Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Magda Rosí Ruschel (Unisinos)

Minicurrículo

    Magda Rosí Ruschel é graduada em Publicidade (1985), em Psicologia Social (2003), mestre (2008) e doutora (2017) em Ciências da Comunicação pela Unisinos. É docente nos cursos de Publicidade, Comunicação digital e Produção fonográfica, na mesma instituição. Atuou em produtoras de áudio e vídeo e em clínicas de psicologia.Tem experiência na área dos estudos do audiovisual com ênfase no desenho do som, interfaces sonoras, e comportamento do consumidor.

Coautor

    Cybeli Almeida Moraes (Unisinos)

Ficha do Trabalho

Título

    O silêncio em Gravidade

Resumo

    Ensaia-se sobre a produção do efeito de silêncio no filme Gravidade (2013), de Alfonso Cuarón, problematizando o silêncio como um construto da tecnocultura de aspecto visuauditivo. Entende-se o cinema como um dos espaços nos quais a relação entre tecnologias e imaginários se estreita, e realizam-se dois tipos de análises – a primeira, focada na percepção de simultaneidade e códigos de silêncio; e a segunda, baseada em protocolos infonográficos.

Resumo expandido

    Ensaia-se sobre a produção do efeito de silêncio na expressão sonora do filme Gravidade (2013), de Alfonso Cuarón, problematizando o silêncio como um construto em imagens fílmicas na perspectiva da tecnocultura (FISCHER, 2013) e do aspecto “visuauditivo” (CHION, 1991). Entende-se especialmente o cinema como um dos espaços nos quais a relação entre tecnologias e imaginários se estreita, e tendo em vista o impactante e premiado desenho de som de Gravidade, justificam-se a escolha do objeto empírico e das duas análises propostas – a primeira, focada na percepção de uma ideia de simultaneidade e nos códigos de silêncio; e a segunda, baseada em protocolos infonográficos que permitem inscrever os materiais sonoros em diagramas – como contribuições para os (ainda escassos) estudos sobre o silêncio no audiovisual, especialmente sobre o que parece ser uma construção singular do design de som, com seus autoenganos e trapaças (FLUSSER, 2007).
    Passamos a conhecer, através de colagens, visões de mundos cinematográficos, mundos que permitem tratar o som como fenômeno passível de ser cortado e separado, reproduzido de forma independente do objeto físico que o gerou como estímulo, ou a fonte em uma cena de cinema torna-se também manipulável como modelos de comportamento num efeito que aponta para o “som interior” junto a conceitos de montagem. (EISENSTEIN, 2002). Após as análises, pode-se afirmar que o desenho de som de Gravidade é um compósito que tem como guia sônico os efeitos de um “estofamento” do corpo-escuta dos personagens. A movimentação da presença deles no espaço sideral é produzida com muitos efeitos sonoros, contrastando com a ideia de silêncio absoluto, no seu próprio lugar de vácuo, como sendo o vazio e o finito. Tal modelo de construção introduz o trabalho de um complexo projeto acústico, de uma mixagem com a qual somos afetados pelo conjunto de sons móveis, imobilizados em estruturas básicas de imagens em movimento em cada sequência de cenas. O construto de planeta Terra funciona sonoramente como uma esfera ressonante com efeitos de muita pressão de ar comprimido, como código imagético de um silêncio cheio de tubos pelos quais aereamente viajam informações mais ou menos distantes.
    Para Bordwell e Thompson (1995) cada acontecimento sonoro tem lugar e padrão específico, e implica vinculá-los no tempo e combiná-los em um movimento determinado. Segue-se ao encontro de ressonâncias na experiência com as imagens sonoramente desenhadas de Gravidade o pensamento de Flusser (2007, p.110), ao creditar que na atual cultura do design, “[…] começamos a ficar conscientes de que toda a cultura é uma trapaça, de que somos trapaceiros trapaceados, e de que todo envolvimento com a cultura é uma espécie de auto-engano”. Portanto, as análises realizadas trazem uma “[…] análise estrutural e um ‘mapa’ da nossa condição”. Assim, questiona-se, ao final das observações registradas, sobre as maneiras por meio das quais o silêncio “falsifica” o som do universo. Admitimos que esse processo técnico de decompor as camadas sonoras nos levou a reconhecer, que “[…] nadamos no oceano de sons, e ele nos penetra enquanto nos confrontamos com o mundo das imagens, enquanto esse mundo nos circunda”. (FLUSSER, 2007, p. 109).
    Finalizamos considerando, então, que a observação de Gravidade propõe aos estudos do audiovisual, a nosso ver, uma topologia singular no contexto do design de som, sugerindo uma leitura da construção imagética das tecnologias do silêncio e no que elas impulsionam para produzir sentidos distintos de pontuação do som e de imagens, que emitem contrapesos semelhantes e ajudam a abranger o solo em que pisamos. Seja sob a prerrogativa da análise técnica do inaudível ou de seu entendimento como ruído sonoro, o silêncio tecnoculturalmente construído em imagens fílmicas segue desafiando o entendimento sobre como, porque e com que sentido ou função ali se insere.

Bibliografia

    BORDWELL, David; THOMPSON, Kristin. El arte cinematográfico: una introducción. Buenos Aires: Paidós, 1995.
    CABRERA, Julio. O cinema pensa: uma introdução à filosofia através dos filmes. Rio de Janeiro: Rocco, 2006.
    CHION, Michel. Audio-vision on screen. New York, Columbia University Press, 1991.
    DELEUZE, Gilles. A imagem-tempo. São Paulo: Brasiliense, 2005.
    DUBOIS, Philippe. Cinema, vídeo, Godard. São Paulo: Cosac Naify, 2011.
    EISENSTEIN, Serguei. A forma do filme. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002.
    FERRAZ, Sílvio. Música e repetição. São Paulo: Educ, 1998.
    FISCHER, Gustavo Daudt. Tecnocultura: aproximações conceituais e pistas para pensar as audiovisualidades. In: KILLP, Suzana; FISCHER, Gustavo Daudt (Orgs.). Para entender as imagens: como ver o que nos olha? Porto Alegre: Entremeios, 2013.
    FLUSSER, Vilém. O mundo codificado: por uma filosofia do design e da comunicação. São Paulo: Cosac Naif, 2007.