Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    FABIO RADDI UCHOA (UTP)

Minicurrículo

    Fábio Raddi Uchôa é doutor pela Universidade de São Paulo e pós-doutor em Imagem e Som pela Universidade Federal de São Carlos. Atua como professor do PPGCom/UTP, tendo também lecionado no PPGIS/UFSCar, na UNESPAR e na PUC/SP. Ao longo dos anos 2000, foi pesquisador da Cinemateca Brasileira. Desde então, dedica-se ao estudo do Cinema Marginal, bem como das relações entre cinema e cidade, na produção audiovisual brasileira. É coordenador do grupo de pesquisas Cine&Arte (UTP).

Ficha do Trabalho

Título

    Contraponto e atrações em A visita do velho senhor (1976), de Candeias

Mesa

    Montagem Permitida: Eisenstein e Intermidialidade no Cinema Brasileiro

Resumo

    “A visita do velho senhor” (1976) de Ozualdo Candeias é a transposição de um conto gráfico de Poty Lazzarotto, no qual uma prostituta é assassinada por seu cliente. Em sua narrativa destaca-se a atmosfera onírica, pautada pelas assincronias entre imagens e voz over, bem como a violência expositiva dos corpos. Tomando-o como objeto intermidiático, a proposta é analisá-lo, articulando os debates acerca do contraponto audiovisual (Eisenstein; Chion) e da montagem de atrações (Eisenstein; Gunning).

Resumo expandido

    Realizado com baixo orçamento e liberdade de experimentação, “A visita do velho senhor” (1976) é um curta-metragem pouco estudado, no âmbito da cinematografia subterrânea de Ozualdo Candeias. Pode ser contextualizado, em temos narrativos e históricos, pelos contatos com a violência estética e o tratamento do grotesco presentes no Cinema Marginal (RAMOS, 1987), bem como situado entre os curtas “subterrâneos” do cineasta, realizados com escassez de recursos e circulação restrita. A visita do velho senhor, em particular, decorre de uma das passagens do cineasta por Curitiba, em contato com a Cinemateca Guido Viaro, no âmbito da qual ministrou aulas de cinema e estabeleceu diálogos com o crítico e cineasta Valêncio Xavier, produtor do curta-metragem em questão. Trata-se da adaptação de um conto gráfico do artista plástico Poty Lazzarotto, no qual uma prostituta é assassinada por seu cliente. Enquanto ponto básico de partida, o filme será tomado com um fenômeno de fronteira, uma obra impura (BAZIN, 1991), cuja transposição intermidiática (RAJEWSKY, 2012) ao cinema é marcada por duas operações particulares – o contraponto audiovisual e a montagem de atrações. Primeiramente, há a estranheza da atmosfera, devido à presença de uma voz over, que poderia corresponder aos murmúrios internos da personagem, mas que gravita sobre as imagens sem pontos fixos de ancoragem, trazendo associações indiretas às ações encenadas, bem como a impressão de um mundo onírico e internalizado. Tal fenômeno, de natureza assíncrona, pode ser pensado sob o viés teórico do contraponto audiovisual. Para Eisenstein o contraponto se associa aos conflitos “entre experiência ótica e acústica” (EISENSTEIN, 2002, p.60), podendo ser lido sob o viés da violência; já para Michel Chion, extrapolando uma leitura binária por ele considerada ideológica, o contraponto pode ser aproximado de uma “discordância momentânea entre uma imagem e um som, em termos de sua natureza figurativa.” (CHION, 1993, p. 36). No caso particular de A visita do velho senhor, as relações entre voz over e imagens podem incluir as duas propostas teóricas, variando entre a violência de um mundo cindido e a construção de figuras com traços oníricos. A transposição das gravuras de Poty Lazzarotto ao filme de Candeias, por outro lado, parece inspirar-se na violência expositiva dos corpos – elemento este transformado no curta-metragem, por meio da atenção à nudez e ao grotesco das formas corporais, mas também tencionado pelas composições e enquadramentos inspirados nas gravuras de origem. Tal violência expositiva, em termos teóricos, será explorada no cotejo com a montagem de atrações, conceito explorado por Eiseinstein no contexto do teatro de vanguarda e, posteriormente, retomado por Tom Gunning para o estudo do primeiro cinema. Neste sentido, estão em pauta os contatos com a teoria eisensteiniana, que associa a montagem de atrações a uma ação sensorial/psicológica capaz de produzir choques emocionais (EISENSTEIN, 1983), mas também as interpretações de Tom Gunning, associando a atração a um cinema exibicionista e à capacidade de impacto sobre os espectadores (GUNNING, 2006).

Bibliografia

    BAZIN, A. “Por um cinema impuro.” In: BAZIN, A. O cinema: ensaios. São Paulo: Brasiliense, 1991.
    CHION, M. La audiovision. Barcelona: Paidós, 1993.
    EISENSTEIN, S. A forma do filme. Rio de Janeiro: Zahar, 2002.
    _____. “Montagem de atrações” In. XAVIER, I. (org) A experiência do cinema. Rio de Janeiro: Embrafilme, 1983.
    GUNNING, T. “The cinema of attractions: early film, its spectator and the avant-garde.” In. STRAUVEN, W. Cinema of attractions reloaded. Amsterdam U. Press, 2006.
    NAGIB, L. “Politics of impurity” In. L. NAGIB; JERSLEY (eds). Impure Cinema: Intermedial and Intercultural Approaches to Film. London, N. Y.: I.B. Taurus, 2014.
    PETHÖ, A. Cinema and intermediality: the passion for the in-between. Newscastle: Cambrigde S. Publishing, 2011.
    RAJEWSKY, I. “A fronteira em discussão.” In. DINIZ; VIEIRA. (org.). Intermidialidade e estudos interartes. Volume 2. Belo Horizonte: FALE/UGMF, 2012.
    RAMOS, F. Cinema Marginal (1968/1973). São Paulo: Brasiliense, 1987.