Ficha do Proponente
Proponente
- Amanda Mansur Custódio Nogueira (UFPE)
Minicurrículo
- Professora do Centro Acadêmico do Agreste da Universidade Federal de Pernambuco. Possui Doutorado pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco. Coordenadora do Laboratório de Imagem e Som do Agreste (LAISA). É autora dos livros O Novo Ciclo de Cinema em Pernambuco (2010), A Aventura do Baile Perfumado, (2016) e da tese A Brodagem no Cinema em Pernambuco (2014). Atualmente está realizando pesquisa de pós-doutorado na University of Reading, no Reino Unido.
Ficha do Trabalho
Título
- Cinema e intermidialidade: os ecos narrativos da música do Manguebeat
Mesa
- Montagem Permitida: Eisenstein e Intermidialidade no Cinema Brasileiro
Resumo
- A produção cinematográfica em Pernambuco esboça uma dramaturgia que convive com a efervescência musical, desde a sua retomada na década de 90. O cinema apropria-se da música do Manguebeat, como experiência sinestésica e experiência transmidiática. Com base na metodologia de análise da intermidialidade associada à teoria da montagem de Eisenstein, o objetivo desta comunicação é investigar a relação entre música e cinema na construção narrativa dos filmes, “Era uma Vez eu, Verônica” e “Tatuagem”.
Resumo expandido
- Qual o impacto do movimento musical Manguebeat na retomada da produção cinematográfica em Pernambuco? Como nessa filmografia a música frequentemente define as escolhas dos ângulos de câmera, a performance dos personagens, a montagem e articula a própria narrativa dos filmes? É com o intuito de debater sobre tais questões que propomos esta comunicação.
Levando em consideração a relação do cinema com as outras artes (Bazin, 2013) e aplicando como método de análise a intermidialidade (Pethö, 2011; Nagib, 2014; Paiva, 2016) associado à teoria da montagem proposta por Eisenstein (1990), usaremos como estudo de caso os filmes, “Era uma Vez eu, Verônica” (2012), de Marcelo Gomes e “Tatuagem” (2013), de Hilton Lacerda, para investigar a relação entre música e cinema na construção narrativa do cinema feito em Pernambuco.
Os roteiristas e diretores pernambucanos, Marcelo Gomes e Hilton Lacerda, fazem parte da geração que retomou a produção cinematográfica no estado e desde o início de suas carreiras estabeleceram um intenso diálogo com os músicos da cena. O cinema produzido em Pernambuco, a partir do longa “Baile Perfumado” (1996), o chamado “Árido Movie”, era considerado pelos cineastas como o Manguebeat em forma de cinema.
Na década de 1990, Hilton Lacerda inicia o projeto Dolores & Morales, juntamente com Helder Aragão (Dj Dolores). A dupla é responsável pela capa do disco “Da Lama ao Caos” de Chico Science & Nação Zumbi. E também pela realização de diversos videoclipes para músicos da cena Mangue, entre eles “Homero Junkye”, da banda Mundo Livre S/A, e “Etnia”, da banda Loustal, de Chico Science. Já Marcelo Gomes, em 1993, funda a produtora Parabólica em parceira com Adelina Pontual e Claudio Assis, realizando curtas e vídeos. A música é o tema dos vídeos “Samydarsh” (1993), registro de sons nas ruas do Recife, e “Punk Rock Hardcore” (1995), sobre as bandas do Alto Zé do Pinho.
Das trajetórias individuais ligadas a história do Manguebeat e da visualidade que ecoava dos primeiros acordes de guitarra e dos tambores de maracatu, foi se desenvolvendo um cinema narrativo musical. Um cinema intermediado pela música, na construção das sensações temporais, táteis e rítmicas.
No cinema contemporâneo em Pernambuco há uma assimilação do fenômeno musical no contexto da criação artística dos filmes. O “cruzamento das fronteiras midiáticas” (RAJEWSKY, 2012) da música e do cinema, produz desdobramentos estilísticos na montagem dos filmes. A música é incorporada pela narrativa como parte de uma experiência visual performática. Os filmes são dotados de “momentos musicais”, de virtuosismo sonoro-imagético e de paralisações da narrativa para exibição da música.
Tais “momentos musicais” podem ser relacionados com a visão sinestésica do cinema de montagem de Eisenstein (1990), na qual elementos característicos de cada natureza são combinados de maneira única. Dessa forma, a música, a fotografia, a mise-en-scène são associados em prol de uma experiência sinestésica.
Já no âmbito na narrativa fílmica, os momentos musicais, ao serem articulados pela montagem, podem ser compreendidos como uma narrativa alternativa dentro desse processo. A trilha sonora, para além de articular os elementos expressivos de distintas natureza é também elemento privilegiado na proposição das organizações temáticas e na construção espaço temporal.
Nesse sentido, o que nos interessa aqui é justamente investigar a relação da música nos filmes como experiência sinestésica (música para os olhos) e experiência transmidiática (cujo ênfase está na narratologia), tomando como parâmetro as considerações de Samuel Paiva (2016), acerca dos eixos de pesquisa histórica da intermidialidade propostos por Ágnes Pethö (2011) em seu livro “Cinema and Intermidiality: the passion for the in-between”. Nossa intenção é observar nesses filmes quais os diálogos, interferências e contrapontos que a música promove na construção narrativa dos filmes selecionados como estudo de caso.
Bibliografia
- BAZIN, A. Pour un cinéma impur – défense de l’adaptation. In. Qu’est-ce que le cinéma?
Paris: CERF, 2013, pp. 81-106.
EISENSTEIN, S. O Sentido do Filme, Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1990.
NAGIB, L. ‘Politics of impurity’, in L. Nagib and A. Jerslev (eds), Impure Cinema: Intermedial and Intercultural Approaches to Film. London, New York: I.B. Taurus, 2014, pp. 21-39.
PAIVA, S. Cinema, intermidialidade e métodos historiográficos: o Árido Movie em Pernambuco. Significação: Revista de Cultura Audiovisual, Brasil, v. 43, n. 45, p. 64-82, aug de 2016.
PETHÖ, A. Cinema and Intermediality: the Passion for the in-Between, UK: Cambridge Scholars Publishing, 2011.
RAJEWSKY, I. “A fronteira em discussão: o status problemático das fronteiras midiáticas no debate contemporâneo sobre intermidialidade”. In: DINIZ, T.F.N.; VIEI- RA, A.S. (orgs.). Intermidialidade e estudos interartes: desafios da arte contemporânea 2. Belo Horizonte: Rona Editora: FALE/UFMG, 2012, p. 51-74.