Ficha do Proponente
Proponente
- Thaís Itaboraí Vasconcelos (UFJF)
Minicurrículo
- Mestranda do Programa de Pós Graduação em Artes, Cultura e Linguagens, na linha de pesquisa Cinema e Audiovisual, do Instituto de Artes e Design da UFJF. Bacharel em Comunicação Social/Cinema pela UFF (2014). Realizou intercâmbio para Escola Superior de Teatro de Cinema do Instituto Politécnico de Lisboa. Como cineasta, dirigiu os curtas José (2010) e Regando Bigodes (2012).
Ficha do Trabalho
Título
- Hiroshima Mon Amour : alegoria do esquecimento
Resumo
- O presente estudo é dedicado à análise do espaço em Hiroshima Mon Amour. O filme retrata um breve romance em Hiroshima, entre uma atriz francesa e um arquiteto japonês, os personagens não possuem nome, somente na última cena eles se autonomeiam. Ela diz: Hiroshima é o teu nome. Ele responde: Teu nome é Nevers. A partir de discussões que tangenciam o espaço e a paisagem, propõe-se pensar a paisagem fílmica nas suas possibilidades psicológicas e alegóricas.
Resumo expandido
- O presente estudo é dedicado à análise do espaço em Hiroshima Mon Amour. O filme retrata um breve romance em Hiroshima, entre uma atriz francesa e um arquiteto japonês. Ela ainda busca esquecer a dor pela morte do seu amante alemão que ocorreu em Nevers, assim como o mundo ainda busca esquecer o terror do que aconteceu em Hiroshima.
Os personagens não possuem nome, somente na última cena eles se autonomeiam. Ela diz: Hiroshima é o teu nome. Ele responde: Teu nome é Nevers.
Essa relação intrínseca entre os fatos ocorridos em Nevers e Hiroshima é explicitada pelo crítico Paulo Emílio Salles Gomes : “A madrugada de amor em Hiroshima é inseparável da madrugada da morte em Nevers. Emmanuelle encontra na pele do japonês o calor que sentiu esvair-se do corpo do soldado alemão assassinado nas margens do rio Loire”. (GOMES ,1981, p.213)
A pesquisadora Cecília Mello em seu projeto de pós-doutorado Movimento e espaços urbanos no cinema mundial contemporâneo evidencia a importância de HMA na história do cinema e afirma que “a relação entre cinema, memória e cidade encontra sua matriz no filme Hiroshima meu amor”. (MELLO, 2011, pág.139) .
As cidades (Hiroshima e Nevers) em HMA são palimpsestos de significados sócio-históricos e subjetivos, Giuliana Bruno descreve as cidades como “camadas de sedimentos, a soma de tudo aquilo que seus habitantes carregam dentro de si. (…) É, sobretudo, através do espaço e não do tempo que se movem as memórias” (apud MELLO 2013, p. 130).
Em contraste com filmes de amor que exaltam a beleza dos espaços urbanos, como o seu contemporâneo Cinderela em Paris (1957), o amor aqui é associado ao nome da cidade bombardeada. O filme retrata o amor e a dor e propõe reflexões sobre o ato de filmar as cidades destruídas do contexto do pós-guerra, ponto irremediável da relação da cidade com o cinema (COMOLLI, 2008).
As ruínas de Hiroshima são marcas de memória, as reconstruções remetem ao esquecimento, inevitável necessidade da memória. Já Nevers é a eternidade, filmada como descolada de um tempo que não seja o do imaginário, o horror do esquecimento do amor.
A cidade de Hiroshima expressa a dualidade entre o lembrar e o esquecer e tem duas dimensões principais: a das ruínas e monumentos (lembrar) e a New Hiroshima dos souvenirs e prédios modernos (esquecer) .
Ao longo do filme o rio Ota, presença da natureza na cidade de Hiroshima, funciona como alegoria do fluxo do tempo. Ela diz “os sete braços do estuário em delta do Rio Ota, esvaziam-se e enchem-se à hora habitual, exatamente às horas habituais com água fresca e piscosa cinza ou azul, conforme a hora e a estação”. Com trilha de Giovanni Fusco e Georges Delerue, os elementos textuais e musicais se complementam, para os momentos em que o Rio Ota está em evidência, o filme possui uma música especial para a temática do rio que se repete como leitmotiv.
As cidades de Nevers e Hiroshima são no filme intrinsicamente ligadas, assim como os corpos do casal de amantes. A cidade de Hiroshima em sua dualidade das ruinas e reconstruções remete ao principal drama interno da personagem feminina o “horror do esquecimento”.
A partir de discussões que perpassam os estudos do espaço e da paisagem, destacando-se o pensamento de Bachelard(1993) e David Melbye(2010). Propõe-se pensar a paisagem fílmica nas suas possibilidades psicológicas e alegóricas.
Bibliografia
- BACHELARD, Gaston. A poética do espaço. São Paulo: Martins Fontes, 1993.
BRUNO, Giuliana, Atlas of Emotion: Journeys in Art, Architecture and Film. Nova York: Verso. 2007.
COMOLLI, Jean L. Ver e poder – A inocência perdida: cinema, televisão, ficção, documentário. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2008.
GOMES, Paulo Emílo Sales. Crítica do cinema no Suplemento Literário-volume II. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981.
MELBYE, David. Landscape allegory in cinema: from wilderness to wasteland.Springer, 2010.
MELLO, Cecília. 2013. Um conto de duas cidades. In Cinema, Globalização e Transculturalidade, org. por Alessandra S. Brandão, Anelise Corseuil e Ramayana Lira, 119-138. Blumenau: Nova Letra.
______. Movimento e espaços urbanos no cinema mundial contemporâneo. Escola de Comunicações e Artes – USP, 2011.
Disponível em: . Acesso em: 12. fev. 2019.