Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    MAURICIO VASSALI (PUCRS)

Minicurrículo

    Doutorando no Programa de pós-graduação em Comunicação Social da PUC-RS, onde pesquisa o cinema brasileiro. É graduado em Cinema e Audiovisual pela UFPel (2018). Atuou como curador na sala universitária Cine UFPel (2015-2018), é membro da Associação de críticos de cinema do RS (ACCIRS) e colabora como crítico no site calvero.org.

Ficha do Trabalho

Título

    O Cine UFPel e a promoção da cinefilia a partir do cinema brasileiro

Seminário

    Exibição cinematográfica, espectatorialidades e artes da projeção no Brasil

Resumo

    O trabalho examina a difusão da cinefilia nas salas de cinema universitárias. Para tal, a delimitação está na curadoria no Cine UFPel, e nos longas-metragens brasileiros exibidos entre os anos de 2015 e 2018. A pesquisa contempla a perspectiva das estratégias curatoriais, do cineclubismo e da cultura da cinefilia. A diversidade de obras e a reflexão intercontextual são sugeridas como principais potências da promoção de tal cultura.

Resumo expandido

    De maneira paralela ao circuito comercial, as salas de cinema universitárias costumam oferecer uma programação diferenciada no que tange os formatos narrativos e de produção de filmes exibidos. Além disso, operam de maneira semelhante aos cineclubes, não apenas por, em geral, não visarem lucro, mas principalmente pelas funções que desempenham, incluindo a compreensão do cinema como valor artístico, a formação pelo compartilhamento de experiências, a interação com outras instâncias da comunidade e a promoção de um modelo de consumo audiovisual alternativo (MACEDO, 2010). Dado que o número de cursos de cinema cresceu no país nos últimos anos, totalizando 87 cursos de graduação em instituições públicas e privadas (RIBEIRO et al, 2016), cresceu também o número de salas universitárias e a necessidade de estudos que contemplem tal modalidade de difusão audiovisual. É neste contexto que se insere o Cine UFPel, sala de cinema que integra a Universidade Federal de Pelotas e é objeto de estudo deste trabalho. Operado integralmente por alunos bolsistas e professores dos cursos de Cinema da universidade, a sala contempla o cinema brasileiro em sua programação, sempre gratuita e aberta para a comunidade. Além de estreias semanais escolhidas pela equipe da sala, acontecem também no Cine UFPel a atividade de cineclubes, mostras e exibições em parceria com outras entidades como a ABRACCINE e o SESC. As obras são exibidas sob autorização de distribuidoras e realizadores, que aprovam as sessões gratuitas em datas e horários definidos previamente. Com o intuito de investigar seu potencial de promoção da cinefilia a partir da curadoria, este trabalho levantou apenas longas-metragens brasileiros exibidos em estreias, espaço onde o Cine opera com total independência, desde a fundação da sala em 2015 até o mês de agosto de 2018. Do total de 91 trabalhos, 27.5% foram dirigidos por mulheres, número que supera os 20.4% relativo ao total de produções guiadas por diretoras no país (ANCINE, 2016). Além disso, apenas oito longas tiveram exibição no circuito comercial de Pelotas. Ou seja, mais de 90% dos filmes exibidos eram inéditos na cidade. Ao separar as obras por local, 12 estados foram representados (AM, BA, CE, DF, MA, MG, PB, PR, PE, RJ, RS e SP). Tais dados vão ao encontro das diretrizes curatoriais da sala, principalmente aquela que diz respeito a descentralização geográfica de produções. Além desta, outras três pistas criativas para curadoria em salas universitárias são sugeridas por Langie (2017), incluindo inovação narrativa, compartilhamento da noção do dispositivo e representações que driblam clichês e apresentam outras realidades que não aquelas expostas pelo discurso hegemônico. Estas três últimas categorias curatoriais foram analisadas sob a ótica do autor, um dos responsáveis pela curadoria da sala durante o referido período. No processo curatorial, discussões acerca do juízo de valor de obras foram levantadas e sugestões da comunidade foram acatadas conforme disponibilidade de distribuidoras parceiras. Na organização da programação, o contato com outras entidades da comunidade se deu a partir de debates e bate-papos pós-sessão. A história do cinema foi revisitada em estreias que resgatavam a cinematografia brasileira e conversas foram travadas a partir de críticas publicadas acerca de tais trabalhos. A atividade tocou o cerne da ideia de cinefilia proposta por Baecque (2016). Para ele, mais que apenas assistir aos filmes, discutir sobre eles é fator essencial. A reflexão, que inclui a crítica, a história do cinema e a própria recepção dos cinéfilos, é sua marca específica. Sem excluir a experiência individual, a manifestação da cinefilia se dá em ações coletivas através de redes organizadas de onde partem debates intercontextuais que aspiram à alteridade. Enquanto sala universitária, é clara a necessidade e força do Cine UFPel em atingir cinéfilos em potencial, simpáticos à arte e por vezes carentes de certa luz em suas escolhas.

Bibliografia

    ANCINE. Anuário Estatístico do Cinema Brasileiro 2016. Disponível em: goo.gl/f3ynTg. Acesso em 19 mai 2018.
    BAECQUE, Antoine. Cinefilia. São Paulo: Cosac & Naify, 2010.
    LANGIE, Cintia A. Cinema brasileiro para além do espetáculo: pistas para uma curadoria criativa em cinemas universitários. Revista Orson, Pelotas, n.12, out. 2017. Disponível em: goo.gl/Gd1b2L. Acesso em 25 jun 2018.
    MACEDO, Felipe. Cineclube e autoformação do público. In:ALVES, Giovanni e MACEDO, Felipe. Cineclube, cinema & educação. Londrina: Praxis, 2010.
    RIBEIRO, Danielle C. L. et al. Mercado audiovisual e formação profissional: O perfil dos cursos superiores em Cinema e Audiovisual no Brasil. UFSCar/Forcine. 2016. Disponível em: goo.gl/JTwDLZ. Acesso em 22 jun 2018.