Ficha do Proponente
Proponente
- MAURICIO VASSALI (PUCRS)
Minicurrículo
- Doutorando no Programa de pós-graduação em Comunicação Social da PUC-RS, onde pesquisa o cinema brasileiro. É graduado em Cinema e Audiovisual pela UFPel (2018). Atuou como curador na sala universitária Cine UFPel (2015-2018), é membro da Associação de críticos de cinema do RS (ACCIRS) e colabora como crítico no site calvero.org.
Ficha do Trabalho
Título
- O Cine UFPel e a promoção da cinefilia a partir do cinema brasileiro
Seminário
- Exibição cinematográfica, espectatorialidades e artes da projeção no Brasil
Resumo
- O trabalho examina a difusão da cinefilia nas salas de cinema universitárias. Para tal, a delimitação está na curadoria no Cine UFPel, e nos longas-metragens brasileiros exibidos entre os anos de 2015 e 2018. A pesquisa contempla a perspectiva das estratégias curatoriais, do cineclubismo e da cultura da cinefilia. A diversidade de obras e a reflexão intercontextual são sugeridas como principais potências da promoção de tal cultura.
Resumo expandido
- De maneira paralela ao circuito comercial, as salas de cinema universitárias costumam oferecer uma programação diferenciada no que tange os formatos narrativos e de produção de filmes exibidos. Além disso, operam de maneira semelhante aos cineclubes, não apenas por, em geral, não visarem lucro, mas principalmente pelas funções que desempenham, incluindo a compreensão do cinema como valor artístico, a formação pelo compartilhamento de experiências, a interação com outras instâncias da comunidade e a promoção de um modelo de consumo audiovisual alternativo (MACEDO, 2010). Dado que o número de cursos de cinema cresceu no país nos últimos anos, totalizando 87 cursos de graduação em instituições públicas e privadas (RIBEIRO et al, 2016), cresceu também o número de salas universitárias e a necessidade de estudos que contemplem tal modalidade de difusão audiovisual. É neste contexto que se insere o Cine UFPel, sala de cinema que integra a Universidade Federal de Pelotas e é objeto de estudo deste trabalho. Operado integralmente por alunos bolsistas e professores dos cursos de Cinema da universidade, a sala contempla o cinema brasileiro em sua programação, sempre gratuita e aberta para a comunidade. Além de estreias semanais escolhidas pela equipe da sala, acontecem também no Cine UFPel a atividade de cineclubes, mostras e exibições em parceria com outras entidades como a ABRACCINE e o SESC. As obras são exibidas sob autorização de distribuidoras e realizadores, que aprovam as sessões gratuitas em datas e horários definidos previamente. Com o intuito de investigar seu potencial de promoção da cinefilia a partir da curadoria, este trabalho levantou apenas longas-metragens brasileiros exibidos em estreias, espaço onde o Cine opera com total independência, desde a fundação da sala em 2015 até o mês de agosto de 2018. Do total de 91 trabalhos, 27.5% foram dirigidos por mulheres, número que supera os 20.4% relativo ao total de produções guiadas por diretoras no país (ANCINE, 2016). Além disso, apenas oito longas tiveram exibição no circuito comercial de Pelotas. Ou seja, mais de 90% dos filmes exibidos eram inéditos na cidade. Ao separar as obras por local, 12 estados foram representados (AM, BA, CE, DF, MA, MG, PB, PR, PE, RJ, RS e SP). Tais dados vão ao encontro das diretrizes curatoriais da sala, principalmente aquela que diz respeito a descentralização geográfica de produções. Além desta, outras três pistas criativas para curadoria em salas universitárias são sugeridas por Langie (2017), incluindo inovação narrativa, compartilhamento da noção do dispositivo e representações que driblam clichês e apresentam outras realidades que não aquelas expostas pelo discurso hegemônico. Estas três últimas categorias curatoriais foram analisadas sob a ótica do autor, um dos responsáveis pela curadoria da sala durante o referido período. No processo curatorial, discussões acerca do juízo de valor de obras foram levantadas e sugestões da comunidade foram acatadas conforme disponibilidade de distribuidoras parceiras. Na organização da programação, o contato com outras entidades da comunidade se deu a partir de debates e bate-papos pós-sessão. A história do cinema foi revisitada em estreias que resgatavam a cinematografia brasileira e conversas foram travadas a partir de críticas publicadas acerca de tais trabalhos. A atividade tocou o cerne da ideia de cinefilia proposta por Baecque (2016). Para ele, mais que apenas assistir aos filmes, discutir sobre eles é fator essencial. A reflexão, que inclui a crítica, a história do cinema e a própria recepção dos cinéfilos, é sua marca específica. Sem excluir a experiência individual, a manifestação da cinefilia se dá em ações coletivas através de redes organizadas de onde partem debates intercontextuais que aspiram à alteridade. Enquanto sala universitária, é clara a necessidade e força do Cine UFPel em atingir cinéfilos em potencial, simpáticos à arte e por vezes carentes de certa luz em suas escolhas.
Bibliografia
- ANCINE. Anuário Estatístico do Cinema Brasileiro 2016. Disponível em: goo.gl/f3ynTg. Acesso em 19 mai 2018.
BAECQUE, Antoine. Cinefilia. São Paulo: Cosac & Naify, 2010.
LANGIE, Cintia A. Cinema brasileiro para além do espetáculo: pistas para uma curadoria criativa em cinemas universitários. Revista Orson, Pelotas, n.12, out. 2017. Disponível em: goo.gl/Gd1b2L. Acesso em 25 jun 2018.
MACEDO, Felipe. Cineclube e autoformação do público. In:ALVES, Giovanni e MACEDO, Felipe. Cineclube, cinema & educação. Londrina: Praxis, 2010.
RIBEIRO, Danielle C. L. et al. Mercado audiovisual e formação profissional: O perfil dos cursos superiores em Cinema e Audiovisual no Brasil. UFSCar/Forcine. 2016. Disponível em: goo.gl/JTwDLZ. Acesso em 22 jun 2018.