Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Gustavo Padovani (UNICAMP)

Minicurrículo

    Gustavo Padovani é jornalista, especialista em gestão em Marketing pela Fundação Getulio Vargas e doutorando em Multimeios pela UNICAMP. É professor na Especialização em Produção de Conteúdo Audiovisual para Multiplataformas (EAM) da UFScar e na Pós-Graduação em Administração de Empresas da FGV / UniSEB.

Ficha do Trabalho

Título

    A inovação na cadeia produtiva do audiovisual brasileiro contemporâneo

Resumo

    O trabalho pretende discutir a noção de inovação aplicada a cadeia produtiva do audiovisual contemporâneo no Brasil. O estudo utilizará a Propriedade Intelectual (PI) como ponto de partida para uma investigação cartográfica das produções audiovisuais contemporâneas para auxiliar na discussão e no desenvolvimento de parâmetros para o conceito de inovação.

Resumo expandido

    Os conteúdos audiovisuais e de outras artes no século XXI, passaram por grandes mudanças estruturais que afetaram o tradicional tripé do cinema: produção, distribuição e exibição. Ao tornar-se majoritariamente digitalizado, o cinema passou a possuir uma relação cada vez mais imbricada com a tecnologia, trazendo à tona novas questões que não podem ser condicionadas a um reducionismo tecnológico e não devem ser entendidas apenas como uma simples mudança na forma de consumo.
    Ao analisarmos as formas de criação e circulação do audiovisual, é possível identificar que o cinema é dotado de descontinuidades e rupturas não-lineares, principalmente, em sua relação com as mídias convergentes que surgiram ao longo do tempo (ELSAESSER, 2018). Como aponta Bazin ao questionar a ordem tecnicista de algumas análises sobre a historiografia do cinema, “uma realização aproximativa e complicada da ideia precede, quase sempre, a descoberta industrial que é a única a poder tornar viável a sua aplicação prática.” (BAZIN, 1991, p.27-28). Embora não nomeado desta forma, a descrição de Bazin é análoga a um processo de inovação: um dispositivo de criação imaginado que, ao materializar-se, torna-se uma descoberta disruptiva com as estruturas preexistentes.
    Em sua perspectiva econômica, Schumpeter (1991) considera a inovação um processo de destruição criativa contido em descobertas científicas, aberturas de novos mercados, criações de novos produtos ou em novas formas de produções. Assim como sua aplicação a qualquer campo do conhecimento, a inovação é um conceito que depende de um referencial relacional, uma prática ou uma constatação para que pensemos então em que medida, tempo ou processo ocorre seu ponto de ruptura. Além disso, a inovação também emerge por meio da aceitação dos sujeitos implicados por ela nos meios em que atuam, pois como explicita Howard Becker sobre o mundo das artes, “as inovações que suscitam vitórias institucionais são as que conseguiram criar em seu torno todo o aparato de um mundo da arte que mobilizaram pessoas em número suficiente para cooperar regularmente e que lograram promover novas ideias.” (BECKER, 1982, p.249)
    Ao buscar uma conexão entre a inovação e a cadeia produtiva do audiovisual brasileiro, se torna essencial o entendimento de um certo “estado das coisas”. Ainda que essas estruturas de produção sejam atravessadas por tensões e instabilidades nos modelos de financiamento (IKEDA, 2015), é preciso identificar os projetos que se tornam desvios dentro de um certo modelo padrão entre os esforços coletivos para mobilizar recursos para a realização e distribuição dessas obras, principalmente, porque a atividade cinematográfica depende diretamente de um “confronto do ato criador com uma práxis econômica” (CRETON, 1994, p. 11)
    Ao pensar no trinômio tecnologia, audiovisual e inovação, a Propriedade Intelectual (PI) se apresenta como um ponto de partida possível para a investigação, uma vez que grande parte dos projetos audiovisuais inicia-se na tradição secular da escrita para então ser materializado nos processos de produção, distribuição e exibição. Ao entender a PI como um dos “ativos mais valiosos que um produtor pode ter em suas mãos quando aborda o financiamento do projeto de uma película” (RAMZI et al, 2008 p.38), é possível questionarmos como a inovação atravessa os mais diversos tipos de realizadores brasileiros do audiovisual através de novas práticas de produção e negociações em suas relações com os novos ambientes e plataformas midiáticas.
    Em um estágio inicial de pesquisa, a presente proposta pretende cartografar as produções que apresentam características inovadoras para tecer, em paralelo, uma revisão conceitual que auxiliará na construção de parâmetros sobre a inovação no campo do audiovisual brasileiro.

Bibliografia

    BECKER, Howard. Mundos da Arte. Livros Horizonte: Lisboa. 2010.
    BAZIN, André. O Cinema – Ensaios. Editora Brasiliense: São Paulo. 1985.
    CRETON, Laurent. Economie du cinéma et de l’audiovisuel. Paris: Armand Colin, 1994.
    ELSAESSER, Thomas. Cinema como arqueologia das mídias. Editora Senac. São Paulo. 2018
    IKEDA, Marcelo. Cinema Brasileiro a Partir da Retomada: Aspectos Políticos e Econômicos. São Paulo: Summus Editorial. 2015.
    RAMZI et Al: ¡Derechos, cámara, acción! Los derechos de propiedad intelectual y el proceso cinematográfico. Organización Mundial de La Propried Intectual. 2007.
    SCHUMPETER, Joseph. Teoria do desenvolvimento econômico: uma investigação sobre lucros, capital, crédito, juro e o ciclo econômico. São Paulo: Editora Nova Cultural. 1991.