Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Josmar de Oliveira Reyes (Unisinos)

Minicurrículo

    Mestre em Estudos Francófonos pela UFRGS (1994)
    Doutor em Ciências da Informação e da Comunicação pela Université de Paris 3 (Sorbonne Nouvelle) (2008)
    Pós-doutorando pela Université de Paris 3 (Sorbonne Nouvelle) com pesquisa sobre a filmografia do cineasta coreano Kim Ki-duk.
    Professor do Curso de Realização Audiovisual (Unisinos)
    Publicou o livro: Le film comme lecteur du texte littéraire: L´Heure de l´Étoile et Les Nuits du Sertão (Presses Universitaires de Lille)

Ficha do Trabalho

Título

    Representações/metáforas da água na filmografia de Kim Ki-duk

Resumo

    Pretende-se abordar a água, como elemento que encontra diversas representações na filmografia do realizador coreano Kim ki-duk: o rio em Crocodilo, o mar em Birdcage inn. , a ilha em A Ilha, o aquário em Birdcage inn e em Pietà, o lago em Primavera, verão, outono, inverno…Primavera, o banho em Samaria. Estas representações aquáticas ao longo da filmografia do cineasta propõem uma leitura simbólica e metafórica que se constrói no interior da narrativa e/ou no diálogo entre os diversos filmes.

Resumo expandido

    Pretende-se abordar a água, enquanto elemento que encontra diversas representações/metáforas ao longo da filmografia do realizador coreano Kim ki-duk: o rio, o mar, a ilha, o aquário, o lago, o banho etc. O tema aquático se alia a uma concepção estética de Kim Ki-duk como em Real Fiction (2000) onde cordas de chuva são a superfície através da qual a narrativa se desenrola. O elemento líquido servirá de superfície. Um plano de A Ilha (2000) mostra algumas notas de dinheiro que boiam sobre a superfície de um lago. O cineasta filme do interior do lago recobrindo a tela de uma camada líquida que valoriza as notas de dinheiro, como coladas ao nosso olhar. Quando uma jovem mergulha a mão na água, ela deforma, portanto, diretamente a visão que temos dela. Os aquários estão presentes ao longo da filmografia do cineasta, sendo que podemos pensar numa referência ao videoartista mais famoso da Coreia, Nam June Paik, e sua reiterada temática do aquário. A água, segundo Bachelard, é um lugar de morte, de limpeza/purificação e de conforto. Além de A Ilha, citado acima, e Primavera, verão, outono, inverno… Primavera (2003), podemos citar Crocodilo (1996) como sendo um de seus filmes mais aquáticos. Ele conta uma história de amor violenta às margens do rio Han entre um mendigo e uma jovem. A água é um espaço alternativo à dura realidade da cidade e à violência do mundo dos mendigos. Seul é filmada a partir de planos extremamente próximos ao chão. Sob a água, na proximidade da ponte onde ele mora, o mendigo dispõe de uma “sala” aquática: um sofá sobre o qual está pendurado um quadro roubado de um quarto de hotel. A água está associada a práticas religiosas e espirituais (Primavera, verão, outono, inverno… Primavera; Samaria etc.). As personagens de Kim Ki-duk se banham no mar, se refugiam na chuva ou fazem do ritual do banho um verdadeiro meio de comunicação entre elas como em Samaria (2004). As duas personagens “mudas” de O Arco (2005) habitam em um barco, no meio de um rio, não se vendo jamais um pedaço de terra. Elas adotam um modus vivendi em que todas as necessidades humanas são supridas neste espaço. O contato com a terra é feito pelo “avô”, que traz da terra (jamais vista) tudo o que é necessário para a sobrevivência dos dois. Este avô, no seu canto dos cisnes, morre pacificamente retornando à mãe-água. A pesca, onipresente em A Ilha e O Arco, é uma atividade de lazer privilegiada para os coreanos. Seu filme documental autobiográfico, Arirang (2011), tem a água e as variações climáticas como elemento constante. No seu filme mais premiado, Pietà (2012), a água encontra pelo menos duas representações contundentes na presença do aquário e do rio. Estas representações ao longo da filmografia do cineasta propõem uma leitura simbólica e metafórica que se constrói no interior da narrativa e/ou no diálogo entre os diversos filmes como a melancolia, a passagem do tempo, a busca espiritual, a metáfora da fluidez corporal, ou ainda da felicidade ou da crueldade, o jogo maniqueísta da vida etc.

Bibliografia

    ALMEIDA, Julia Maria Costa. Falas, silêncio e imagens: o cinema de Kim Ki-duk. Ponto de Acesso, Salvador, v. 4, n. 1, pp. 30-44, abril 2010.
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    MERAJVER-KURLAT, Marta. Kim Ki Duk: On Movies, the Visual Language. Mexico, Jorge Pinto Books Inc, 2009.
    RIVIÈRE, Danièle. Kim Ki-duk. Edition Disvoir, Paris, 2006.
    SEUNG CHUNG, Hey. Kim ki-duk (Contemporary Film Directors). Illinois, University of Illinois Press, 2012.
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