Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Vanessa Cordeiro Marques (PUC)

Minicurrículo

    Vanessa Marques é mestranda em Literatura, Cultura e Contemporaneidade do departamento de Letras da PUC-Rio. Sua pesquisa investiga o processo de montagem no filme As Mil e Uma Noites do cineasta português Miguel Gomes. Possui graduação em Comunicação Social – Jornalismo (2002). Atua como realizadora, pesquisadora, pós-produtora e professora de finalização audiovisual.

    Em 2015, dirigiu e montou o curta metragem Uma Viagem à Cidade das Canções, exibido no Festival CineMúsica de Conservatória.

Ficha do Trabalho

Título

    O processo de montagem em Redemption, uma ficção por arquivos.

Resumo

    Este texto busca perceber, partindo do curta-metragem Redemption (Miguel Gomes, 2013), como a obra lida com o processo de montagem a partir da apropriação de imagens de arquivo e da criação de textos ficcionais para pensar as questões políticas e históricas da Europa. Em que medida, através de elementos heterogêneos de montagem e um atravessamento entre a realidade e a ficção, o filme produz o dissenso (no sentido de Jacques Rancière) fazendo pensar as relações entre estética e política.

Resumo expandido

    O filme Redemption é construído a partir de imagens de arquivo e da leitura de quatro cartas apresentando traços da intimidade de pessoas aparentemente anônimas.

    No decorrer das narrações, assistimos a uma pluralidade de imagens coloridas e em preto e branco de situações familiares, de rituais, de aglomeração de pessoas nas ruas, exposição da natureza e de animais domésticos e selvagens, demonstrando variações da vida pública e privada, relacionadas, supostamente, ao ambiente daqueles personagens. Ao final do filme, temos acesso à identidade dos autores das cartas e entendemos que se trata de uma obra ficcional.

    Os textos lidos foram criados por Miguel Gomes – diretor do filme – e Mariana Ricardo – parceira do cineasta desde dezoito anos de idade – e revelam a “falsa” intimidade de Pedro Passos Coelho, Silvio Berlusconi, Nicolas Sarkozy e Angela Merkel, englobando assim quatro políticos importantes da Europa Ocidental – Portugal, Itália, França e Alemanha. Ainda que as correspondências tenham um aspecto íntimo e ficcional, as datas citadas estão relacionadas a acontecimentos públicos na vida dos retratados, acentuando a relação estabelecida entre a realidade e a ficção, uma característica marcante nos filmes do diretor.

    Redemption foi pensado durante o processo de realização do longa metragem Tabu (2012), quando Gomes ainda não sabia se poderia filmar em Moçambique, local escolhido para o romance dos personagens Aurora e Ventura, lançando o autor na busca pelo acervo de imagens pessoais para fabular o universo amoroso do casal como hipótese narrativa. Ao realizar a pesquisa de arquivo, Gomes relata que se sentiu “atraído pelas imagens de super 8. Têm qualquer coisa de fantasmagórico, de um cinema primitivo também” .

    As imagens pesquisadas não foram utilizadas em Tabu, já que o Gomes pôde gravar na África, mas serviram ao produto final do Workshop ministrado pelo diretor no centro de formação artística e audiovisual Le Fresnoy – Studio National des Arts Contemporains – , na França. Além de acompanhar os alunos na construção de um filme, os professores do curso são convidados a realizar também uma obra cinematográfica. Redemption foi o resultado desse convite, tendo, assim, um caráter pedagógico relevante na construção de um filme especificamente de montagem e por suas características elementares de recombinação de sons e imagens, aspecto fundamental dessa análise.

Bibliografia

    ADELAAR, Samuel. “Miguel Gomes’ Redemption and the Multiple Lives of the Moving Image.” www.academia.edu/17584669. Acesso em 22 maio 2017.
    AGAMBEN, Giorgio. Profanações. São Paulo: Boitempo, 2007.
    BENJAMIN, Walter. N – Teoria do conhecimento, teoria do progresso. In: Passagens. Belo Horizonte. Ed. UFMG, 2009.
    DELEUZE, Gilles. Cinema II: a imagem-tempo. São Paulo: Brasiliense, 1990.
    DIDI-HUBERMAN, Georges. Imagens, apesar de tudo. Lisboa: KKYM, 2012.
    LEANDRO, Anita. Desvios de Imagens. Brasília: E-compós, v.15, n.1, jan/abr.2012.
    MACHADO, Arlindo. O quarto iconoclasmo e outros ensaios hereges. Rio de Janeiro: Rios Ambiciosos, 2001.
    RANCIÈRE, Jacques. O dissenso. In: A crise da razão. Organizado por Adauto Novaes São Paulo: Companhia das Letras, 1996.
    REVEL, Jacques. Micro-história, macro-história: o que as variações de escala ajudam a pensar em um mundo globalizado.