Ficha do Proponente
Proponente
- Cesar de Siqueira Castanha (UFPE)
Minicurrículo
- Doutorando e mestre em Comunicação e graduado em Comunicação Social – Jornalismo pela Universidade Federal de Pernambuco.
Ficha do Trabalho
Título
- O espaço em cena nos filmes de drama da RKO Radio Pictures
Resumo
- Analiso três filmes produzidos pela RKO Radio Pictures – Escravos do Desejo (1934), Fuga do Passado (1947) e Alma em Pânico (1953) – para pensar sua representação dos espaços cênicos. Busco investigar as recorrências e especificidades de suas encenações do espaço levando em conta não apenas as relações entre os filmes, mas também as materialidades do espaço fílmico, também considerando e problematizando o conceito de “lugar” no cinema como trabalhado por Elena Gorfinkel e John David Rhodes.
Resumo expandido
- Quando Joe, o personagem de Paul Valentine em Fuga do Passado (dir. Jacques Tourneur, 1947), chega a uma pequena cidade a procura de Jeff, proprietário de uma oficina de automóveis interpretado por Robert Mitchum, muito do que o filme tematiza é colocado em cena pela caracterização e apresentação dos espaços fílmicos. A cidade pequena como oposição ao espaço urbano, o café pouco movimentado como uma evidência daquela comunidade: o espaço fílmico, assim, situa, ambienta e está dado como um conjunto de cenários.
Busco investigar a recorrência dessa encenação do espaço fílmico como cenário, procurando reconhecer as especificidades cinematográficas dessa representação do espaço e as continuidades (e descontinuidades) estabelecidas com outros modos de encenação visual e representação de espaços cênicos. Para isso, analiso três filmes de drama da RKO Radio Pictures, considerando que a trajetória da produtora, que dura de 1928 a 1957, tipifica o cinema clássico e os diversos gêneros das primeiras décadas do cinema falado hollywoodiano (JEWELL, 2012), o que me permite pensar uma coerência tecnológica e formal que atravessa os filmes. Assim, os filmes analisados são Escravos do Desejo (dir. John Cromwell, 1934), Fuga do Passado e Alma em Pânico (dir. Otto Preminger, 1953).
Os filmes escolhidos são também todos filmes de drama que agenciam alguns outros gêneros cinematográficos, como o romance e o film-noir. Entendendo que o gênero “fornece um método de base histórica para estabelecer ‘semelhanças familiares’ entre filmes produzidos e lançados sob circunstâncias amplamente diferentes” (LANGFORD, 2005, p. 1) e que, assim, possibilita compreender tanto uma coerência do conjunto quanto a sua diversidade de estilos e formas fílmicas, invisto em um exercício comparado para reconhecer as recorrências e as diferenciações das encenações do espaço por esses filmes, tomando a comparação como uma ferramenta que “busca as alteridades de um texto” (SOUTO, 2016).
O exercício de comparação pretendido, no entanto, não se limita a uma associação estabelecida entre os filmes, no que busco também relacionar a representação do espaço nesses filmes a uma ontologia dos espaços fílmicos, no que as materialidades do espaço fílmico se diferenciam das materialidades de outros espaços cênicos. Questiono, portanto, como se define o espaço fílmico e, mais especificamente, como esse espaço é encenado pelos filmes em questão? Desse modo, parto inicialmente do texto “A janela do cinema e a identificação”, de Ismail Xavier (2005), que discute uma ruptura do espaço cinematográfico com o espaço teatral dada pela presença virtual do que está fora de quadro nos espaços fílmicos, e também do texto “Presenting objects, presenting things”, de Alice Rayner (2006), em que a autora problematiza a presença de objetos postos em cena no teatro. Aproximar-me de ambos os textos me permite tratar de maneira mais tensiva a encenação dos espaços fílmicos e sua relação com outros espaços cênicos.
Na introdução ao livro Taking Place: Location and the Moving Image, Elena Gorfinkel e John David Rhodes (2011) se referem inicialmente à tomada de atenção ao lugar no cinema como um fenômeno em que o que está ao fundo toma o primeiro plano, “constituindo uma experiência de lugar através da imagem em movimento”. Aqui, considero também uma tomada de lugar na representação fílmica dos espaços. A expectativa, tratada por Gorfinkel e Rhodes, de que os filmes sejam representativos de lugares, porque foram eles produzidos e filmados em dados lugares, deve ser problematizada como parte da leitura desses espaços fílmicos.
Com esta apresentação, busco complexificar uma leitura dos espaços fílmicos dados como resolvidos pela tipicidade de uma caracterização cênica submetida à narrativa. Trabalho, por fim, com a hipótese de que esses filmes colocam em cena espaços midiáticos que estão também em tensão com sua função representativa, produzindo uma outra espacialidade, para além do lugar representado.
Bibliografia
- GORFINKEL, Elena (Ed.); RHODES, John David (Ed.). Taking place: location and the moving image. [E-book]. Minneapolis: University of Minnesota Press, 2011.
JEWELL, Richard B. RKO Radio Pictures: a titan is born. [E-book]. Berkeley e Los Angeles: University of California Press, 2012.
LANGFORD, Barry. Film genre: Hollywood and beyond. Edimburgo: Edinburgh University Press, 2005.
SOUTO, Mariana. Infiltrados e invasores: uma perspectiva comparada sobre as relações de classe no cinema brasileiro contemporâneo. 2016. Tese (Programa de Pós-graduação em Comunicação Social) ⸺ Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte.
RAYNER, Alice. Presenting objects, presenting things. In: KRASNER, David (Ed.); SALTZ, David Z. (Ed.). Staging Philosophy: intersections of Theater, Performance and Philosophy. Ann Arbor: The University of Michigan Press, 2006.
XAVIER, Ismail. O discurso cinematográfico: a opacidade e a transparência. São Paulo: Paz e Terra, 2005.