Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Juliano José de Araújo (UNIR)

Minicurrículo

    Juliano José de Araújo é doutor em Multimeios pela Universidade Estadual de Campinas com estágio doutoral na Université Paris X-Nanterre. É mestre em Comunicação pela Universidade Estadual Paulista, onde se graduou em Comunicação Social/Jornalismo. É professor do Departamento de Comunicação Social/Jornalismo da Universidade Federal de Rondônia. Coordena o projeto de pesquisa “Documentarismo rondoniense: análise de filmes de não-ficção (1997-2013)”, aprovado na Chamada Universal CNPq nº 01/2016.

Ficha do Trabalho

Título

    A representação do conflito socioambiental no documentário rondoniense

Resumo

    A comunicação analisa a representação do conflito socioambiental decorrente do garimpo no documentário Os requeiros (1998, Lídio Sohn e Pilar de Zayas Bernanos), de Rondônia. Problematiza a relação entre a ideologia desenvolvimentista do Estado e a degradação ambiental, discutindo as estratégias fílmicas empregadas pelos realizadores, além de se considerar o potencial dos recursos audiovisuais como processos discursivos alternativos à história oficial.

Resumo expandido

    A Amazônia tem passado, no decorrer da história, por vários “surtos devassadores”, todos relacionados à expansão capitalista mundial. Esse processo de devassamento da Amazônia – iniciado ainda no século XVI com a busca pelas drogas do sertão, passando pelo ciclo da borracha no final do século XIX e início do XX, e pelas frentes agropecuárias e minerais provenientes do Nordeste, a partir de 1920 – acentuou-se com os programas e projetos capitaneados pelo governo militar após o golpe de 1964, tendo em vista que a ocupação da região tornou-se prioridade para o Estado nesse período (ARBEX JÚNIOR, 2005; BECKER, 2015).
    Algumas ações empreendidas pelos militares na Amazônia foram o Programa de Integração Nacional (PIN), que teve como objetivo a extensão da malha rodoviária e a implantação de projetos de colonização oficial, lançado em 1970; o Programa de Polos Agropecuários e Agrominerais da Amazônia (Poloamazônia), de 1974 e que tratou da elevação do rebanho, melhoria de infraestrutura urbana e mineração; e o Programa Integrado de Desenvolvimento do Noroeste do Brasil (Polonoroeste), projeto de 1981 para a pavimentação da BR-364, que liga Cuiabá a Porto Velho, e promoção da colonização em Rondônia (BECKER, 2015).
    “Integrar para não entregar” e “Terras sem homens para homens sem terras” foram os slogans criados no âmbito do PIN e alardeados pela propaganda governamental, tendo em vista que a proposta do Estado era ocupar um espaço considerado como suposto “vazio demográfico”, ignorando totalmente as populações que ali já habitavam. Isso fez com que a região se tornasse cenário de inúmeros conflitos socioambientais envolvendo, de um lado, os povos indígenas, os seringueiros e os ribeirinhos e, de outro, uma multidão de migrantes provenientes do Nordeste e Sul do Brasil, em conjunto com grandes empreendimentos capitalistas, notadamente com a entrada do capital do exterior e nacional do Sudeste (BECKER, 2015; KITAMURA, 2017).
    Nesse contexto, este trabalho pretende discutir a representação do conflito socioambiental no âmbito da produção audiovisual de não-ficção de Rondônia. Para tanto, o documentário rondoniense Os requeiros (1998), do casal de realizadores Lídio Sohn e Pilar de Zayas Bernanos, foi escolhido como corpus. A história do garimpo Bom Futuro, em Ariquemes, município do interior de Rondônia, é o tema desse documentário, que mostra como era a vida dos requeiros – os garimpeiros que trabalham manualmente – antes da chegada das grandes empresas mineradoras e da intervenção do governamental no garimpo, o que gerou muitos conflitos. Com a crescente dificuldade da extração da cassiterita, aos poucos o garimpo foi se desfazendo e os requeiros indo embora. O que antes abrigou mais de 20 mil pessoas, em 1997, só registrava 1.500, deixando uma grande área devastada.
    Tendo como como metodologia a análise fílmica (AUMONT e MARIE, 2009), a partir do diálogo entre elementos internos (imagem, som etc.) e externos (como uma entrevista com a cineasta Pilar de Zayas Bernanos) ao documentário, procura-se refletir sobre a representação fílmica (NICHOLS, 2016; RAMOS, 2008) feita pelos realizadores do conflito socioambiental, tão presente no cotidiano da região, problematizando a relação entre a ideologia desenvolvimentista do Estado e a degradação ambiental (BECKER, 2015; KITAMURA, 2017). Busca-se também pensar as estratégias empregadas pelos realizadores na construção dessa narrativa audiovisual, tais como os testemunhos através de entrevistas e depoimentos, o uso de imagens de arquivo e o comentário em voz over, além de se considerar o potencial dos recursos audiovisuais como processos discursivos alternativos à história oficial (FERRO, 2010).

Bibliografia

    ARBEX JÚNIOR, José. “Terra sem povo, crime sem castigo. Pouco ou nada sabemos de concreto sobre a Amazônia”. In: TORRES, Maurício (Org.). Amazônia revelada: os descaminhos ao longo da BR-163. Brasília: CNPq, 2005.
    AUMONT, Jacques e MARIE, Michel. A análise do filme. Lisboa: Edições Texto & Grafia, 2009.
    BECKER, Bertha. As amazônias de Bertha K. Becker: ensaios sobre geografia e sociedade na região amazônica. Volume 2. Rio de Janeiro: Garamond, 2015.
    BERNANOS, Pilar de Zayas. Depoimento. [18 de julho, 2018]. Florianópolis. Entrevista concedida a Juliano José de Araújo.
    FERRO, Marc. Cinema e história. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2010.
    KITAMURA, Elisabeth Kimie. Cinema e educação: o conflito socioambiental na representação fílmica de Adrian Cowell. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2017.
    NICHOLS, Bill. Introdução ao documentário. 6ª ed. Campinas: Papirus, 2016.
    RAMOS, Fernão Pessoa. Mas afinal… o que é mesmo documentário? São Paulo: Senac, 2000.