Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Ruy Cézar Campos Figueiredo (UERJ)

Minicurrículo

    Doutorando em Tecnologias da Comunicação e Cultura pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, mestre em Artes e Processos de Criação: Poéticas Contemporâneas pela Universidade Federal do Ceará, Bacharel em Audiovisual e Novas Mídias pela Universidade de Fortaleza.

Ficha do Trabalho

Título

    Descolonização do pensar e das infraestruturas Na Maré Profunda

Seminário

    Cinemas pós-coloniais e periféricos

Resumo

    Doutorando em Tecnologias da Comunicação e Cultura pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, mestre em Artes e Processos de Criação: Poéticas Contemporâneas pela Universidade Federal do Ceará, Bacharel em Audiovisual e Novas Mídias pela Universidade de Fortaleza.

Resumo expandido

    Artistas e pesquisadores têm, recentemente, propulsionado uma onda de atenção crítica sobre relações entre cultura de rede e infraestruturas midiáticas. Essa propulsão não se dá ao acaso e tem trago contribuições importantes para que se possa complexificar camadas ainda pouco exploradas da experiência midiática contemporânea, fomentando respostas e, melhor, novas perguntas às questões que têm se lançado ao se perscrutar relações entre mídia e tecnologia na contemporaneidade a partir de um foco infraestrutural.

    A maior liberdade especulativa e metodológica no fazer artístico possibilita que esses incidam sobre os assuntos que abordam desde perspectivas peculiares, invocando não apenas as linhas lógicas de um texto escrito para produzir conhecimento, mas também outras affordances epistemológicas que estão embutidas nas práticas artísticas contemporâneas. O conhecimento que se fermenta na teia de relações vetorizadas em um trabalho de arte a tornam uma área onde o conhecimento pode brotar escapando da mera objetividade e linearidade científica.

    Nesse sentido, situa-se aqui a videoinstalação Na Maré Profunda (Deep Down Tidal), da artista franco-guianense Tabita Rezaire, que nos últimos anos viveu e desenvolveu sua poética na África do Sul. Alguns trechos da vídeoinstalação serão destacados para se dialogar com autores relacionados aos estudos de mídia e pós-colonialismo, atravessando temas como a água como uma mídia elemental, discussões que envolvem animismo, epistemologia, descolonização e a infraestrutura de cabos submarinos. No Brasil, tal obra esteve exposta na exposição Campos de Invisibilidade, que ocorreu entre o final de 2018 e o início de 2019 no Sesc Belenzinho, em São Paulo, com curadoria de Cláudio Bueno e Lígia Nobre, e na qual fui curador assistente.

    A comunicação pretende abordar o trabalho de Rezaire explicitando primeiramente sua forma de explorar a estética da arte pós-internet através de uma estética que invoca elementos de afrofuturismo; em seguida, espera-se levantar discussões que evocam relações entre oceano, animismo, epistemologia e pensamento midiático; para enfim tentar compreender a significância e a relevância de se discutir uma descolonização das infraestruturas midiáticas a partir de uma perspectiva artística.

    A abordagem de Rezaire está pautada em uma perspectiva em que a materialidade dos objetos e dos elementos são reconhecidos enquanto agentes, dotados de ânimo, isto é, de uma animação vitalizante, provendo a atividade e os sentidos vitais à percepção e à comunicação, sem se tratar de algo como alma, espírito ou consciência humana, mas de ânimo enquanto base de uma epistemologia relacional que descreve os valores do animismo na habilidade de intercomunicação entre diversos elementos, um relacionamento interdependente com o mundo material, o qual inclui mesmo as infraestruturas de telecomunicação e a própria arquitetura da rede digital. Em alguns aspectos, converge e pode ser o sintoma de algo próximo ao que Felinto (2018b, p. 160) chama de “virada objetual […] propugnada por vários autores nos mais diferentes fronts intelectuais”.

    A genealogia do pensamento articulado por Rezaire, todavia, inclui diretamente a influência de sua ancestralidade africana e um desejo de produzir uma diversidade maior de olhares desde essa ancestralidade para a posição que a África pode ter em questões envolvendo mídia e tecnologia na contemporaneidade. Em outros termos, seu trabalho nos provoca a pensar como as tecnologias de comunicação, digitais ou não, são percebidas, desafiadas e afetadas pelas culturas africanas, históricas ou contemporâneas. Isso envolve, como falado reiteradamente por Rezaire, questões relacionadas aos sistemas de conhecimento, pré ou pós-coloniais, e a exploração de como diferentes culturas desdobram distintos modos de engajamento com as tecnologias.

    Analisando elementos de sua obra, dimensiona-se aspectos pouco refletidos sobre distribuição de dados e poder colonial.

Bibliografia

    BORCK, Cornelius. Animism in the Sciences Then and Now. e-flux Journal #36. 2012. [https://www.e-flux.com/journal/36/61266/animism-in-the-sciences-then-and-now/]. 2012
    BRAUN, Leslie. Cyber Siren: What Mami Wata reveals about the Internet and Chinese presence in Kinshasa. Canadian Journal of African Studies/La Revue canadienne des études africaines. 2015
    BRISTOW, Tegan. Post African futures: positioning the globalized digital within contemporary African cultural and decolonizing practices. Critical African Studies,
    Vol. 9, No. 3, 281–301. 2017
    FELINTO, Erick. Oceano digital: imaginário marinho, tecnologia e identidade em Vilém Flusser. Galaxia (São Paulo, online), ISSN 1982-2553, n. 39, set-dez., p. 110-123. 2018.
    GARUBA, Harry. On Animism, Modernity/Colonialism, and the African Order of Knowledge: Provisional Reflections. e-flux JournaL
    SARDAR, alt.civilization.faq: cyberspace as the darker side of the west. In Z. Sardar and J. R. Ravets (Eds.) Cyberfutures. 1995