Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Rodrigo Cazes Costa (UFF)

Minicurrículo

    ui graduação em Direito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1999), graduação em Cinema pela Universidade Estácio de Sá (2003), mestrado em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2008) e doutorado em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2012). Atualmente é professor adjunto II da Universidade Federal Fluminense. Tem como projeto de pesquisa os gêneros cinematográficos no cinema brasileiro contemporâneo.

Ficha do Trabalho

Título

    As boas maneiras e os gêneros cinematográficos no cinema brasileiro

Resumo

    Por meio da análise do longa metragem As boas maneiras, de Juliana Rojas e Marco Dutra, investigamos como as referências aos gêneros cinematográficos (terror, musical) podem servir tanto para abordar questões da sociedade brasileira contemporânea, como o racismo e a desigualdade social, quanto para buscar um uso dessas referências que não esteja nem na chave da paródia nem do pastiche, fazendo uma operação que, ao final, também dilui as fronteiras entre cinema de autor-cinema de gênero.

Resumo expandido

    A questão dos gêneros no cinema é algo que existe sem, muitas vezes, nos darmos conta das complexidades envolvidas em torno dessas classificações. A princípio parecem classificações muito simples e óbvias, mas elas podem originar vários problemas teórico. A nossa referência teórica para a investigação da questão dos gêneros será a teoria semântico-sintática de ALTMAN (1984), assim como a revisão e ampliação dessa teoria, efetivada por ALTMAN (1999), que expande a proposição semântico-sintática para uma pragmática, que leva em consideração variados aspectos da construção de um gênero cinematográfico por meio de posições discursivas adotadas tanto pelos produtores dos filmes quanto pelo público que recebe esses filmes, posições essas que podem ser encontradas também no material de divulgação dos filmes e na crítica. A questão dos gêneros narrativos para o cinema está intimamente ligada a um modelo de produção industrial que teve na Hollywood Clássica o seu exemplo paradigmático. No cinema brasileiro, apesar dos esforços de algumas empreitadas como a Atlântida (não por acaso associada ao gênero da chanchada), Vera Cruz, Maristela, Multifilmes e o ciclo de produção da Boca do Lixo paulistana, nunca se conseguiu estabelecer de fato um modelo de produção industrial que possibilitasse ao cinema brasileiro ter a mesma produção baseada em gêneros conforme o modelo hollywoodiano. Outro aspecto que merece ser analisado nessa relação com o cinema de gênero no cinema brasileiro é o debate em torno do cinema de autor. O cinema brasileiro, a partir, principalmente, do Cinema Novo, passa a estar como que dividido entre duas frentes: numa das frentes se produziria um cinema cujo ideal estético seriam os filmes autorais, sendo Glauber Rocha o símbolo do autor no cinema nacional. Na outra frente estaria o cinema industrial, popularesco, simbolizado pelo gênero das chanchadas. É bom lembrar que Glauber Rocha as elege como inimigas em seu Revisão Crítica do Cinema Brasileiro, chegando até mesmo a chamá-las de pornografia (ROCHA, 2003). Essa divisão entre um cinema mais “autoral” e de “qualidade” e outro cinema de fatura mais popular, ligado aos gêneros, irá prevalecer nos anos 1970 e 1980, quando, de um lado, há as produções da Embrafilme, que representariam mais esse primeiro tipo de cinema e, de outro, as produções da Boca do Lixo paulistana, que estariam alinhadas ao segundo tipo. Esse debate ainda permaneceu quando houve a “retomada” do cinema brasileiro nos anos 1990, onde se buscou produzir um cinema de “qualidade técnica e artística”. Esses dois campos opostos no cinema brasileiro, cinema autoral x cinema de gênero (popular), começam a ganhar novos contornos a partir dos anos 2000, quando há um interesse renovado pela produção do Cinema Marginal, assim como pela produção do cinema da Boca do Lixo. O cinema brasileiro contemporâneo buscaria, então, diluir a dicotomia instalada com força desde o Cinema Novo entre um cinema de fatura autoral e um cinema popular que dialoga diretamente com as convenções de gêneros como terror, policial, suspense,comédia, etc. Um exemplo paradigmático de como a diluição dessas duas linhas de força ocorre no cinema brasileiro contemporâneo se dá por meio da produção dos cineastas Marco Dutra e Juliana Rojas. Dentro da produção de curtas e longas realizadas pela dupla ou por um dois dois sozinhos escolhemos analisar o longa-metragem As boas maneiras por ser um filme que sintetiza as marcas de estilo da produção desses cineastas: traz um forte diálogo com os gêneros terror e musical, oriundos do cinema clássico hollywoodiano, adicionando elementos da cultura brasileira e sem utilizar da paródia ou do pastiche; busca, ao mesmo tempo em que trabalha a intertextualidade típica do cinema de gênero, refletir sobre problemas da sociedade brasileira contemporânea, buscando, assim, trazer temáticas mais ligadas ao cinema de autor, buscando quebrar a rigidez dessa distinção.

Bibliografia

    ALTMAN, R. Film/genre. BFI, 1999.
    ___________. A Semantic/Synthatic approach to film genre. Cinema journal, vol. 23, no.3, University of Texas, 1984.
    BORDWELL, D. O cinema clássico hollywoodiano: normas e princípios narrativos: RAMOS, F.P (Org.). Teoria contemporânea do cinema vol. 2. São Paulo, SENAC, 2005.
    DUTRA, M. Entrevista à revista RUA, Revista universitária do audiovisual,15 de dezembro de 2011, www.rua.ufscar.br/o-lencol-branco-marco-dutra-e-juliana-rojas-usp-2002/. Visualizada em 24/01/2019.
    OLIVEIRA Jr. L.C. A mise en scène no cinema-do clássico ao cinema de fluxo. Campinas, Papirus, 2013.
    ROCHA, Glauber. Revisão crítica do cinema brasileiro. São Paulo, Cosac & Naify, 2003.
    ROSE, S. How post-horror movies are taking over cinema. London, The Guardian, 6/07/2017, visualizado em 24/01/2019: www.theguardian.com/film/2017/jul/06/post-horror-films-scary-movies-ghost-story-it-comes-at-night.
    VANOYE. F; GOLIOT-LÉTÉ. A. Ensaio sobre a análise fílmica. Campinas, Papirus, 2012.