Ficha do Proponente
Proponente
- Lucas Gadelha Parente (UFRJ)
Minicurrículo
- Doutorando em Linguagens Visuais na EBA-UFRJ. Dedica-se ao cinema e à escrita, além de desenvolver pesquisas voltadas para a história da arte, do cinema, das cidades e das religiões. Dentre seus trabalhos em vídeo e cinema se destacam Satan Satie ou Memórias de um Amnésico (2015), co-dirigido com Juruna Mallon e Calypso (2018), longa-metragem co-dirigido com Rodrigo Lima. Atualmente dirige o cineclube Urubu Cine, na Cinemateca do MAM-RJ, dedicado ao curta-metragem dos anos 1960 a 1980.
Ficha do Trabalho
Título
- A Corcina e a Lei do Curta: auge e crise do curta-metragem brasileiro?
Mesa
- História e preservação do curta-metragem brasileiro
Resumo
- Fundada no Rio de Janeiro em 1978, a CORCINA – Cooperativa dos Realizadores Cinematográficos Autônomos – realizou cinquenta curtas-metragens em cinco anos, distribuindo cerca de cem filmes em salas de cinema durante o período de implementação da Lei do Curta. Uma das maiores representantes do curta-metragismo brasileiro, a CORCINA se caracteriza pela afirmação político-econômica do curta-metragem e por seu caráter experimentador, realizando uma verdadeira antropologia poética da cidade.
Resumo expandido
- Há movimentos subterrâneos que permanecem excluídos da história oficial que funcionam como terremotos clandestinos, despontando inesperadamente décadas depois em novas cristalizações. É curioso como no Brasil, durante os anos 1970, há uma enorme produção de curtas-metragens assombrosos, em quantidade e qualidade, que se mantém raros em relações e análises levantadas por críticos, teóricos e historiadores do cinema nacional. Tal produção é extremamente germinativa, essencial para se pensar as transformações por que passará o cinema nacional nas décadas seguintes. Trata-se de um cinema caracterizado pela valorização de um formato alternativo, considerado menor, assim como por novos modos de produção, distribuição e exibição de filmes, com o extenso uso de câmeras e projetores de 16mm e Super8, permitindo a multiplicação de cineclubes pelo país.
O Cinema Alternativo não se plasmou em uma unidade de movimento, possuindo como característica estrutural seu próprio dinamismo, ponto de encontro que era entre várias tendências e movimentos políticos e artísticos. Surgiu como uma frente única do curta-metragismo, engendrando diálogos e contrapontos com relação ao Cinema Novo, ao Cinema Marginal e ao documentarismo de Thomas Farkas. Além do crescimento quase espontâneo de uma rede de cineclubes pelos estados, exibindo filmes apresentados em festivais e aqueles fornecidos pelos acervos das cinematecas criadas no Rio e em São Paulo, despontou, nos anos 1970, uma nova geração de realizadores que emergiu nos festivais de cinema amador, como a Jornada de Cinema da Bahia, dentre outros festivais de documentários. Inteiramente voltada para a exibição de curtas, a Jornada foi um verdadeiro caldeirão de discussões onde se fundou a Associação Brasileira de Documentaristas (ABD), com sede no Rio de Janeiro. A ABD tornou-se, então, um núcleo central de tensão entre o Cinema Alternativo e a Embrafilme, lutando para que se regulamentasse a distribuição de curtas-metragens.
Por volta de 1975 a ABD pressionou a Embrafilme para que se alterasse a regulamentação de distribuição e exibição de curtas-metragens. Surgia a Lei do Curta, posta em prática a partir de 1977, tornando obrigatória a exibição de um curta-metragem nacional antes de cada longa-metragem estrangeiro. Para aplicar-se à lei, o filme deveria possuir até 12 minutos e ser distribuído em 35mm. Não seria necessária uma nota de qualidade para que os filmes fossem distribuídos, e assim, curtas experimentais invadiram as salas do circuito comercial ao lado de curtas informativos. Cada curta exibido recebia 5% da bilheteria, sendo o dinheiro reinvestido em novas produções, isso gerou um novo sistema rentável para cineastas que se dedicavam ao curta-metragem. A lei também previa que cada produtora poderia enviar até 5 curtas a serem distribuídos por ano. Certas empresas começaram a rentar com o aluguel de tais vagas, recebendo dinheiro para enviar curtas de cineastas sem produtoras. Então, cineastas da ABD, dentre eles Sérgio Péo, Lúcio Aguiar, Sílvio Da-Rin, Sandra Werneck, Jorge Abranches, Pompeu Aguiar e Ivan Vianna, uniram-se para buscar uma solução jurídica que permitisse a distribuição de curtas de realizadores independentes. Optaram por fundar uma cooperativa de produtores e realizadores, a Cooperativa de Realizadores Cinematográficos Autônomos – CORCINA. Fundada no Rio de Janeiro em 1978, a CORCINA – Cooperativa dos Realizadores Cinematográficos Autônomos – realizou cinquenta curtas-metragens em cinco anos, distribuindo cerca de cem filmes em salas de cinema durante o período de implementação da Lei do Curta. A Uma das maiores representantes do curta-metragismo brasileiro, a CORCINA se caracteriza pela afirmação político-econômica do curta-metragem e por seu caráter experimentador, realizando uma verdadeira antropologia poética da cidade, temas da presente comunicação.
Bibliografia
- ALENCAR, Miriam. O cinema em festivais e os caminhos do curta metragem no Brasil. Rio de Janeiro: Ed. Artenova/Embrafilme, 1978.
Catálogo Dobra – Festival Internacional de Cinema Experimental, 2018.
MOURA, Roberto. “O curta na década de 1970”. Revista Cine Cachoeira, Ano II, n.3, 2012.