2008). Partimos, portanto, dos movimentos de assistir, fazer e exibir filmes como pilares desta experiência com cinema e educação na escola.
Bibliografia
- BALLÓ, Jordi & BERGALA, Alain. Motivos Visuales del Cine. Barcelona: Galaxia Gutemberg, 2016.
BERGALA, Alain. A hipótese-cinema: pequeno tratado de transmissão do cinema dentro e fora da escola. Rio de Janeiro: Booklink; CINEAD/UFRJ, 2008.
FRESQUET, Adriana. Cinema e educação: reflexões e experiências com professores e estudantes de educação básica, dentro e “fora” da escola. Belo Horizonte: Autêntica, 2013. (Coleção Alteridade e Criação, 2).
FRESQUET, Adriana. Princípios e propostas para uma introdução ao cinema com professores e estudantes: a experiência do CINEAD/UFRJ. In: BARBOSA, Maria Carmen Silveira; SANTOS, Maria Angélica. (Org.). Escritos de Alfabetização Audiovisual. Porto Alegre: Libretos, 2014. cap. 1, p. 68-85.
RANCIÈRE, Jacques. O mestre ignorante: Cinco lições sobre a emancipação intelectual. Belo Horizonte: Autêntica; 2002.
RANCIÉRE, Jacques. O espectador emancipado. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2012.