Ficha do Proponente
Proponente
- Ivonete Pinto (UFPel)
Minicurrículo
- Doutora pela ECA/USP; professora no curso de Cinema e Audiovisual da UFPel; pesquisadora CNPq, coeditora da revista Teorema e colaboradora da revista Orson e do blog Calvero; ex-vice-pres. da Abraccine; ex-pres. da Accirs; é autora dos livros A Mediocridade, Descobrindo o Irã e Samovar nos Trópicos; organizou, com Orlando Margarido, Bernardet 80 (Abraccine/Paco Editorial, 2017) e com Fatimarlei Lunardelli e Humberto Silva Ismail Xavier 70 (Sesc, 2019)
Ficha do Trabalho
Título
- Formação e perfil das associações de críticos
Mesa
- A Associação de Críticos e a Memória do Cinema Brasileiro
Resumo
- Partindo de dados sobre o movimento associativo da crítica de cinema no Brasil e em uma abordagem que valoriza a história como memória, pretende-se examinar as condições históricas, culturais e tecnológicas que permitiram o surgimento de entidades formais ligadas à crítica. Com ênfase na fundação da Associação Brasileira de Críticos de Cinema, propõe-se demostrar que um novo perfil de críticos tem surgido e ações como a publicação de livros resultam na construção de uma memória coletiva.
Resumo expandido
- A comunicação objetiva apresentar dados sobre o movimento associativo da crítica de cinema no Brasil. Em uma abordagem que valoriza a história como memória (AGAMBEN, 2009; DIDI-HUBERMAN, 2012;2017), pretende-se examinar as condições históricas, culturais e tecnológicas que permitiram o surgimento de associações formais reunindo críticos de cinema. De entidades que remontam algumas décadas, como a Accpa – Associação de Críticos de Cinema do Pará (1962), passando pela Accrj – Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro (1984), Accirs – Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (2008) e pela mais recente, a Accirn – Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Norte (2017), nos detemos com maior ênfase na constituição da associação nacional. A partir de pesquisa junto aos filiados da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, erigiu-se um retrato que apresenta aspectos desde formação, faixa etária a percentual de gênero escrutinado por região. Fundada em 2011, foi a primeira entidade de abrangência nacional a estabelecer-se formalmente. Um surgimento tardio na comparação com outros países.
A arqueologia das associações de críticos se faz necessária em um contexto de crise das publicações impressas, que forja um novo perfil dos profissionais ingressantes no mercado, seja o mercado que remunera com base na troca de produtos e serviços, seja enquanto espaço de produção de críticas de filmes sem monetização direta.
Considerando que a história não é estática, tampouco objetiva (BENJAMIN, 2009), este estudo ancora-se metodologicamente em depoimentos, pesquisa quantitativa e documentos que fazem a memória da trajetória da crítica através do viés das associações. Uma história- testemunho, que como defende Le Goff (1990), é uma ciência em sentido técnico.
Já a experiência da produção de livros com selo Abraccine, indica um anseio por recuperar e perpetuar cinematografias por vezes esquecidas (a coleção dos “100 Melhores”) e por retomar analiticamente textos de críticos-pensadores de trajetória ímpar (Jean-Claude Bernardet, Ismail Xavier, Inácio Araújo). Com isso, preserva-se o conhecimento e a própria continuidade da memória. A “memória de si” (ELIAS, 1994) aqui é a memória dos grupos como organismos vivos, através dos quais buscamos compreender uma certa identidade que poderia ser atribuída à categoria dos críticos de cinema. Ao pensarmos a respeito de nós mesmos, como células destes agrupamentos, percebemos inquietações do nosso tempo.
São recentes os interesses comuns que pautam as atividades das associações, em especial as da Abraccine. E pelo conjunto de ações já empreendidas, além da publicação de oito livros, nota-se uma urgência em participar de eventos e posicionar-se em episódios de natureza lato sensu política, que de outra maneira, individualmente, não seriam a prioridade de profissionais da crítica. O estar em grupo, nos parece, neste caso tem possibilitado um pensar em grupo de forma sistemática. Longe de uma afirmação categórica, é viável supor que tais inserções que privilegiam a reflexão voltada ao registro da memória são relacionadas ao perfil acadêmico revelado na citada pesquisa: 52% dos filiados da Abraccine possuem pós graduação (15% são doutores e 37% possuem mestrado).
Como toda memória está ameaçada pelo esquecimento (DIDI-HUBERMAN, 2012), cumprimos um papel de “registradores”, assim contribuindo à memória daqueles distantes de nós, que num longínquo futuro venham a se interessar pelos críticos de cinema como coletividade.
Bibliografia
- AGAMBEN, Giorgio. O que é ser Contemporâneo? E outros ensaios. Chapecó: Argos,2009. Disponível em: http://goo.gl/QCaISD
BENJAMIN, Walter. Passagens. São Paulo: UFMG/Imprensa Oficial, 2009.
DIDI-HUBERMAN , Georges. Quando as imagens tocam o real. Trad.: Patrícia Carmello e Vera Casa Nova. Pós: Belo Horizonte, v.2, n.4, nov. 2012. Disponível em: http://bit.ly/2YWdv7r
________________. Cascas. Trad. André Telles. São Paulo: Editora 34, 2017.
ELIAS, Norbert. O processo civilizatório. Vol 1. Uma história dos costumes. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994.
LE GOFF, Jacques. História e memória. São Paulo: Ed. da Unicamp, 1990.
PINTO, Ivonete. “Organização da crítica no Brasil – Apontamentos para uma arqueologia”. In: Paulo Henrique SILVA. Trajetória da Crítica no Brasil. Belo Horizonte: Letramento, 2019 .