Ficha do Proponente
Proponente
- Fahya Kury Cassins (UNISOCIESC)
Minicurrículo
- Graduada em Cinema e Vídeo, pela UNISUL; em Filosofia, pela UFSC; mestre em História, pela UDESC.
Atualmente professora do curso de Cinema e Audiovisual, na UNISOCIESC, nas disciplinas de Teoria do Cinema, Cinema Brasileiro e Produção Executiva e professora de Filosofia a nível Fundamental e Médio.
Atua como escritora, crítica e fotógrafa.
Ficha do Trabalho
Título
- Genealogia da criação: um estudo focado no processo audiovisual
Resumo
- O presente estudo visa angariar ferramentas das pesquisas do processo de criação nas artes visuais e na literatura para compreendê-lo na esfera da criação audiovisual. Entendidos como arqueologia ou genealogia da criação, os processos criativos abrem o caminho para uma aproximação com as obras dos artistas. Porém, ainda é pouco explorado no audiovisual, então o trabalho busca compreender o que seria o “caderno do artista” para roteiristas e cineastas.
Resumo expandido
- Os “cadernos de artistas” são bem conhecidos nas outras artes, os esboços de Da Vinci, os papéis e anotações de diversos escritores também são estudados e até compilados para tentar desvendar os processos que levaram às obras. Desta forma, tenta-se construir o mundo do criador, a partir das relações que a sua mente estabelece. A partir dos conceitos de palimpsesto, de Genette, e de adaptação, de Hutcheon, procura-se compreender a obra como um apanhado de ideias, sensações e adaptações criativas. A genética das obras figura, então, como um estudo de construção metodológico e de saberes. Contudo, no audiovisual a pesquisa ainda é inicial. Acredita-se que conhecer o próprio processo criativo ajuda o criador audiovisual na elaboração das suas obras. No curso de Cinema e Audiovisual dá-se muita ênfase nas disciplinas práticas, nas quais eles aprendem as técnicas da linguagem e a operar os equipamentos. Nas disciplinas teóricas eles são envolvidos pelas ideias sobre o cinema ao longo das décadas. Mesmo em Roteiro, disciplina teórica e prática, procura-se muni-los de instrumentos operacionais. Porém, não se incentiva o olhar criador, a busca pela compreensão de onde nascem as ideias de cada um. Esta pesquisa nasceu da intenção de pensar um “caderno de artista” do cineasta/roteirista como apoio para o próprio criador e como fonte de estudo dos processos de criação no audiovisual. É comum vermos exposições como a “Múltiplo Leminski” (2012/2013 MON – Museu Oscar Niemeyer), onde temos contato com toda uma gama de anotações e primeiras versões dos escritos literários. Em menor número, temos exposições sobre filmes, que, geralmente, apresentam o produto acabado da criação. É menos estudado
o processo do que o produto. Assim, ao investigar o processo criativo de alguns artistas, escritores e cineastas, a pesquisa visa instituir o caderno do cineasta, como ferramenta de auto-conhecimento e construção da obra audiovisual. O autor pode ter a capacidade de assinalar em si mesmo quais as
redes (o que muitas vezes chamamos de referências), quais as obras fontes, que o impeliram às suas
novas obras – muitas dessas relações não são explícitas nas obras. É evidente que nenhum diretor
ou roteirista precisa trazer à tona as suas referências, mas é importante para o processo criativo que
ele saiba de onde elas vieram e quais são elas.
“Todo livro, assim, nasce de acúmulos” (NETO, 2013, p.71) e
também o entorno “age de forma deflagadora sobre o escritor” (p.70) a partir não só do seu
arcabouço literário e visual, mas do que Miguel Sanches chama de bricolagem, somando todo o
conteúdo de existência material. Pois “tudo vai sendo recolhido seguindo a hipótese de que isso
pode servir” (p.71), o escritor é um colecionador de trechos da vida, de onde ele constrói suas obras. Sanches descreve o escritor como o palimpsesto, mas não apenas feito de textos, esta
coleção compõe o que ele denomina autobiografia material do escritor (ou autobiografia da escrita)
(p.74). Esta coleção é composta inclusive do que o escritor sublinha nos textos que lê – como se já
estivesse escrevendo seu livro (p.72). É possível acrescentar a esta autobiografia material de Sanches
aquilo que transcende o material. Pois muitas das escolhas na criação vem de sentimentos,
afetos e referências adaptadas daquilo que não vêm em textos (sejam escritos ou imagéticos, etc.)
mas da relação que é estabelecida com eles pelo criador.
Assim, a pesquisa está voltada à investigação e valorização da construção do hábito do caderno do roteirista e cineasta, de forma teórica e, em breve, prática junto aos alunos do curso de Cinema e Audiovisual da Unisociesc.
Bibliografia
- ARBEX, M. (Org.) Poéticas do visível: ensaios sobre a escrita e a imagem. Belo Horizonte: UFMG, 2006.
BORDWELL, D. Sobre a história do estilo cinematográfico. Campinas: Editora da Unicamp, 2013.
FIGUEIREDO, V. L. F. de. Narrativas migrantes: literatura, roteiro e cinema. Rio de Janeiro: Editora PUC-Rio: 7Letras, 2010
GENETTE, G. Palimpsestos: a literatura de segunda mão. Belo Horizonte: Edições Viva Voz, 2010.
GUARALDO, L. A diversidade de processos nos cadernos de criação. Anais do Congresso Internacional da Associação de Pesquisadores em Crítica Genética, X Edição, 2012.
GRANDO, A. CIRILO, J. (Org.) Arqueologias da Criação: estudos sobre o processo de criação. Belo Horizonte: Editora Arte, 2009.
HUTCHEON, L. Uma teoria da adaptação. Florianópolis: Editora da UFSC, 2013.
MÁRQUEZ, G. G. Yo no vengo a decir un discurso. Bogotá: Mondadori, 2010.
NETO, M. S. O lugar da literatura. Londrina: Eduel, 2013.
WOOD, J. Como funciona a ficção. São Paulo: Cosac & Naify, 2012.