Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Wellington Gilmar Sari (Unespar)

Minicurrículo

    Wellington Sari é graduado em Jornalismo e em Cinema. Atua como crítico e realizador de cinema, nas áreas de direção, produção e roteiro. É sócio-fundador da produtora de cinema O Quadro. Escreve para a Revista Interlúdio, bem como para outras publicações de crítica cinematográfica. Atualmente é mestrando no Programa de Pós-Graduação – Mestrado Acadêmico em Cinema e Artes do Vídeo da Unespar, com orientação do Prof. Dr. Eduardo Tulio Baggio.

Ficha do Trabalho

Título

    Descobrir a cena: a imagem subterrânea em Profondo Rosso

Resumo

    O objetivo desta comunicação é desvendar, em Profondo Rosso (1975), gestos de criação que refletem práticas iniciadas no Maneirismo pictórico, tendo como referencial o pensamento de Thomas Elsaesser (2018) sobre o papel do cinema como arqueologia das mídias. Para melhor compreender a construção imagética em camadas, prática comum na contemporaneidade, é importante retornar ao período que inaugurou tal prática, bem como ao filme cuja construção se dá em cima de outro filme, Blow Up (1966).

Resumo expandido

    Quando Edgar Allan Poe precisa esconder um importante pedaço de papel em “A Carta Roubada” (2009), onde o coloca? No lugar mais difícil de se ver: em cima de um móvel qualquer, junto de outros papéis banais, à vista. Os diversos personagens do conto passam os olhos pelo espaço em que está o móvel com a carta, mas não a veem. “Imagens nos dão a ver alguma coisa, nos colocam alguma coisa ‘sob os olhos’ e sua demonstração procede, portanto, de uma mostração” (BOEHM, 2015, p.23). Ou seja: toda imagem é acessada, antes de tudo, no nível da superfície. Quando muitas imagens – superfícies – se misturam, corre-se o risco de se perder de vista aquilo que é essencial. É possível considerar, tal como no processo de formação do solo, que imagens podem se acumular umas sobre as outras, fazendo da escavação em direção à essência tarefa mais árdua na medida em que o tempo passa e novas imagens se sobrepõem. E, se há brocas para o solo, há de haver também para as imagens.

    Determinados cineastas construíram suas filmografias em cima da obsessão pela escavação do objeto imagético, seja no aspecto narrativo ou teórico/conceitual. É o caso do italiano Dario Argento, cujas principais obras parecem girar em torno da busca por algum tipo de verdade na (ou, por baixo da) imagem.
    De que modo, então, o cinema, ao ser uma mediação que suporta inúmeras manifestações imagéticas, como a fotografia, a pintura e outros meios, deixa mais complexa a relação entre demonstração e mostração, uma vez que diferentes superfícies se acumulam sobre as outras? Seria o cinema uma espécie de museu de mediações outras? Que pressupostos teóricos Dario Argento articula em seus filmes para responder à pergunta que assola vários dos seus personagens: afinal, a revelação da imagem superficial corresponde à (alguma) verdade?

    Com a sustentação fornecida pelas Teorias dos Cineastas (2004) e levando em conta a abordagem metodológica o pensamento de Thomas Elsaesser (2018) sobre o papel de arqueologia das mídias, o objetivo é desvendar, em Profondo Rosso (1975), gestos que refletem práticas iniciadas no período do Maneirismo pictórico. Vale lembrar que se trata de período da história da arte em que a imagem também era concebida em camadas, no sentido de que o pintor não mais representava o que via no mundo, e sim o que via na imagem do mundo, produzida por um mestre antes dele, segundo definição de Eugenio Battisti (1984).

    Estudar materiais imagéticos em filmes com inclinação maneirista se mostra bastante importante na era da multiplicidade de telas. A construção de imagens em acúmulo foi inclusive assimilada pelo gosto popular, na manifestação do meme, por exemplo. As obras de Dario Argento, por tratarem com consistência da noção de que imagens carregam vestígios (pictóricos, fotográficos fílmicos), se apresentam como campo fecundo tanto para melhor compreensão das relações geológicas entre cinema e pintura quanto para o estudo do campo da imagem como um todo.

Bibliografia

    AUMONT, Jacques. As teorias dos cineastas. Campinas-SP: Papirus, 2004.

    BATTISTI, Eugênio. Renascimento e Maneirismo. São Paulo: Editorial Verbo, 1984.

    BOEHM, Gottfried. “Aquilo Que Se Mostra. Sobre A Diferença Icônica”. In: ALLOA, Emmanuel (org). Pensar A Imagem. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2015. p. 23-38

    DEPOIS daquele beijo. Direção: Michelangelo Antonioni. ROMA/LONDRES. 96 min. son. color. DVD. Título original: Blow up.

    ELSAESSER, Thomas. Cinema como arqueologia das mídias. Organização de Adilson Mendes. São Paulo: Edições Sesc São Paulo, 2018.

    POE, Edgar Allan. A Carta Roubada. Porto Alegre: L&PM, 2009

    PRELÚDIO para matar. Direção: Dario Argento. Roma: CA Produzione, 1975. 106 min. son. color. DVD. Título original: Profondo rosso.