Ficha do Proponente
Proponente
- Leonardo Bomfim Pedrosa (PUCRS)
Minicurrículo
- Jornalista, mestre e doutorando na Escola de Comunicação, Artes e Design da PUC-RS. Programador da Cinemateca Capitólio e da Sala P. F. Gastal em Porto Alegre. Editou o catálogo da mostra Nouvelle Vague tcheca: o outro lado da Europa. No mestrado, desenvolveu pesquisa sobre o cinema moderno. Atualmente pesquisa as possibilidades da ficção no cinema contemporâneo.
Ficha do Trabalho
Título
- O jogo com a ficção em Arábia, António Um Dois Três e As Boas Maneiras
Resumo
- Nesta comunicação apresentaremos uma análise do jogo com as ficções a partir da fragmentação e dos desdobramentos narrativos de três filmes brasileiros contemporâneos: Arábia (2017), de João Dumans, Affonso Uchoa; António Um Dois Três (2017), de Leonardo Mouramateus, e As Boas Maneiras (2018), de Juliana Rojas e Marco Dutra.
Resumo expandido
- Identificamos no período contemporâneo uma recorrência de desdobramentos da ficção a partir do jogo com o duplo e com o múltiplo. Nessa perspectiva, ainda na primeira década dos anos 2000, destacam-se obras de realizadores como Apichatpong Weerasethakul, David Lynch, Hong Sang-soo, Miguel Gomes, José Luís Guerín, Raya Martin, Mariano Llinás. Em diferentes contextos cinematográficos, o período contemporâneo lida com ficções que se abrem à vertigem. O “era uma vez” dá lugar ao “eram duas (ou muitas) vezes”.
As complexidades desse cinema podem ser investigadas a partir da intervenção de um dos personagens de A Cara que Mereces (2004), o primeiro longa-metragem de Miguel Gomes: “não me vais contar uma história sem que eu saiba o fim desta”. A resposta do homem que narra a história sem final pode ser encarada como um manifesto sobre o modo como o cinema lida com as ficções no novo século: “para ouvir uma história é preciso ter paciência com as novas histórias que surgem antes do fim”.
Na conversa do filme português, identificamos três possibilidades de definição para as recorrências que assombram a criação contemporânea: (1) uma história será contada e seu relato estará evidenciado no filme, a partir de recursos como a metalinguagem e a mise en abyme; (2) essa história não chegará ao fim, haverá uma interrupção e teremos contato apenas com um fragmento que nem sempre estará relacionado a um todo; (3) haverá outra história que surge a partir do choque de diferenças e de semelhanças.
Nesta comunicação, apresentaremos a análise do jogo com as ficções a partir da fragmentação e dos desdobramentos narrativos de três filmes brasileiros contemporâneos: Arábia (2017), de João Dumans, Affonso Uchoa; António Um Dois Três (2017), de Leonardo Mouramateus, e As Boas Maneiras (2018), de Juliana Rojas e Marco Dutra.
Em Arábia, o coming-of-age de um adolescente sugerido na primeira parte do filme é interrompido para que a obra ganha outra referência política, o “coming-of-rage” de um trabalhador. O garoto descobre um caderno com histórias narradas e o filme torna-se outro. António Um Dois Três recorre ao teatro para apresentar três variações, a partir de repetições e diferenças, das andanças de um jovem português e seu amigo, um imigrante brasileiro, que vacilam pelas ruas de Lisboa. Ainda mais radical, As Boas Maneiras narra a história de amor entre uma jovem do interior e a empregada doméstica e chega duas vezes a um desfecho. Há duas narrativas – separadas por um número musical – que apresentam começo, meio e fim rigorosamente delimitados.
Entre os diversos estímulos provocados pelos filmes, interessa-nos, neste trabalho, investigar especialmente duas questões:
1 – O modo como cada filme responde ao dilema contemporâneo identificado por Horacio Muñoz Fernández (2017): “como contar uma história depois de ter visto e lido todas as histórias?”
2 – A retorno do desejo de “arquitetar conflitos, tramas, construir discursos e relações de significação”, em contraste com as proposições das narrativas sensoriais identificadas por Osmar Gonçalves (2014), para abordar temas que golpeiam a sociedade brasileira atual.
Bibliografia
- AUMONT, Jacques. Les limites de la fiction. Paris: Bayard Culture, 2014
FERNANDEZ, Horacio Muñoz. Posnarrativo: el cine más allá de la narración. Madrid: Shangrilá, 2017.
FIGUEROA, Marie Claire. Ecos, reflejos y rompecabezas: la mise en abyme en literatura. Cidade do México: Almadia, 2008
GONÇALVES, Osmar (org.) Narrativas Sensoriais. 1ª ed. – Rio de Janeiro: Editora Circuito, 2014
LOPES, Denilson. Afetos, relações e encontros com filmes brasileiros contemporâneos. São Paulo: HUCITEC, 2016.