Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Vivian Malusá (Paris 8)

Minicurrículo

    Mestranda na Universidade Paris 8 em “Cinema – Valorização de Patrimônios Cinematográficos e Audiovisuais”, com intercâmbio na Univ. de Bolonha, Itália. É graduada em Imagem e Som – UFSCar e mestre em Multimeios – Unicamp, foi coordenadora do setor de difusão da Cinemateca Brasileira. Participou do programa de aprimoramento profissional Courants du Monde, do Ministério da Cultura da França, em Paris, trabalhou com as equipes da Cinemateca Francesa e do Festival Il Cinema Ritrovato.

Ficha do Trabalho

Título

    A Jornada Brasileira de Cinema Silencioso e os festivais italianos.

Resumo

    Esta comunicação, no campo de festivais de filmes de acervo, discute práticas de programação da Jornada Brasileira de Cinema Silencioso (2007/12), realizada pela Cinemateca Brasileira, sob a luz de modelos italianos de festivais, encabeçados pelo Il Cinema Ritrovato, de Bologna, e as Giornate del Cinema Muto di Pordenone. Ambos foram criados na década de 80 e foram pioneiros em alguns aspectos, como o uso da programação como vitrine dos trabalhos de suas instituições e da preservação de filmes.

Resumo expandido

    Na década de 1980, na Itália, foram criados dois festivais de filme de acervo, que logo se tornaram os principais do gênero, em nível mundial: as Giornate del Cinema Muto (1982), jornadas promovidas pela Cineteca del Friuli, que acontecem em Pordenone e que apresentam filmes silenciosos, e Il Cinema Ritrovato (1986), cujo foco são filmes “redescobertos”. Ambos trouxeram consigo o arcabouço da questão patrimonial.
    A partir da década de 90, esses festivais se tornaram referência para a criação de muitos outros festivais e eventos que, além de exibir filmes raros, silenciosos, preservados ou restaurados – dependendo de suas curadorias mais específicas -, tinham como uma das características celebrar os filmes de patrimônio e o campo da preservação cinematográfica, a exemplo de CinéMémoires, Festival Lumière, Zoom Arrière, na França, Crazy Cinématographe, em Luxemburgo, San Francisco Silent Film Festival, nos EUA, entre outros.
    Entre 2007 e 2012, a Cinemateca Brasileira promoveu a Jornada Brasileira de Cinema Silencioso. Em linhas gerais, o evento contava com 10 dias de programação intensa com exibição de filmes silenciosos (com/sem acompanhamento sonoro ao vivo), palestras, mesas de debates, exposições, lançamentos de livros, entre outras atividades, a depender da edição. Embora houvesse muitas particularidades, a programação da Jornada se aproximava do formato dos dois eventos italianos.
    Os pesquisadores Francesco di Chiara e Valentina Re apontam para a necessidade de aprofundamento em uma historiografia do cinema que pense os festivais como um campo autônomo de pesquisa, que seja capaz de examinar como as estratégias empregadas por eles – sua estrutura, programação, materiais de divulgação, catálogos, mesas redondas, ou mesmo as características de seu público – puderam e podem impactar os caminhos teóricos da história do cinema.
    Marie Frappat, pesquisadora que tem se debruçado sobre temas relacionados às atividades de cinematecas e arquivos de filmes, batizou de “escola bolonhesa” de restauração os trabalhos realizados na cidade de Bolonha, na Itália, no campo do patrimônio cinematográfico. Segundo a autora, a escola é estruturada em três bases: o que ela chama de trabalhos da cinemateca como local de conservação e difusão, o laboratório, e a academia. Pode-se substituir por: Cineteca di Bologna, laboratório L’immagine ritrovata – em Bolonha, apesar do laboratório ser ligado à Cineteca, ele presta serviços a outras cinematecas e distribuidoras, sendo bastante independente dos trabalhos gerais da própria cinemateca -, e o departamento de cinema da Universidade de Bolonha, cujo embasamento e proposições teóricas foram fundamentais principalmente em um primeiro momento do festival.
    Em um momento da história em que a exibição digital nas salas de cinema substituiu em grande medida a projeção de filmes em película, estes festivais de filmes de arquivo buscam manter e valorizar o trabalho relacionado à preservação fílmica e o acesso aos filmes da forma mais próxima a que foram concebidos. Esses eventos são oportunidades para o arquivo olhar para sua coleção com ainda maior atenção, percebendo necessidades maiores de conservação e de restauração, descobrindo e divulgando pérolas, investigando e tomando decisões curatoriais.
    Ao observar de perto da programação de tais festivais, percebe-se que as ações de preservação de uma cinemateca impulsionam a difusão de filmes e ações de difusão impulsionam a conservação, modificando de vez a “dicotomia histórica” para um outro paradigma, onde difunde-se para preservar e preserva-se para difundir.
    Esta comunicação tem como objetivo levantar pontos de aproximação entre a programação da Jornada Brasileira de Cinema Silencioso e os eventos italianos supracitados, analisando suas edições sob a perspectiva de que as atividades contemplavam, de maneira concentrada, todas as missões de uma cinemateca: enriquecer a coleção, preservar (catalogação, conservação e restauração) e dar acesso.

Bibliografia

    DI CHIARA, Francesco e RE, Valentina. Film Festival/Film History: The Impact of Film Festivals on Cinema Historiography. Il cinema ritrovato and beyond. Cinémas : revue d’études cinématographiques, disponível em http://www.erudit.org/revue/cine/2011/v21/n2-3/1005587ar.html, acesso em 12 set. 2014.
    FRAPPAT, Marie. L’« école bolonaise » de restauration des films. HABIB, André e MARIE, Michel (org.). : L’avenir de la mémoire – Patrimoine, Restauration, Réemploi Cinématographiques. Villeneuve d’Ascq, Presses Universitaires du Septentrion, 2013, p. 39-46.
    ROBINSON, David. Entrevista a Danielle Crepaldi Carvalho. Significação, São Paulo, v. 45, n. 49, p. 252-264, jan-jun. 2018.
    SOUZA, Carlos Roberto – Curador da Jornada Brasileira de Cinema Silencioso (I a V). Entrevista a Vivian Malusá por e-mail, 13 de fev. 2017.
    USAI, Paolo Cherchi, FRANCIS, David, HORWATH, Alexander, LOEBENSTEIN, Michael (org). Film curatorship: archives, museums and the digital marketplace. Viena, Synema, 2008.