Ficha do Proponente
Proponente
- César Donizetti Pereira Leite (UNESP)
Minicurrículo
- Psicólogo pela PUC-Campinas, Mestre e Doutor em Educação pela UNICAMP. Pós Doutorado pela FLACSO Argentina, pela Universidade Complutense de Madrid e pela Faculdade de Educação da UNICAMP. Livre Docente pela UNESP. Professor do Programa de Pós Graduação em Educação UNESP Rio Claro. Pesquisador do CNPQ – PQ2.
Ficha do Trabalho
Título
- Devir-cinema: Corpos e imagens infantis.
Seminário
- Cinema e Educação
Resumo
- As proposições aqui apresentadas se constituem a partir de trabalhos que desenvolvemos com produção de imagens realizadas por crianças e professoras de Educação Infantil. Estes produtos audiovisuais tem se apresentado como territórios potenciais de discussão acerca de questões em torno da infância, da criança e da educação. Temos chamado estes produtos de experiências educativas com produções de imagens. Aqui vemos emergir a possibilidade de um devir-cinema com imagens e crianças.
Resumo expandido
- As proposições aqui apresentadas se constituem a partir de trabalho que desenvolvemos com produção de imagens realizadas por crianças e professoras no universo escolar e mais especificamente da Educação Infantil. Estes produtos audiovisuais tem se apresentado como territórios potenciais de discussão acerca de questões em torno da infância, da criança e da educação. Temos chamado estes produtos de experiências educativas com produções de imagens realizadas com crianças e professoras na Educação Infantil.
Nesses trabalhos, nosso exercício tem sido o de pensar com crianças, de pensar com as pesquisas que desenvolvemos com produção de imagens e crianças e professoras. Nesses exercícios tomamos as imagens como ponto de partida, nelas vemos imagens de corpos virados, de corpos fragmentários, de corpos de passagens, de corpos-dedos e de dedos-corpos operando equipamentos. Vemos imagens de corpos infantis que subtraem outros corpos de uma pretensa totalidade identitária.
Dê-me portanto um corpo: esta é a fórmula da reversão filosófica. O corpo não é mais o obstáculo que separa o pensamento de si mesmo, aquilo que se deve superar para conseguir pensar. É ao contrário, aquilo em que ele mergulha e ou que deve mergulhar o impensado, isto é, a vida. (DELEUZE, 2007, p.225).
Pensar o corpo, com o corpo, corpos infantis, corpos crianças que se apresenta em um povoado universo de sons e ruídos, silêncios e focos – nítidos ou não – rostos, pés, cabeças, chãos e corpos. Corpos perambulando, se misturando com outros corpos, se tocando, irritando, confundindo. Corposcâmeras em câmerascorpos.
Como se o corpo pensasse, como se pensasse pelo e com o corpo. Pensamentos sem sentidos, rotineiros, ameaçados, há sempre a ameaça de um corpo invadindo outro, invadindo lugares, a câmera podendo ser parte do corpo e, se retirada passa a ser amputada, passa a ser corpo mutilado. Nestas mutilações e incorporações de e em outros corpos, vemos baba, gosma, bafo, movimentos, corridas. Temos vertigens nos corpos-movimentos. Deleuze é preciso ao dizer que:
as categorias da vida são precisamente as atitudes do corpo, suas posturas. ‘Não sabemos sequer o que um corpo pode’. […]. Pensar é aprender o que pode um corpo não-pensante, sua capacidade, suas atitudes ou posturas. É pelo corpo (e não mais pelo intermédio do corpo) que o cinema se une com o espírito, com o pensamento. ‘Dê-me portanto um corpo’ é antes de mais nada montar a câmera sobre um corpo cotidiano (DELEUZE, 2007, p. 227).
Com as imagens que as crianças oferecem temos corpos produzindo pensamentos vertigens, é isto que Deleuze chama de corpo cotidiano, “como isso que põe o antes e o depois no corpo, o tempo no corpo, o corpo como revelador no termo”. (DELEUZE, 2007, p. 228).
Aqui, um possível encontro do cinema com a educação. Como se nossa relação com as crianças, cinema ofereça a forca desse encontro. Essas experiências a princípio sem regras, sem vencedor ou vencido, afirmando as variáveis e multiplicidades dos encontros, dos acasos, uma educação que se apresenta artista, arteira. Que se apresenta em um encontro com a vida, que não segue uma gramática prévia, prescrições definidas. As experiências nos sugerem que não lutemos contra as crianças, contra aquilo que elas nos apresenta, mas que fiquemos atentos a elas as suas variações. Tocados por cada detalhes que se apresentam nas e pelas imagens. Essas talvez sejam algumas perspectivas que nascem nessa possibilidade de pensar uma devir-educação que se apresenta pelas imagens, por suas ‘intensidades’, uma educação que não imponha suas verdades, mas que crie um fluxo onde corpos, espaços e tempos sejam povoados em cada momento por algo vivo, algo de vida, algo novo, algo que inaugure novos planos de intensidades, de imanências. Por um devir-cinema com imagens e crianças.
Bibliografia
- DELEUZE, Gilles. A imagem tempo – cinema 2. São Paulo-SP: Brasiliense, 2007.