Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Regina Lucia Gomes Souza e Silva (UFBA)

Minicurrículo

    Doutora em Ciências da Comunicação pela Universidade Nova de Lisboa (especialidade em Cinema), professora no Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas da Universidade Federal da Bahia onde também é coordenadora do Grupo de Pesquisa Recepção e Crítica da Imagem – GRIM. Tem experiência na área de Comunicação com ênfase em Estudos de Recepção, Análise e Crítica de Cinema e Audiovisual. Email: reginagomesbr@gmail.com.

Coautor

    Letícia Moreira de Oliveira (Unicamp)

Ficha do Trabalho

Título

    Cinema de Heroínas: Olhares Críticos sobre Mulher Maravilha e Capitã M

Seminário

    Mulheres no cinema e audiovisual

Resumo

    A proposta do trabalho visa analisar um conjunto de discursos críticos brasileiros sobre os filmes Mulher Maravilha (2017), com direção de Patty Jenkins e Capitã Marvel (2019) realizado por Anna Boden e Ryan Fleck. Partimos da ideia de que esses discursos podem ser considerados como experiências receptivas (Staiger, 2005) que se articulam com os debates atuais sobre a questão da representação (Stacey, 2009), gênero (Lauretis, 1987) e ainda sobre o tema das narrativas culturais das super-heroínas

Resumo expandido

    Desde o lançamento de Mulher Maravilha (2017), com a direção de Patty Jenkins, o debate sobre o protagonismo feminino no cinema ganhou força e assumiu novas direções, pondo em centralidade o lugar das heroínas nesse universo (dos quadrinhos de heróis) historicamente masculinista. Dois anos depois, Capitã Marvel (2019), dirigido por Anna Boden e Ryan Fleck, potencializou as discussões que se constituíram como campo de disputas em torno das obras. Embora sejam produtos de duas franquias distintas e concorrentes (Mulher Maravilha pertencente à DC Comics e Capitã Marvel ao Universo Cinematográfico da Marvel), o fato é que a recepção discursiva pelo público brasileiro tem recorrentemente convocado temas-chaves como “empoderamento”, “feminismo” e “representatividade”.
    Entretanto, se entendemos Mulher Maravilha e Capitã Marvel como produtos expoentes de um cinema que não é universal, mas atravessado por marcadores econômicos, culturais e políticos, é possível que percebamos que a extensão alcançada pelo debate valorativo sobre representação em torno deles é no mínimo curiosa, afinal, representatividade para quem e a partir de quem? De qual lugar (geográfico, cultural, subjetivo) de fala? Por que, dentre tantos filmes protagonizados por mulheres, ou que tenham personagens femininas “fortes”, interno inclusive ao próprio cenário brasileiro, são estes o que mais angariam engajamento do público, mundo afora, para analisar e celebrar seus personagens? Quais inquietações em torno de temas ligados à raça e padrões de beleza? Por que os estúdios hollywoodianos resolveram apostar em personagens super-heroínas? Essas são algumas perguntas que nos estimulam a investigar as operações simbólicas da recepção nacional dos filmes.
    Nossa proposta visa analisar textos críticos específicos e parte da reflexão sobre o protagonismo feminino no cinema e em como esses discursos possibilitam compreender quais sentidos são socialmente compartilhados neles. Integram nosso recorte discursos valorativos coletados em publicações digitais de variados formatos (weblogs e sites de críticas) elaborados por autores brasileiros.
    A análise se baseia, nos pressupostos teóricos de pesquisadoras que, nos estudos de cinema, tensionam a questão de gênero, seja adotando-a como categoria analítica, seja investigando a experiência receptiva. Consideramos os estudos contextualistas explorados por Janet Staiger (2000; 2005) que compreende que os diferentes modos de recepção relacionam-se às condições históricas específicas, moldadas por processos interpretativos que escapam às análises imanentistas dos textos. Dessa forma, os textos aqui examinados são vistos como instâncias de recepção cujos vestígios apontam caminhos interpretativos de leituras sociais dos filmes.
    Entenderemos a representação midiática feminina a partir das contribuições de diferentes abordagens que refletem sobre o tema, como a Jackie Stacey (2009), para observar como as mulheres entendiam a representação das estrelas de Hollywood dos anos 1940 e 1950 explorando três processos adotados pelas espectadoras: consumo, identificação e escapismo; Teresa de Lauretis (1987) e sua conceituação sobre as diferentes tecnologias sociais que constroem o conceito de gênero (Tecnologias de Gênero); e, ainda, nos parece relevante revisitar as formulações de Laura Mulvey (1983) para perceber como seu paradigma se aplica nesses exemplos mais contemporâneos.
    Nos apoiaremos ainda, em uma reflexão sobre como os personagens femininos de super-heróis se transformaram em importantes chaves de leituras para lutas atuais sobre gênero, raça e sexualidade (Cocca, 2016). Historicamente sub-representados e estereotipados, as super-heroínas tornaram-se mais numerosas nas telas, porém, não em condições de paridade com os heróis masculinos.
    Por fim, pensamos que essas recorrências de temas vinculados à ideia de gênero e representação, inscritas nos textos, emergem de um contexto de negociação entre os grandes estúdios e o público receptor.

Bibliografia

    COCCA, Carolyn. Superwomen: Gender, Power and Representation. New York: Bloomsbury Academic, 2016.

    LAURETIS, Teresa de. Technologies of Gender: Essays on Theory, Filme and Fiction. Bloomington: Indiana University Press, 1987.

    LAURETIS, Tereasa de. A tecnologia do gênero. In: HOLLANDA, H. B. de. Tendências e impasses. O feminismo como crítica da cultura. Rio de Janeiro: Rocco, 1994.

    MULVEY, Laura. “Prazer Visual e Cinema Narrativo”. In XAVIER, Ismail. (org.) A Experiência do Cinema. Col. Arte e Cultura, no 5. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1983.

    STAIGER, Janet. Perverse spectators: the practices of film reception. N.Y: New York University Press, 2000.

    STAIGER, Janet. Media Reception Studies. New York: New York University Press, 2005.

    STACEY, Jackie. Star Gazin: Hollywoody cinema and the female spectatorship. New York: Routledge, 2009.