Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Marcela de Souza Amaral (UERJ)

Minicurrículo

    Marcela Amaral é Doutora em Artes pela UERJ. O foco de sua pesquisa é o Realismo no cinema contemporâneo, incluindo questões correlatas sobre mise-en-scène e narrativa, e particularmente o conceito de “Realismo de Confronto”, desenvolvido ao longo da pesquisa de doutorado. Como professora em Cinema, atuou nas áreas de Direção Cinematográfica, Edição e Montagem, Efeitos Especiais e outras, na UFF, UNESA, Instituto Infnet e no curso Darcy Ribeiro. Atua ainda como diretora de TV, na Rio TV Câmara.

Ficha do Trabalho

Título

    Estratégias de escrita de roteiro no “Realismo de Confronto”

Resumo

    O artigo propõe investigar as estratégias empregadas no desenvolvimento dos roteiros dos filmes Boyhood (Richard Linklater, 2014) e Entre os muros da Escola (Laurent Cantet, 2008), que utilizam elementos da realidade pró-fílmica como fonte para a elaboração de suas narrativas e personagens. Essa estratégia estaria no centro do que identificamos como “realismo de confronto”, que contrapõe formas de representação e reprodução da realidade; permitindo a produção de fortes questionamentos ao real.

Resumo expandido

    O artigo propõe investigar os processos de produção do realismo em dois filmes, onde o os métodos de roteirização e conjuntamente, a construção dos personagens, se dá de forma contínua, desde a preparação até o fim das filmagens; permitindo com isso, um distinto “aproveitamento” da realidade pró-fílmica. Boyhood (Richard Linklater, 2014) é uma produção de doze anos, durante os quais elenco e equipe se reuniam uma ou duas vezes por ano para as filmagens, enquanto o roteiro ia sendo desenvolvido. A narrativa fílmica passava então a aproveitar particularmente as mudanças físicas dos atores para as histórias dos personagens. Entre os muros da Escola (Laurent Cantet, 2008) ganhou forma a partir de workshops com os atores (não profissionais), escolhidos entre os estudantes de uma escola pública, e que ajudaram a compor os personagens fictícios com elementos das suas experiências de vida; contudo, nenhum deles interpreta a si mesmo. Em ambos os casos, constata-se a “justaposição” entre os processos de criação e produção, promovendo um “deslocamento” da etapa de roteirização, uma vez que ela só é completada durante as gravações, ou mesmo posteriormente. Observa-se ainda e fundamentalmente, que esses filmes operam uma forma de realismo que permite a abertura em suas narrativas para a imprevisibilidade do “evento de verdade” (NAGIB, 2011) da realidade pró-fílmica. Identificamos esta forma de realismo, como um “realismo de confronto”, pois ela resumiria o conjunto de estratégias que permite aos filmes colocar em “confronto” atores e personagens, realidade e ficção, narrativa e evento; com o possível intuito de promover uma forma de realismo com um nível distinto daquele produzido pelas estratégias clássicas da ficção; ou por recursos apenas documentais. Assim, este artigo busca compreender o possível intuito desses filmes de, através de mecanismos de produção de um realismo baseado no confronto entre os âmbitos representativos e reprodutivos da realidade, produzir uma forma de realismo que se traduza em um potente questionamento ao real.

Bibliografia

    Referências bibliográficas:
    BADIOU, A. Being and Event, translated by Oliver Feltham. Londres/Nova York: Continuum, 2006.
    _______. Ética: um ensaio sobre a consciência do mal. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1995.
    MARGULIES, Ivone. Nothing happens: Chantal Akerman’s hyperrealist everyday. Durham: Duke University Press, 1996.
    ______ (Ed.). Rites of realism: essays on corporeal cinema. Durham; Londres: Duke University Press, 2003.
    NAGIB, Lúcia. World cinema and the ethics of realism. Nova York/Londres: Continuum, 2011.